Cultivar Imperatriz está na última etapa para homologação

Anunciada em 2019, a variedade Imperatriz já ocupa metade da área de plantio de cevada dos cooperados da Agrária e apresenta bons resultados de malteação

Nos últimos anos, uma cultura específica tem ganhado destaque de diversas formas no cenário da agricultura guarapuavana. 

Com foco na produtividade e na qualidade e, agora, com surgimento de uma variedade, a cevada pode não liderar o Valor Bruto de Produção (VBP) de Guarapuava, mas figura entre os mais importantes cultivos do município.

A Cooperativa Agrária começou, junto a seus cooperados, o cultivo deste cereal ainda nos anos de 1970 e desde então vem trabalhando no crescimento da produção. Em 2019, a Fundação Agrária de Pesquisa Agropecuária (Fapa) anunciou a descoberta de uma nova variedade, a Imperatriz, fruto de mais de dez anos de pesquisa.

Em entrevista ao CORREIO, o engenheiro agrônomo Noemir Antoniazzi, que está à frente do programa de melhoramento genético da Fapa e que liderou o grupo de pesquisadores, falou sobre o processo que levou a cultivar à última etapa antes da homologação, duas características e o trabalho de inovação dentro da Fundação. 

“Temos duas linhas de pesquisa em cevada. Uma delas para o desenvolvimento de novas variedades de cevada cervejeira. E a outra linha de pesquisa é com relação ao desenvolvimento de tecnologias de cultivo no campo”, explica. 

Segundo ele, as áreas interagem entre si buscando o desenvolvimento de meios de combater as pragas, por exemplo, ou ainda, para a fertilidade do solo e mecanização agrícola. “É um conjunto de ações que culminam então como a indicação técnica de cultivo de cada uma das novas variedades que são desenvolvidas”, completa.

Essa interação entre áreas permitiu que a Fapa oferecesse, além da semente da nova variedade, toda uma tecnologia de manejo com o objetivo de potencializar a produtividade e, ao mesmo tempo, entregar um produto de qualidade para a indústria. 

IMPERATRIZ

A pesquisa que deu origem à cultivar começou em 2008 e levou menos tempo para o desenvolvimento do que em outras variedades já pesquisadas. 

“Nós conseguimos fazer gerações de inverno e verão, aumentamos, então, a intensidade de seleção e multiplicação e, com isso, os 15 anos que seriam necessários para desenvolver uma variedade, foram reduzidos. Em 12 anos nós estávamos já com a variedade no campo”, aponta o pesquisador Noemir.

O engenheiro agrônomo Noemir Antoniazzi – Foto: Arquivo/Correio

A partir da linhagem, os pesquisadores iniciaram a avaliação agronômica de campo, processo que levou três anos. Depois, ao perceberem o comportamento adequado e o destaque em relação às demais linhagens que estavam na mesma situação, passaram para a avaliação da qualidade da cevada, a parte qualitativa do processo onde são analisados o teor de proteínas, o tamanho e formato do grão além de outras características.

Na sequência, iniciou-se a etapa da avaliação da qualidade do malte. “Nós iniciamos esse processo de avaliação com uma amostra pequena dentro do nosso laboratório. E na etapa seguinte, nós fizemos essa mesma produção de malte, mas com 250 kg. Aí é uma maltaria experimental que nós temos e ela retrata fielmente o que acontece na maltaria industrial. Neste processo ela também foi bem sucedida. A qualidade desse malte foi igual ou superior às demais que já estamos cultivando”, relata Antoniazzi. 

Agora, a Imperatriz está na última etapa antes de sua homologação. Para isso é necessária a validação por parte da indústria de cerveja, com uma produção de malte com 250 toneladas. “Isso foi feito com base no plantio do ano passado. O plantio do ano passado gerou a cevada da Imperatriz, que nós já tínhamos 8% de área em 2020 e essa produção foi colhida em outubro, novembro deste ano de 2021 e foi industrializada”, destaca.

A Fapa aguarda agora a devolutiva da indústria quanto ao comportamento do malte da nova cultivar. No entanto, mesmo sem o resultado, a Cooperativa aposta na Imperatriz.  

“Esse ano de 2021 ela tem uma área considerável nos campos dos nossos cooperados, por volta de metade da área de plantio de cevada dos nossos cooperados é com a variedade Imperatriz”, afirma Noemir.

O que faz a cultivar se destacar em relação às demais é, conforme o Noemir Antoniazzi, sua maior tolerância em relação a doenças, principalmente das de folhas. Além disso, apresenta um aumento potencial e produtividade. “Ela está no campo produzindo em torno de 500 quilos a mais que as que a Danielle e Irina [outras cultivares]”.

INOVAÇÃO

“Nós experimentamos uma evolução tremenda nos últimos anos”, destaca Noemir em relação à genética de diferentes culturas. Mas em relação à cevada, ele comenta que no início da década de 1970, se produzia uma tonelada por hectare de cevada com uma qualidade abaixo daquilo que as cervejarias necessitavam. Passados quase 50 anos, a cevada cultivada em solo guarapuavano está em outro patamar Para ele, muito mais interessante em termos de respostas do campo frente às necessidades de qualidade da indústria.

“Hoje nós trabalhamos com potencial de média de produtividade dentro da Agrária de quatro toneladas e meia. Então é quatro vezes e meia acima daquilo que nós cultivamos há quase 50 anos. E essa mesma evolução teve na qualidade da cevada para matéria-prima da cerveja. E isso nós devemos a essas duas linhas de pesquisa, a da melhoria da genética por ação da seleção e avaliação, mas tudo isso associado às novas tecnologias de cultivo no campo. Eu não conheço nenhuma outra espécie aqui no Brasil que tenha experimentado e conseguido uma evolução tão significativa”, finaliza.

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