Vinil resgata gravações históricas da fase inicial da banda paulistana Ira!

Material raro reunido em Ira – “Demos 83-84”, lançamento da Três Selos e Nada Nada Discos, resgata fase em que a banda era formada por Nasi (voz), Edgard Scandurra (guitarra), Dino (baixo) e Charles Gavin (bateria); e ainda não tinha o ponto de exclamação no nome

Banda seminal da cena roqueira de São Paulo nos anos de 1980, com seu punk/mod, o Ira! ficou conhecido para fãs e crítica com Nasi (vocal), Edgard Scandurra (guitarra), Ricardo Gaspa (baixo) e André Jung (bateria) na chamada formação clássica.

Pelo menos, nos LPs/CDs de 1985 a 2007 quando a história chegou ao fim, em meio a brigas e confusões. Alguns anos depois, Nasi e Scandurra se reconciliaram e retomaram a banda com novos integrantes (Johnny Boy e Evaristo Pádua), fazendo shows e lançando o registro ao vivo “Ira! Folk” (2017) e o inédito de estúdio “IRA” (2020).

No entanto, antes da chegada de Gaspa e Jung lá atrás, a banda paulistana viveu uma fase inicial, ou seja, ainda sem o ponto de exclamação no nome, apresentações marcantes e gravações cruas. Nesse período, Nasi e Scandurra tinham a companhia do baixista Dino e do baterista Charles Gavin (que depois entraria para os Titãs). Vale lembrar que um pouco antes, Fábio Scattone, Adilson Fajardo e Victor Leite (todos hoje já falecidos) passaram pelo antigo Ira.

É justamente essa fase embrionária que a banda, junto de Três Selos e Nada Nada Discos, resgata no LP Ira – “Demos 83-84” (R$ 190), que chega ao mercado a partir de agosto deste ano. São demo-tapes (um tipo de gravação musical demonstrativa amadora) registradas pelo Ira! nos anos de 1983/84 com Nasi, Scandurra, Dino e Gavin.

O lançamento também está disponível no formato box, com LP duplo e material extra. Segundo informações, o conjunto pode ter um vinil transparente “sépia”, capa gatefold empastada, pôster 70×50 cm e livretos com fotos, textos e material iconografico da época.

Porém, o mais importante é o tracklist, verdadeira joia rara. No lado A, gravações perdidas de “Minha mente ainda é a mesma”, que seria aproveitada no primeiro disco-solo de Scandurra, “Amigos invisíveis”, em 1989; “Consciência limpa”; “Lei comum”.

Além de “Receita para se fazer um herói”, fechando a primeira parte do vinil. A versão mais conhecida dessa faixa é um misto de reggae/rock presente no experimental “Psicoacústica” (1988). À época, deu dor de cabeça para a banda em relação ao crédito da letra.

Já no lado B, “UTI”; “Nasci em 62”, cuja demo-tape já havia saído como faixa bônus do CD “Vivendo e não aprendendo”, além da gravação em “Clandestino” (1990) e da versão ao vivo (com Arnaldo Antunes) no garageiro “7” (1995).

Outra faixa com história interessante é “Homem palestino”, composição de Gavin. Anos depois, ele aproveitaria a canção para o repertório dos Titãs em “Cabeça dinossauro” (1986), mas com outro nome (“Estado violência”) e alterações na letra. “Escrevi quando ainda tocava no Ira!, na época ela se chamava ‘Homem palestino’. A versão final surgiu alguns anos depois, e foi baseada na prisão injusta do Arnaldo Antunes”, contou ao jornal Cândido.

Por sua vez, a provocativa “A fumaça é melhor que o ar”, sexta faixa do LP de resgate, ganharia a luz somente em 2003 quando a banda curitibana Relespública a gravou no clássico “As histórias são iguais” (2003). Nasi tem participação especial nos vocais.

E, por fim, o lado B tem ainda “Coração”; “Sonhar com quê?”; e “O dia, a semana, o mês”, aproveitada em versão ao vivo no álbum de estreia da banda, “Mudança de comportamento” (1985).

Capa ilustrativa do LP lançado pela Três Selos (Foto: Divulgação)

HISTÓRIA
Fundado em 1981 na cidade de São Paulo, o Ira! se consolidou a partir do momento que começou a gravar álbuns de estúdio com Jung e Gaspa, fechando um círculo de amizades, conforme apontou a revista Serafina em 2012, em texto assinado pelo jornalista, escritor e apresentador Cadão Volpato (ex-vocalista da oitentista Fellini). “A exclamação do nome foi sugestão do produtor Peninha Schmidt”, diz o texto.

A banda atravessou os anos de 1980, 90 e 2000, emplacando sucessos como “Flores em você”, “Envelheço na cidade”, “Núcleo Base” e “Gritos na multidão”; experimentações do tipo “Farto do rock n’ roll” e “Pegue essa arma”; e até mesmo incursão pela grife Acústico MTV, em 2004, com vendagens importantes a partir da regravação de canções como “O girassol” e “Eu quero sempre mais” ao vivo.

Paralelamente, o talentoso compositor e virtuose na guitarra Scandurra mergulhou na música eletrônica; e Nasi se entregou ao blues.

Em 2007, a banda terminou de maneira turbulenta, para retornar em 2014 em uma turnê nostálgica, sem Jung e Gaspa. Aliás, o baixista lançou o CD “The Bass Player”, cantando pela primeira vez em uma das faixas.

SERVIÇO
O disco Ira – “Demos 83-84” está em pré-venda no site da Três Selos.

*********Texto/pesquisa: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br

Deixe um comentário