Histórias do nosso futebol raiz no Paraná

A imagem de um campo com as linhas tortas na partida Cambé x ACP correu o Brasil nesta semana, somando-se ao anedotário do interior paranaense. Além desse caso, os gramados estaduais já testemunharam dirigentes folclóricos e figuras curiosas. Nesta reportagem especial, o CORREIO relembra alguns “causos”

O futebol paranaense perdeu no último domingo (22 novembro) Serafim Meneghel, um dos dirigentes mais conhecidos do interior. Ele tinha 88 anos.

Ele fez história à frente do hoje finado União Bandeirante, clube que representou a cidade de Bandeirantes (Norte Pioneiro) no Campeonato Paranaense. Mais do que isso, Serafim simbolizava o chamado “futebol raiz”, com histórias que entraram para o anedotário estadual.

Em uma delas, dizem que ele deu tiros em campo. Segundo o jornal Folha de Londrina, esse caso ocorreu em 1968, quando o time de Serafim lutava para não ser rebaixado em partida diante do Seleto. No final desse embate, pênalti contra o União. Furioso, o dirigente invadiu o gramado e houve muita confusão. Como não conseguia chegar perto do árbitro, teria sacado um revólver calibre 38 e atirado para o alto. Na hora, o pênalti virou tiro de meta.

Quis o destino que esse ex-cartola falecesse no mesmo dia em que mais um fato se somou ao folclore do futebol paranaense. Pela 3ª Divisão de 2020, Atlético Clube Paranavaí (ACP) e Clube Atlético Cambé (CAC) disputaram uma partida da 2ª rodada da 1ª fase.

O embate se deu no Estádio Mun. José Garbelini, em Cambé (Região Metropolitana de Londrina). Além da vitória do visitante (2 a 0 para o ACP), o que chamou mesmo a atenção era a demarcação do gramado. Ao invés de um círculo central no meio de campo, havia uma configuração meio oval, num trabalho sui generis. Sem contar que a linha que divide os dois lados de jogo deveria ser retinha. Deveria.

A imagem captada pela TV ACP correu o Brasil e o mundo, ganhando repercussão no jornal esportivo Olé (Argentina), que perguntou se o “el pintor estaba borracho?” (“bêbado”); e no portal ge (Globo Esporte). Sem contar também páginas e sites que cobrem o futebol interiorano.

Na súmula do jogo, o árbitro Wagner Malveiro Silva também destacou a irregularidade: “marcações do campo de jogo defeituosa, círculo central fora dos padrões”.

Sozinho na arquibancada do Estádio do Café, técnico Knário vai à loucura com a vitória de seu time (Foto: Reprodução/SportVídeo)

KNÁRIO
Mas o futebol do interior é cercado de mais histórias e figuras curiosas. Uma delas é o atual técnico da Portuguesa Londrinense. Em partida da 1ª rodada da 3ª Divisão deste ano, o treinador Walbert Martins “Knário” deu um show à parte na comemoração do gol da vitória de sua equipe.

Após seu goleiro Pinguim defender um pênalti aos 46 minutos do segundo tempo, a Lusa venceu o Cambé com um tento aos 52 min, em 18 de novembro, no Estádio do Café. Esses ingredientes deram dramaticidade à vitória em campo e também na arquibancada, onde Knário (suspenso) acompanhava a partida.

Sozinho, ele foi à loucura. Teve de tudo: gestos eufóricos, corrida sem camisa, agradecimento aos céus. Depois, mais calmo, ele desabafou ao canal SportVídeo, dizendo que seu time não era de “esquema” ou “pedágio”.

GEM
Voltando bastante no tempo, o município de Maringá (Noroeste) teve uma figura controversa: Nilton Cezar Servo (falecido em 2015), que foi deputado estadual e candidato a prefeito. No futebol, ele comandou o famoso Grêmio Maringá, entre 1995 e 1996.

Com base no livro “História do Futebol Profissional de Maringá” – do pesquisador Ortílio C. Vieira, o Tilinho, com Reginaldo Lima – e em suas memórias, o jornalista e diretor do Museu Esportivo de Maringá, Antonio Roberto de Paula, conta que em 1996, na 1ª fase da 2ª Divisão estadual, Servo demitiu o então técnico Almeida. O próprio cartola assumiu o comando do GEM, acumulando as duas funções.

Foram seis jogos, sem perder. Em seguida, na 2ª fase, o cartola alvinegro se “demitiu” e contratou o treinador Bugo. Mas o novo comandante ficou apenas dois jogos, tendo a volta de Servo nas partidas seguintes (uma vitória e uma derrota). Só que o presidente/técnico se autodemitiu pela segunda vez (rá!) e quem assumiu foi Coutinho (o mesmo da famosa dupla com Pelé no Santos).

Aliás, De Paula relembra que esse período foi um dos mais tristes da história do futebol profissional de Maringá. “Em 1995, foi uma tragédia. Aconteceram fatos absurdos”, diz, em entrevista ao CORREIO. Ele destaca que, hoje, esses fatos viraram folclore; mas, à época, marcou um momento terrível para quem vivia o Grêmio (torcedores, imprensa etc.).

Recentemente, outro presidente do Galo Guerreiro também assumiu o comando do time no Paranaense de 2017, após demissão do técnico Tupãzinho (ídolo corintiano). Engraçado que o demitido voltou no jogo seguinte, recontratado a pedido dos próprios jogadores.

Aliás, em 2017 o Grêmio chegou a ter dois presidentes ao mesmo tempo, em meio a um imbróglio judicial. Ambos montaram seus respectivos elencos e comissão técnica. Mas, no fim, apenas um deles disputou aquela edição da 2ª Divisão.

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