Estado nutricional de crianças pequenas e suas mães preocupa pesquisadores

Pesquisa inédita mostra que 10% das crianças brasileiras até 5 anos e mais da metade de suas mães biológicas estão acima do peso

Uma em cada dez crianças brasileiras de até 5 anos têm excesso de peso, condição que prejudica o crescimento e o desenvolvimento infantil e pode levar à ocorrência de doenças crônicas graves ao longo da vida, como problemas cardiovasculares, diabetes, hipertensão e câncer. O excesso de peso também foi registrado em mais da metade das mães biológicas com filhos nessa faixa etária: 58,5%.

Os dados inéditos serão divulgados pelo Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019) nesta terça-feira (8), às 15h, em webinário com transmissão ao vivo pelo canal no YouTube do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (INJC/UFRJ): www.youtube.com/injcufrj

“Chamamos de excesso de peso a combinação de sobrepeso e obesidade. Entre as crianças brasileiras menores de 5 anos, 7% apresentam sobrepeso e 3%, obesidade. Entre as mães biológicas de filhos nessa faixa etária, a prevalência de sobrepeso é de 32,2% e a de obesidade é de 26,3%”, explica o coordenador do ENANI-2019, Gilberto Kac, professor titular do INJC/UFRJ. Encomendada pelo Ministério da Saúde, a pesquisa avaliou 14.558 crianças e 12.155 mães biológicas em 12.524 domicílios brasileiros, em 123 municípios dos 26 Estados e no Distrito Federal.

O Enani-2019 mostra, também, que quase um quinto das crianças brasileiras de até cinco anos (18,6%) estão em uma faixa de risco de sobrepeso. “São crianças que precisam ser monitoradas de perto, porque a curva do ganho de peso para a idade já está superior ao recomendado pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Nesse estágio, ainda é possível intervir e melhorar o estado de saúde, evitando consequências de curto, médio e longo prazo”, complementa Kac.

O coordenador nacional do Enani-2019 ressalta que os resultados trazem evidências científicas atualizadas para a definição de políticas públicas de saúde. “Até então, os dados mais recentes sobre o estado nutricional antropométrico de mães e filhos de até 5 anos eram de 2006. De lá para cá o cenário mudou bastante. A prevalência de excesso de peso em crianças nessa faixa etária aumentou de 6,6%, em 2006, para 10%, em 2019. Entre as mães, o aumento foi de 43% para 58,6% no mesmo período”, aponta Kac.

ALTURA
Um dado surpreendeu os pesquisadores do enani-2019: 7% das crianças brasileiras de até 5 anos apresentam baixa estatura para idade. “A baixa altura para idade mostra que essas crianças sofreram restrições que prejudicaram o seu crescimento e o seu desenvolvimento. Esse quadro pode ser decorrente de infecções recorrentes e está relacionado ao baixo consumo de nutrientes, possivelmente associado à insegurança alimentar. A prevalência do indicador diminui conforme a faixa etária das crianças aumenta, o que sugere que a situação vem se agravando nos últimos anos”, explica Kac. De acordo com o estudo, a prevalência de baixa altura para idade é de 9% entre bebês de 0 a 11 meses e de 10,2% entre os de 12 a 23 meses. A frequência do problema é menor em crianças que nasceram até 2016: 6,5% na faixa etária de 2 a 3 anos, 5,8% entre 3 e 4 anos e 3,4% entre 4 e 5 anos.

SOBRE
O Enani-2019 é a primeira pesquisa com representatividade nacional a avaliar, simultaneamente, em crianças menores de 5 anos, práticas de aleitamento materno, alimentação complementar e consumo alimentar individual, estado nutricional antropométrico e deficiências de micronutrientes, incluindo as deficiências de ferro e vitamina A. Foram realizadas visitas domiciliares em 123 municípios brasileiros entre fevereiro de 2019 e março de 2020, totalizando 14.558 crianças menores de 5 anos.

O Enani-2019 foi encomendado pelo Ministério da Saúde e coordenado pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal Fluminense (UFF), com financiamento da Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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