Crônica: Músicas ao contrário
Confira a crônica de Rodrigo Alves de Carvalho, que é jornalista, escritor e poeta. Possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores
“Se você tocar o disco da Xuxa ao contrário, vai ouvir mensagens satânicas!” “Se tocar Stairway To Heaven da banda Led Zeppelin, vai ouvir mensagens subliminares” …
Sempre ouvi essas histórias de ouvir discos ao contrário, o que geralmente culminava em vozes do além que proferiam palavras do Tinhoso, ou mensagens maléficas de outro mundo.
Entretanto, nunca de fato tinha tentado rodar um disco de vinil ao contrário para verificar se esses boatos eram verdadeiros, ou não passavam só de falácias mesmos.
Decidi comprar um toca-discos para averiguar a veridicidade do assunto. O que me deu um imenso trabalho, já que hoje em dia toca-discos é um objeto de colecionador. Achei na Internet um daqueles toca-discos compactos, que parece uma pequena maleta, e ao abrir, a tampa é o alto falante, o que custou os olhos da cara. Depois, tive que procurar em alguns Sebos da região o famigerado disco da Xuxa e o classicão Led Zeppelin IV. Não deu tanto trabalho como outrora, mas os discos saíram bem carinhos para quem está acostumado a baixar músicas e álbuns de graça na Web.
Finalmente pude tirar a prova se realmente ao tocar esses discos ao contrário, alguma coisa de surreal iria ser proferida pela caixa monofônica do toca-discos oitentão.
Primeiro o disco da Xuxa… Ilarilarilariê (ô, ô, ô) … meti o dedo na bolachona e comecei a rodar no sentido anti-horário…
Se realmente aqueles zunidos e palavras misturadas com uma melodia rasgada fossem mensagem do além, estavam numa língua satânica mesmo, que só o diabo entendia, porque eu não entendi nada. Depois coloquei o disco do Led Zeppelin, mas quando os primeiros acordes de Stairway To Heaven começaram a tocar, não tive coragem de rodar o disco ao contrário. A música era muito linda… para que estragar?
Depois de ouvir outros discos que aproveitei e comprei no Sebo, como Amado Batista, Waldick Soriano, Nelson Gonçalves, Antônio Marcos e um discão de quase meio quilo da década de trinta da Aracy de Almeida, parei com essa história ridícula de ouvir mensagens satânicas e me apaixonei pelo vinil e principalmente, as músicas de antigamente, que em comparação com as músicas de hoje não tem nada de satânicas.
Muito pelo contrário. Dias desses parou um carro perto de casa com o som no talo tocando esse tal de Funk proibidão. Ao ouvir aquilo, me pareceu realmente estar nas profundezas do inferno, sendo torturado cruelmente por um demônio, recebendo estocadas nos ouvidos a cada batida, com lanças pontudas e ardentes perfurando o cérebro.
*****Autor da crônica: Rodrigo Alves de Carvalho. Ele nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores
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