Cirurgia para retirada de tumor cerebral pode ser feita com o paciente acordado

Em determinados casos, a neurocirurgia oncológica tem uma etapa em que se interage com o paciente enquanto se faz um mapeamento do cérebro, para se ter mais precisão e segurança na remoção do tumor

Em uma neurocirurgia realizada para remover um tumor no cérebro, há uma opção em que se pode realizar determinados procedimentos com a pessoa operada acordada. Este método, conhecido como craniotomia com paciente acordado, proporciona mais precisão e segurança ao remover o tumor cerebral sem o risco de lesar uma área saudável do cérebro, o que poderia trazer um déficit para o paciente.

Leo Ditzel Filho, médico neurocirurgião coordenador do serviço de neurocirurgia do Pilar Hospital, comenta que esse tipo de cirurgia não é feito corriqueiramente. É indicada para pacientes que têm um tumor cerebral em uma área do cérebro conhecida como eloquente, ou seja, uma área mais nobre do cérebro, que tem uma função bem específica. As duas indicações clássicas para esse tipo de cirurgia são para remover tumores próximos da área motora e da área da fala.

“A craniotomia com paciente acordado é utilizada nos tumores cerebrais primários, que surgiram do cérebro ou nas metástases cerebrais, que são tumores provenientes de outras partes do corpo, como câncer de pulmão, de mama ou de pele, em que essas doenças se espalham para o cérebro. O paciente acaba tendo um tumor cerebral que não se originou ali, mas está trazendo problemas para ele assim como os tumores primários o fazem”, explica.

Uma vez que se constata que o paciente tem um tumor acometendo uma área eloquente, ele passa por uma avaliação pré-operatória para saber se ele tem condições de ser acordado durante o procedimento (ele também deve estar disposto a isso). A cirurgia é feita em conjunto com a neurocirurgia, a anestesiologia e a neurofisiologia, com um planejamento entre essas três áreas.

POR QUE ACORDAR O PACIENTE?
Quando o neurocirurgião abre a meninge, deixando o cérebro exposto, o anestesista tira a sedação para acordar o paciente. Assim que ele acorda, o cirurgião faz uma estimulação na superfície do cérebro, próximo ao tumor, utilizando um pequeno eletrodo, enquanto o neurofisiologista interage com o paciente.

“Se eu estou trabalhando próximo da área da fala, o neurofisiologista conversa com o paciente, pergunta seu nome, vai mostrando figuras para ele identificar, dá contas matemáticas simples para o paciente raciocinar enquanto o neurocirurgião faz pequenos estímulos que visam bloquear aquela área cerebral. Ou seja, quando eu chego na área da fala, com o estímulo elétrico ali, o paciente vai mostrar uma disfunção da fala. Com isso, eu faço em tempo real um mapeamento da função motora e da função da fala. Assim, eu posso saber até onde eu posso remover o tumor com segurança”, explica Dr. Leo.

“O tumor é geralmente fácil de se identificar ou localizar, mas suas bordas são regiões mais delicadas, em que se tem o limite entre o tumor e o cérebro saudável. Nesse tipo de cirurgia, é possível distinguir com mais exatidão até onde vai o tumor, para que o cirurgião possa removê-lo com segurança sem lesar o paciente”, completa.

Com o mapeamento feito, o neurocirurgião pode dar início à remoção, que também é feita sob monitorização, em que o neurofisiologista interage com o paciente. Após a remoção, o paciente é sedado para que volte a dormir enquanto a cirurgia é finalizada.

No Pilar Hospital há ainda duas opções de técnicas disponíveis, que podem ser utilizadas nessa cirurgia. Uma delas é a de fluorescência, em que são utilizadas duas substâncias (fluoresceína sódica e o 5-ALA). São corantes que vão “pintar” o tumor na hora da cirurgia. “Temos um filtro especial no microscópio que nos mostra exatamente o que é tumor e o que é tecido cerebral saudável. É muito útil para mostrar as bordas do tumor”, explica o médico.

A outra técnica utilizada é a neuronavegação. A partir de dados do exame de tomografia pré-operatória do paciente, um aparelho faz uma reconstrução tridimensional de seu crânio “Em tempo real, ele consegue me dizer a localização do tumor. No Pilar Hospital, temos hoje o aparelho mais moderno do mercado, de última geração, um dos poucos existentes no Brasil. Ele também me permite saber em tempo real se eu retirei todo o tumor” comenta o médico, que desde 2015 realiza cirurgias para retirada de tumores cerebrais com essas técnicas no Serviço de Neurocirurgia e Neurologia do Pilar, que hoje é um dos poucos hospitais do Brasil a ofertar o procedimento de craniotomia com todo esse conjunto de opções.

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