Artigo – Academia e atuação profissional: uma conexão que precisa ser estabelecida

“Nos cursos das nossas áreas tecnológicas, nas Engenharias, Agronomia e Geociências, a formação precisa ser cada vez mais ampla”, trecho do artigo

“Quando os ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento” – Érico Veríssimo

Nos tempos em que eu era um jovem acadêmico, na década de 80, na Universidade Estadual de Londrina, lembro que meu contato com a Engenharia se dava a partir da teoria, atividades práticas de laboratório ou campo e conceitos aplicados no dia a dia das profissões, através dos fundamentais estágios. Hoje, a realidade dos centros de ensino mudou muito: nós, professores, precisamos ir além do conteúdo dos denominados componentes curriculares, para formar os profissionais do presente e do futuro, de forma a estarem alinhados com as demandas da sociedade e cada vez mais preparados para sua atuação profissional, para um mercado exigente e em contínua transformação. As exigências atuais vão desde a inovação até o empreendedorismo, por exemplo.

Nos cursos das nossas áreas tecnológicas, nas Engenharias, Agronomia e Geociências, a formação precisa ser cada vez mais ampla. É necessário também desenvolver nos futuros profissionais a capacidade de utilizar as habilidades comportamentais, as chamadas “soft skills”, conciliar razão e emoção, valorizar a empatia e a iniciativa própria de cada um e incentivar que os alunos pensem diferente do senso comum, remexam o mercado de trabalho, sejam agentes de transformação da sociedade, levando mais que o básico, alcançando patamares importantes de diferenciação.

Nesse sentido, percebo um movimento importante: em várias das nossas instituições de ensino, em universidades, centros universitários e faculdades do Paraná, o ensino do espírito empreendedor, que remete a metodologia da criação de startups, e até mesmo do intraempreendedorismo, onde incentiva-se o aluno para que ele traga ideias e seja proativo nos negócios, mesmo enquanto funcionário, já é presente. E é a partir disso que percebemos no mercado de trabalho, uma corrente cada vez maior de recém-formados inquietos, que buscam ir além do lugar comum e estão cansados da mesmice. São profissionais que nos desafiam e trazem questionamentos e ideias antes impensáveis. São pessoas que, dentro das suas realidades, aproveitaram o ensino tradicional, mas agregaram inovações importantes para que consigam fazer a diferença.

O ensino, hoje, não é apenas para ensinar… Ele deve ser um processo ativo de interação entre professores e acadêmicos, um ambiente rico para motivar, inspirar e impulsionar os jovens, futuros profissionais, para serem cada vez mais agentes inovadores e transformadores. Pensando nisso, temos provocado essa pauta no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR), com o objetivo de fomentar o ensino diferenciado e a agregação de ambientes inovadores de aprendizagem, com uso de tecnologias que permitam conviver com a importância fundamental do docente, mas possibilitam a introdução de atividades híbridas, presenciais e remotas. Temos trabalhado incansavelmente com professores, coordenadores de curso e acadêmicos, a fim de conciliar as demandas do ensino com as necessidades dos alunos, da sociedade e do mercado. Não podemos mais fechar os olhos para o ensino integrativo e baseado em problemas. Novas metodologias surgiram, o mundo mudou e a nossa realidade também está se transformando diariamente.

Finalizo com a reflexão da frase de abertura desse artigo: “Quando os ventos da mudança sopram, umas pessoas levantam barreiras, outras constroem moinhos de vento.”

Os importantes conhecimentos e conteúdos historicamente construídos e que trouxeram muitos bons profissionais nas nossas áreas de atuação ainda são muito importantes. Mas, ao mesmo tempo, as mudanças são muito bem-vindas, nos tiram da zona de conforto e nos impulsionam para buscarmos soluções, propormos eventos e integrarmos cada vez mais a academia com a realidade da atuação profissional. O ensino precisa, mais do que nunca, ser conectado, engajado e de resultado. Vamos aproveitar os bons ventos da mudança. Não há mais tempo para perdermos tempo.

*****Ricardo Rocha, presidente do Crea-PR

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