Mãe que matou filhos não demonstrou arrependimento, diz delegada do caso

De acordo com Ana Carolina Hass, da Polícia Civil de Guarapuava, a mulher teria premeditado o crime e, no período em que ficou com os corpos das crianças, buscou ‘estratégias de defesa’

A delegada Ana Carolina Hass de Miranda Castro, da Polícia Civil de Guarapuava, que está investigando o caso da mãe suspeita de matar os filhos de 3 e 10 anos, concedeu uma entrevista coletiva nesta terça-feira (30). O caso veio à tona no último sábado (27), quando duas crianças foram encontradas mortas em um apartamento no Centro de Guarapuava.

De acordo com a delegada, a suspeita afirmou que nunca passou por nenhum tratamento e nunca teve nenhum episódio de surto. Segundo Hass, a dinâmica dos fatos leva as autoridades a não acreditar nessa versão.

“Primeiramente ela teria premeditado esse crime e, posteriormente, ao passar cerca de 15 dias com as crianças, com os cadáveres das crianças, nós entendemos que ela passou esse tempo bolando estratégias de defesa ou até formas de se escusar, de achar desculpas para apresentar às forças policiais”, afirmou.

Ana Carolina também pontuou que a suspeita, durante o interrogatório oficial na delegacia, permaneceu em silêncio. Contudo, a mulher relatou informações aos agentes que prestaram atendimento à ocorrência. Na visão da delegada, “todas as informações repassadas para nós não revelam um grau de arrependimento, mas sim uma forma, mais uma vez, de bolar escusas ou justificar os atos que ela cometeu”.

Perguntada se esse é um caso comum dentro da crônica policial, a delegada afirmou que “não é a primeira e, infelizmente, não será a última vez” que algo assim ocorrerá.

“Mas o que choca é o fato dela ter permanecido com esses cadáveres, é isso que torna o caso mais assombroso. O que faz que nós sejamos levados a crer que de fato ela é uma pessoa fria, é difícil a gente imaginar, para qualquer situação, um ser humano permanecer com um cadáver de quem quer que seja no ambiente”, disse Ana Carolina, pontuando que o apartamento estava sujo de sangue, mas que a suspeita limpou a região que ela habitava no imóvel. “Para não se incomodar com aquela visão, enquanto ela ensaiava sua justificativa para as autoridades”.

Delegada concedeu uma entrevista coletiva nesta terça-feira (30) – Foto: Redação/Correio

ROTINA
Segundo a delegada, o apartamento estava com sofá-cama montado na sala de estar e o banheiro estava sendo utilizado, apesar de que neste cômodo estava uma “grande quantia de roupas com bastante quantidade de sangue”.

A mulher também estava trabalhando, no período em que as crianças já estavam mortas, de sua casa com a oferta de empréstimos consignados.

Também há relato de que a escola notou a ausência da menina de 10 anos, que houve contatos com a mãe, mas que a suspeita afirmava que a filha estava doente. Em contrapartida, ela recusou contato com o motorista do transporte escolar. Quem também teria percebido a ausência das crianças é o porteiro do prédio em que ela vivia.

“É uma pessoa importante para nós. Ele relatou que percebeu a falta das crianças, entrou em contato com ela via WhatsApp, perguntou se estaria tudo bem, provavelmente ele já teria sentido algum comportamento estranho. Mas é claro que ela continuou dando desculpas”, explicou a delegada.

CARTAS
A delegada afirmou na coletiva que a suspeita manteve uma versão coesa em todos os momentos, e que ela redigiu duas cartas no tempo em que ficou com as crianças.

Na avaliação de Hass, as cartas são “estudos”, no sentido de que ela teria ensaiado estratégias de defesa “se desculpando e criando essas justificativas, principalmente referente à questão financeira”.

“Ela talvez, uma moça de 30 anos, que talvez quisesse seguir sua vida, ela fala nessas cartas também e em mensagens que trocou com o pai da criança [de 3 anos] que ele estava namorando, curtindo a vida, enquanto ela estava cuidando dos filhos, fazendo tudo sozinha. A gente vê que era uma vida que ela não queria e, de certa forma, e até falando de forma bem direta, ela se livrou dos filhos, na tentativa aí, talvez, de ter uma nova vida”, disse.

TRANSFERÊNCIA
A mulher já foi transferida e não está mais presa em Guarapuava. Inclusive, Hass destacou que essa transferência foi para um lugar que não é de praxe. “Porque é um crime que choca e mantê-la no convívio com outras presas seria bastante arriscado”.

PRÓXIMOS PASSOS
A delegada explica que o inquérito policial tem o prazo de dez dias para ser concluído, contando a partir da data da prisão.

A Polícia Civil fará as diligências, juntada de laudos, documentos e imagens de câmeras de monitoramento, oitivas de testemunhas e, ao final, será feito o indiciamento por parte da autoridade policial. “E será encaminhado para o Ministério Público para análise e oferecimento de denúncia”.

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