Movimento 200+ quer eleger deputados federais e senadores com formação política e contra corrupção

A ideia do projeto foi apresentada por Deltan Dallagnol, conhecido pelo trabalho na Lava Jato, e pelo guarapuavano Fábio de Oliveira em entrevista ao CORREIO

Guarapuava recebeu nesta terça-feira (19) a visita do ex-procurador da Lava Jato Deltan Dallagnol e do engenheiro civil Fábio de Oliveira. Os dois estão divulgando em diversas cidades do Estado o Movimento 200+, uma ação que não tem envolvimento com partidos e que pretende eleger candidatos que se comprometam à pauta anticorrupção, além de outros pontos.

Na sede do CORREIO, eles destacaram os principais pontos do projeto, do qual são apoiadores. “O 200+ é suprapartidário e desprovido de ideologia, então ele não tem viés de esquerda nem de direita. Ele é um projeto de movimentos sociais, entidades, instituições que estão promovendo e vendo a necessidade de se fazer uma renovação dentro da Câmara dos Deputados e do Senado”, explica Fábio, que é de Guarapuava, mas mora em Curitiba.

O Movimento trabalha com três pilares essenciais, ou seja, os candidatos que vierem a integrar o 200 terão que compactuar com a redução ou extinção do fundo eleitoral, o combate à corrupção com a prisão em segunda instância e o fim do foro privilegiado e a preparação política. “O candidato tem que ter pelo menos 100h de preparação política a cada dois anos. É pouco, mas isso é o início”, destaca Fábio Oliveira.

Para Deltan, este projeto é de renovação do Congresso Nacional e que estimula o voto consciente. “Todos nós queremos votar consciente, mas precisamos dizer o que é. Votar consciente é votar em pessoas que combatam a corrupção, que reduzam o fundo eleitoral ou acabem com ele e que se preparem politicamente”, afirma o ex-procurador.

PARTICIPAÇÃO
O projeto vai estar estruturado em um site que deve ser lançado nas próximas semanas. A primeira etapa dele é a adesão da população, de entrar e assinar o abaixo assinado. “Em um segundo momento, quando abrir a campanha eleitoral, vai abrir um contador em que os candidatos vão poder se inscrever, desde que eles atendam estes requisitos, e assinam uma carta de compromisso que prevê penalidades dos descumprimentos desse tripé. E aí o cidadão vai poder entrar no site e ver quais candidatos atendem esse critério”, conta Fábio.

Deltan Dallagnol e o engenheiro civil Fábio de Oliveira (Foto: Redação/Correio)

PARANÁ
Conforme Fábio de Oliveira, um movimento parecido tem ganhado forma a nível de estado, o 20+. Com os mesmos preceitos, ele tem como foco a Assembleia Legislativa do Paraná (Alep). “Nós entendemos que o deputado estadual que vai entrar na Assembleia Legislativa precisa também ter preparação política, e não simplesmente por ter um histórico familiar, ou por ser reeleição ou ter uma formação, quer seja técnica ou universitária, que isso chancela ele a ser um bom político”, comenta.

O engenheiro também aponta que há uma segunda ideia que pode ser colocada em prática destinada à transparência. Ele destaca que hoje existe uma dificuldade de se conseguir dados financeiros no portal da transparência da Assembleia Legislativa. “Você tem que praticamente garimpar para ter uma informação de quanto um deputado está gastando, por exemplo. E um outro ponto que a gente imagina que seja importante é em relação ao gasto de gabinete que é alto. Então entendemos que pode ser reduzido”.

A extinção das diárias dos deputados também é objeto de discussão na pauta do movimento caso venha a ser desenvolvido no Estado. “Hoje o deputado estadual pode usufruir dessa ferramenta que é dentro da verba de ressarcimento, só que quando eles utilizam, eles não precisam prestar contas, ele não precisa dizer porque ele alugou um carro, quantos gastos de gasolina ele gastou, que hostel que ele ficou. Ele simplesmente diz que foi para tal lugar e não precisa checar essas questões. Então, inspirados no 200+ nós estamos caminhando em também inscrever o projeto pensando na assembleia legislativa.

LAVA JATO
Deltan Dallagnol também comentou sobre a operação que coordenou enquanto era procurador de Justiça do Paraná e que acarretou na prisão do ex-presidente Lula. Recentemente, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que Dallagnol deveria pagar uma indenização por danos morais ao ex-presidente em razão da entrevista coletiva concedida em 2016, na qual utilizou o PowerPoint para explicar a denúncia apresentada contra o líder do PT.

“Hoje a gente vive no Brasil uma inversão de valores. A gente vive em um momento em que os corruptos estão sendo livres de suas condenações, estão sendo anuladas, estão não só ficando livres, mas com o dinheiro da própria corrupção no bolso deles e o sistema está querendo se vingar de quem combateu a corrupção”, pontua, destacando que foi condenado por ter feito seu dever. “Por eu ter apresentado uma acusação pública, baseada em provas e que gerou a condenação dele [Lula] não só em primeira instância, mas foi confirmada depois por três desembargadores e por quatro ministros”, diz o ex-procurador.

Ele destaca que recebeu doações de mais de 12 mil pessoas que somam mais de meio milhão de reais. “A sociedade sem eu pedir se mobilizou. As pessoas descobriram meu CPF e começaram a depositar voluntariamente. A sociedade mostrando que se alguém se dispõe a lutar contra a corrupção, essa causa não é do Deltan, é da sociedade”.

Na sede do CORREIO, eles destacaram os principais pontos do Movimento 200+, do qual são apoiadores (Foto: Redação/Correio)

DIÁRIAS
Na última semana, o Tribunal de Contas da União decidiu investigar mais a fundo o uso de diárias e gastos com passagens na Lava Jato durante os seis anos da operação. De acordo com Deltan, são diárias legais que foram utilizadas para trazer procuradores de todo o país para ajudar na recuperação dos R$ 15 bilhões. Ele acredita que seja um movimento do ministro Bruno Dantas.

“Ele está fazendo isso contra o entendimento da própria área técnica do Tribunal de contas que falou que foram as passagens e diárias foram legais. Além disso, está tentando me responsabilizar a mim, Deltan, quando eu não recebi esses gastos, não recebi essas passagens e não autorizei e não determinei o pagamento. Eu atuava nas investigações e processos, eu não atuava na área de gestão, área administrativa”.

Para o ex-procurador, o ministro está tentando tornar ilegal aquilo que obedeceu as leis. “O sistema está perseguindo quem combateu a corrupção. Basta ver que o Supremo Tribunal Federal acabou com a prisão em segunda instância quando a lava jato chegou aos grandes poderosos do país. Ninguém jamais no passado colocou a cara a tapa contra a corrupção e agora eles querem nos punir para isso nunca mais aconteça no futuro”.

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