Um aficionado pelo sentido pythonesco

Era o ano de 1997. Numa época em que o Brasil perdia um de seus mais polêmicos jornalistas – Paulo Francis – e pouca gente imaginava o PT à frente do país, um pobre rapaz latino-americano (não se sabe se com muito ou pouco dinheiro no bolso) assistia pela primeira vez em sua vida a um episódio de ‘Monty Python’s Flying Circus’ (1969-1974).

Não deu outra. A partir daquele dia, esse jovem ganhou mais alegria e diversão em sua vida. E tudo porque ele havia zapeado pela TV, encontrando um dos programas mais iconoclastas que o humor mundial já produziu em sua história. A trupe responsável por tudo isso era nada mais, nada menos do que o inglês Monty Python, formado por Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin, Terry Gilliam e Terry Jones. Eles não apenas redefiniram o humor televisivo com seu nonsense total, como produziram clássicos do cinema: ‘Em Busca do Cálice Sagrado’ (1975) e ‘A Vida de Brian’ (1979), só para ficar em alguns.

A empatia foi tão grande que o rapaz Thiago Meister Carneiro, um guarapuavano do terceiro planalto, criaria muitos anos depois um site especializado em conteúdo sobre o Monty Python. Em 2013, quando morava em Santa Catarina, administrava um blog de variedades. Mas eu queria criar um produto dirigido a um público específico e que fosse sobre algo com pouco material no Brasil, destacando que, naquele instante, lembrou-se do Monty Python, grupo do qual era fã assumido desde 1997.

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Assim, nascia ‘O Ministro do Andar Tolo’, ‘O site (quase) mais completo sobre Monty Python do Brasil’, como se autodefine na descrição inicial. No ar há mais de dois anos (lançado em 16 de fevereiro de 2013), o canal é, segundo seu editor/criador, o único site em português sobre a trupe inglesa. Aliás, é difícil encontrar até mesmo material bibliográfico no país sobre o Monty Python, acrescentando que grande parte do conteúdo publicado no ‘Andar Tolo’ é feito a partir de publicações estrangeiras que Thiago traduz e edita.

Nesse ponto, conta muito a formação desse guarapuavano de 33 anos, que é jornalista e escritor, com pós-graduação em Linguística e Literatura. A propósito, sabe qual era o tema de seu artigo final? ‘O Ministro do Andar Tolo – O Humor nos Tempos de Monty Python’, só podia ser. Minha orientadora não conhecia o grupo, mas gostou do trabalho e eu tirei nota A.

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Aliás, o nome do site é uma referência a um esquete famoso do grupo, cujo personagem é o responsável pelo desenvolvimento de andares tolos por meio de doações e subsídios. Durante todo o quadro, ele anda com uma variedade de maneiras tolas (incluindo uma que imita a marcha em tesoura).

NONSENSE
Para quem não conhece o humor do Monty Python, já deu pra sacar que o Ministro do Andar Tolo revela todo o nonsense e absurdo das piadas da trupe. Hoje seus filmes e esquetes são uma unanimidade em todo o mundo, dando origem, inclusive, ao termo ‘pythonesco’, que tem registro nos dicionários. Mas quando eles surgiram, causou muita polêmica e dividiu opiniões, conta o jornalista Thiago.

Para ilustrar, ele recorda que o Paquistão foi o primeiro país, fora da Inglaterra, a exibir os episódios de ‘Flying Circus’. Mas os produtores paquistaneses se sentiram enganados à época, pois pensavam que haviam adquirido uma série televisiva sobre o mundo do circo e não um programa de humor nonsense.

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Cena de ‘Em Busca do Cálice Sagrado’ (1975), que completa 40 anos em 2015

Aliás, a própria emissora inglesa BBC, segundo Thiago, não queria utilizar o nome ‘Flying Circus’. Mesmo com um início conturbado (a série quase foi cancelada pelo canal), os pythons conseguiram vencer a sisudez e espalharam seu humor inclassificável pelos quatro cantos do planeta, chegando até mesmo ao Brasil.

Todos os esquetes do Monty Python têm uma crítica à sociedade, por mais bobo que possa parecer. É um humor que envelheceu bem e que ainda faz sentido hoje, avalia o jornalista Thiago.

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Depois de ‘Flying Circus’ em 1997, o guarapuavano assistiu a seu primeiro filme pythonesco em 1998, na escola: ‘Em Busca do Cálice Sagrado’. Naquele dia, reconheci de imediato os atores do programa de TV visto um ano antes, relembra.

De lá para cá, o jornalista diz que viu todos os programas de TV e filmes protagonizados pela trupe inglesa. Depois do lançamento de ‘O sentido da vida’ (1983), os integrantes do grupo pararam de fazer as coisas juntos, simplesmente.

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SONHO
Com formação em Jornalismo e uma pós-graduação, hoje Thiago Meister Carneiro trabalha como funcionário público em Guarapuava. O site ‘O Ministro do Andar Tolo’ é feito nas horas vagas e sem nenhum tipo de comprometimento mais profissional; apenas pelo prazer de falar sobre um conteúdo muito caro ao jornalista.

Mas isso não impede o editor/criador de sonhar com uma entrevista com os integrantes do Monty Python. Quero fazer pessoalmente. Mas antes preciso me preparar, principalmente no quesito língua estrangeira, explicando que sabe ler e escrever em inglês, mas de que precisa melhorar a fluência oral.

Como os integrantes da trupe estão com uma idade mais avançada, Thiago torce para que esse momento tão especial não demore muito.

Enquanto isso, os leitores da língua portuguesa têm a oportunidade de se informar sobre o Monty Python no único site brasileiro sobre o assunto.

SERVIÇO
Site O Ministro do Andar Tolo
Atualizações diárias com material exclusivo em língua portuguesa sobre o grupo inglês Monty Python: filmes, a série ‘Flying Circus’, as influências, biografias, músicas, livros e mais um monte de coisas completamente absurdas tiradas da cabeça de Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese, Michael Palin, Terry Gilliam e Terry Jones

Texto: Cristiano Martinez
Fotos: Divulgação e Rui Morel Carneiro

Trecho de “A Vida de Brian”