Trilogia do Pantera Negra mergulha no reino de Wakanda
Prestes a estrear seu primeiro filme solo, o Pantera Negra teve uma elogiada sequência de histórias em 2017, sob a pena do escritor norte-americano Ta-Nehisi Coates. O material foi publicado no Brasil em uma trilogia de capa dura
O ano de 2018 promete ser especial para o Pantera Negra, um dos personagens clássicos da Marvel Comics. Sem a mesma popularidade do Homem-Aranha ou dos X-Men, T'Challa (o alter ego do Pantera) tem o seu lugar na história: é o primeiro super-herói de ascendência africana na indústria de quadrinhos dos EUA.
Essa trajetória pode se tornar mais conhecida este ano graças ao filme Pantera Negra, programado para estrear no próximo dia 15, em todo o Brasil – espera-se também em Guarapuava. Depois de sua participação especial no longa Capitão América: Guerra Civil (2016), será o seu primeiro voo solo na telona.
Mas antes do filme, os leitores brasileiros podem se habituar melhor ao Pantera em um arco de histórias publicado em 2017 no país pela Panini Comics. Na trilogia Uma nação sob nossos pés (R$ 29,9, cada volume), o escritor Ta-Nehisi Coates mergulha na cultura da terra natal de T'Challa, o país africano Wakanda, para elaborar uma história sobre reis, rainhas e levante popular. Quase tudo isso sob o traço do desenhista Brian Stelfreeze.
Desta vez, o grande vilão é fogo amigo, ou seja, elementos comuns a Wakanda que se unem para derrubar o reinado secular da família de T'Challa. Um grupo terrorista super-humano local acende a chama de uma violenta insurreição, e a nação famosa por sua incrível tecnologia e por sua orgulhosa tradição guerreira é tomada pela desordem.
Antes dessa revolta, a irmã de T'Challa era quem reinava em Wakanda. Mas ela aparentemente morreu e a nação africana ainda cura as feridas de conflitos recentes contra Namor (o príncipe submarino) e a invasão provocada por Thanos (o titã da morte). Assim, o alter ego do Pantera precisa lidar também com a sua própria dúvida em relação à capacidade de liderar o povo de sua terra.

NARRATIVA
Consagrado na área da literatura, Ta-Nehisi Coates é jornalista e autor norte-americano. Uma nação sob nossos pés é uma de suas primeiras experiências como roteirista de quadrinhos.
Ele não faz feio na seara da Nona Arte. Com foco nos recordatórios, a narrativa do Pantera Negra se destaca pelo texto apurado e pelos personagens. Dos vilões aos mocinhos, todos são dotados de uma dimensão profunda e complexa. Nada de maniqueísmo ou visão preto e branco no desenvolvimento do material de Coates.
Claro que, em alguns momentos, a sequência de cenas tem certa lentidão e teor épico que atrapalha um pouco a leitura. Mas, ao final do arco de histórias, é possível dizer que os três volumes de Uma nação sob nossos pés valeram a pena.
Em alguns momentos, o leitor se pega torcendo pelos vilões da história. Afinal, eles propõem o levante popular com base em argumentos válidos: sociedade patriarcal, absolutismo do reinado etc. No fundo, os rebeldes têm lá a sua razão para derrubar o rei de Wakanda.
No entanto, quando a revolta flerta com a violência, as coisas ficam mais claras e talvez o leitor não torça mais para os vilões.
EQUIPE
Criado por dois homens brancos – Stan Lee e Jack Kirby – nos anos de 1960, o Pantera Negra se tornou um dos poucos representantes da etnia afro-americana nos quadrinhos norte-americanos. Ainda que o seu surgimento seja criticado pelo oportunismo de Lee, é importante contar com um personagem assim na Nona Arte.
Por isso, é emblemático o fato de que a equipe criativa de Uma nação sob nossos pés é formada por dois quadrinistas negros: Coates e Stelfreeze.