No caminho do quilombo

A noite quilombola, que irá movimentar a comunidade Paiol de Telha, no distrito de Entre Rios, reúne os aspectos históricos e culturais dos povos que lutam há anos pelo reconhecimento de suas terras e pela preservação de sua memória ancestral

Debaixo das estrelas, nos campos gerais, história, memória e identidade. Mais além, dança, música e representação. A Noite Quilombola no Paiol de Telha, que começa no sábado (14) e segue até domingo (15), mantém viva a lembrança dos povos quilombolas.

A culinária que alimentará os presentes no jantar, café da manhã e almoço registra a prática do cotidiano, com um pedaço de cada dia vivido pela comunidade.

A quilombola Djankaw Mateus de Lima Marques, que coordena o coletivo LGBTQI+ Bajubá e faz parte do coletivo Paiol da Artes, responsável pela atividade, explica que o objetivo é vivenciar um dia no quilombo, apresentando o processo histórico de constituição daquele povo, além de evidenciar os aspectos socioculturais.

A gente tem uma programação bem recheada, bem diversa, que busca trazer visibilidade para essa comunidade, referindo-se à Invernada Paiol da Telha, ou Fundão, que está localizada no município de Reserva do Iguaçu. Atualmente, o Paiol de Telha fica no distrito de Entre Rios.

Há mais de um século, as terras da antiga Fazenda Capão Grande foram deixadas de herança para 13 ex-escravos após a morte de Balbina Francisca de Siqueira. Porém, ao longo dos anos, seus herdeiros acabaram sendo expulsos e perdendo suas terras de origem.

Esses povos têm importância máxima porque eles foram estereotipados, e hoje a gente está tentando trazer o significado, filosofia, saberes, valores e fazeres pelas nossas vozes e nossos corpos, diz Djankaw, acrescentando há 67 famílias de quilombolas e não quilombolas no assentamento em Entre Rios, e mais de cem famílias quilombolas na invernada em Reserva do Iguaçu.

EXPERIÊNCIA

As atividades da noite quilombola começam às 19h com a roda de conversas Território, identidade e religião afro-brasileira; depois, será servido o jantar às 20h30, e apresentações culturais estão marcada às 21h30.

Na sequência, a programação de domingo inclui, além de café da manhã e almoço, uma caminhada pela mata e oficinas de dança e percussão – ministradas por Djankaw -, e de abayomi.

Essa última, inclusive, será feita por Vanessa Nayan Marques, quilombola que vive há 21 anos no Paiol de Telha. Ela explica que a palavra se refere às bonecas pretas, e que significa encontro precioso.

Foi trazida pelas mulheres negras nos navios negreiros, que começam a fazer a partir das barras das saias para as crianças que estavam sendo trazidas, explica Nayan, pontuando que os participantes devem levar tesouras.

Tem essa questão cultural, mas também tem uma resistência muito forte. E o intuito é, além de fazer uma roda grande de conversas, também construir laços entre as pessoas, completa a quilombola.

O objetivo é vivenciar um dia no quilombo, apresentando o processo histórico de constituição daquele povo, além de evidenciar os aspectos socioculturais (Foto: Paiol das Artes)

CULINÁRIA

A atividade integral – incluindo o espaço para acampamento – tem custo de R$ 50, e dá direito às três refeições, que devem seguir um cardápio tradicional: no jantar, mandioca, feijão, carne e verduras, tudo cultivado na comunidade; no café da manhã, pães, bolos e outros quitutes preparados pelas mulheres quilombolas; e o almoço terá, entre outros pratos, arroz, feijão, quirera e frango caipira.

No domingo nós também vamos ter uma feira de produtores aqui da comunidade. Teremos artesanato, panificação, verduras, compotas e geleias que vamos vender na saída do pessoal, disse a quilombola.

Para participar, é necessário entrar em contato com Vanessa através do número (42) 9.984-2171 para confirmar presença. Para quem for apenas no sábado ou domingo, há opção de pagar separadamente pelas refeições.