Alunos do ensino médio têm bolsas de IC-Junior bloqueadas pelo CNPq

De acordo com dados da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), foram bloqueadas pelo CNPq 50 bolsas para o programa, que fomenta os primeiros passos da pesquisa científica e põe o estudante em contato com a universidade

A suspensão de indicação de novos bolsistas pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma das principais agências de fomento no Brasil, afetou a distribuição de recursos para o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica para o Ensino Médio (Pibic-EM) da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

De acordo com dados da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp), seriam distribuídas entre os estudantes contemplados pelo programa 50 bolsas, que pagariam mensalmente um valor de R$ 100 no período de um ano.

Esse tipo de programa, segundo consta no edital de lançamento, tem como foco a criação de uma cultura científica, e atende alunos dos colégios estaduais Newton Felipe Albach e Padre Chagas, em Guarapuava, e Trajano Grácia, em Irati.

Em entrevista exclusiva ao CORREIO, o professor Marcos Ventura Faria, titular da Propesp, afirmou que o contingenciamento de recursos do CNPq impediu que novas indicações fossem feitas, inclusive para os alunos secundaristas.

Nós temos um prazo para fazer a indicação dos bolsistas, e o que está acontecendo é que essas indicações eles não estão permitindo, o sistema está bloqueando as bolsas que já são nossas, afirmou Marcos, acrescentando que também não está sendo permitido transferir a bolsa de um aluno para outro.

Em uma avaliação, Farias ressalta que isso afeta todo o sistema de fomento e desenvolvimento da pesquisa científica no Brasil.

PESQUISA

Jessica Karam de Oliveira é uma das alunas do Colégio Estadual Newton Felipe Albach que fizeram parte do programa em 2018. Ela explica que sua pesquisa foi focada no cinema dentro das escolas, com o intuito de mostrar como as instituições podem trabalhar com a Sétima Arte.

Eu achei a pesquisa interessante, pois trouxe um conhecimento a mais, afirmou a estudante, que desenvolveu atividades teóricas e práticas dentro da Unicentro. A experiência foi muito boa, completa, pontuando que vê a distribuição de bolsas como algo fundamental para a produção científica, pois é uma forma de incentivar a pesquisa.

Em contato com a reportagem, o professor Francismar Formentão, que leciona na Unicentro e já orientou trabalhos no Proic-EM, ressalta que o estímulo e o desenvolvimento científico devem começar antes do ensino superior. A ciência tem uma importância estratégica para a sociedade, ressaltando que esse investimento em pesquisas e nas próprias instituições públicas de ensino é fundamental na formação e incentivo de futuros pesquisadores. É pensar em um país grande, soberano.

ENTENDA

O CORREIO vem acompanhando a situação da pesquisa científica, principalmente das pós-graduações, na Unicentro. Em entrevista publicada nesta terça-feira (20)-CLIQUE AQUI, Marcos afirmou que a instituição já perdeu 23 bolsas de mestrado da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), agência ligada ao Ministério da Educação, e da Fundação Araucária (FA), ligada ao Governo do Paraná.

Nesse contexto, o pessimismo em relação ao fomento à pesquisa científica no Brasil vem se alastrando, já que muitos pesquisadores dependem dos recursos das bolsas para se manter na universidade. De fato, a preocupação é geral. Já foram feitos alguns contingenciamentos, há uma certa expectativa de reversão, mas ainda nada sinalizou que pode ser revertido, disse.

O reitor da universidade, professor Osmar Ambrósio de Souza, relatou que o contingenciamento de recursos para a Educação está gerando a redução de bolsas na Unicentro, e que a repercussão desses cortes é bastante negativa.

A gente sabe que o aluno de mestrado e doutorado tem um esforço muito grande para fazer a qualificação, e muitas vezes é de outra cidade, de outra região. Esse estudo exige dedicação integral, fazer um doutorado, por exemplo, precisa estar ‘full time’ dedicado, disse Osmar, afirmando que isso é motivo de preocupação e está afetando a universidade.