Alunos da educação especial estreiam na ficção em projeto desenvolvido no Ceebja de Guarapuava

Dezoito alunos da Sala de Recursos e mais uma educadora produziram 19 livros sob a orientação do autor Norbert Heinz e da professora Katiane dos Santos

O título do livro escrito por Angela dos Santos Bianco (19 anos) é significativo: Amizade. É pela amizade que 18 alunos da Sala de Recursos do Ceebja estrearam na ficção infantojuvenil em Guarapuava.

Afinal, esse sentimento os levou à colaboração coletiva para produzir histórias únicas, carregadas de companheirismo e paixão pela escola.

Foi legal. Pensei que não ia conseguir, mas depois fui vendo que eu ia conseguir, conta Angela, autora de Amizade. Estreante na literatura, ela diz que gostou da experiência e de que pretende repeti-la no futuro.

Cada livro carrega a visão particular de seus autores, mas feitos num ambiente de ajuda mútua e camaradagem. São 18 novos escritores que debutam no mercado editorial da famosa terra do lobo bravo.

A noite de autógrafos ocorreu na última sexta-feira (10 maio), na sede do Ceebja Guarapuava. Autores e seus familiares participaram da sessão especial.

Pra mim, foi impactante o resultado, conta o escritor Norbert Heinz. Ele foi o responsável pela Oficina de Criação de Livro Infantojuvenil, ministrada no primeiro semestre de 2019 na Sala de Recursos do Ceebja.

Durante as atividades, 18 alunos e mais uma professora (Bernardina Morgado de Aragão) produziram 19 histórias que se transformaram no material confeccionado por Heinz. A impressão e o acabamento dos livros foram feitos de maneira artesanal pelo próprio escritor.

Segundo ele, os alunos especiais tiveram o mesmo tipo de desempenho do que em outras oficinas. Para exemplificar, ele conta que um dos participantes, com Síndrome de Down, sentou e desenvolveu de maneira autônoma sua narrativa. Heinz e a professora da disciplina estavam ali para auxiliar no que fosse preciso.

TEMAS

Segundo Norbert Heinz, dois temas se destacam entre os 18 livros: a amizade e a escola. Eles [os autores] têm uma amizade muito forte, diz, acrescentando que os alunos especiais têm um passado de exclusão em outras instituições.

Não por sinal, a paixão pelo Ceebja é bastante evidente nos livros. Não tinha visto essa relação com a escola em outras oficinas, compara o autor.

E saíram histórias incríveis e iguais ao que acontece em outras oficinas que eu faço. As dificuldades e facilidades praticamente são as mesmas, complementa. Ele nota que havia ajuda mútua na turma para que todos conseguissem desenvolver seus textos.

Autora do livro
Angela dos Santos Bianco (19 anos) escreveu o livro “Amizade” (Foto: Cristiano Martinez/Correio)

COMEÇO

A iniciativa de promover a oficina com o escritor Norbert Heinz partiu da professora da turma, Katiane dos Santos.

Ao CORREIO, ela conta que, quando chegou ao Ceebja, a diretora da unidade pediu uma atividade diferente e que pudesse dar visibilidade para os alunos. A princípio, a Prof. Kati, como é chamada pela turminha, manteve o projeto de culinária que já era desenvolvido anteriormente.

Mas eu pensei: ‘vamos fazer algo mais literário’, diz a educadora, lembrando que conhecia o Norbert da época do mestrado. Pensei: ‘vou chamar pra fazer uma contação de história’.

No entanto, o autor já tinha um projeto de trabalhar com os alunos na atividade de escrita ficcional. O único receio da professora era se a turma com necessidades especiais conseguiria desenvolver os textos. Eu falei pra ela [Katiane]: ‘olha, vamos tentar’, lembra Heinz.

Na percepção da educadora, a oficina funcionaria melhor com uma produção conjunta. Mas, ao final, saíram 18 obras criadas individualmente pela turma. Eu me surpreendi, foi emocionante. Cada aluno criou a sua própria história. Foi muito bonita a trajetória do projeto.

Aliás, Heinz conta que todas as ideias das histórias partiram dos próprios autores que participaram da oficina. Eu percebi [neles] uma facilidade criativa para trabalhar as ideias do texto.

Katiane complementa dizendo que o trabalho dos coordenadores foi de sugerir mudanças pontuais nas narrativas criadas pelos alunos, auxiliando apenas em questões básicas.