Zé Carioca completa 80 anos de aventuras e histórias
Ele surgiu a partir de uma viagem de Walt Disney ao Brasil em 1941, no contexto da política de boa vizinhança dos Estados Unidos
A Vila Xurupita está em festa. Tudo porque seu mais ilustre habitante completou 80 anos de idade na última quarta-feira (24 ago 2022). Mas nem parece que ele tem oito décadas de vida, pois suas penas continuam verdejantes e joviais.
Papagaio mais famoso dos quadrinhos, Zé Carioca é uma criação dos estúdios Disney e construiu sua história em terras brasileiras, como morador no Rio de Janeiro.
No livro “O Império dos Gibis: A Incrível História dos Quadrinhos da Editora Abril” (2020, ed. Heroica), os autores Manoel de Souza e Maurício Muniz contam que Zé Carioca surgiu a partir de uma viagem de Walt Disney ao Rio de Janeiro, em agosto de 1941, para promover a política de boa vizinhança patrocinada pelos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.
“Gilberto Souto, repórter e correspondente da revista ‘Cinearte’, foi escalado para cobrir a estadia de Disney no Rio de Janeiro e comentou com ele que as piadas de papagaio eram moda no Brasil. Bastou isso, e o fato da ave ter as cores da bandeira brasileira, para que o animador e sua equipe concebessem José Carioca, um personagem com o gingado, a malandragem e a simpatia dos habitantes da Cidade Maravilhosa – pelo menos, na visão dos americanos” (p. 50).
Mas a estreia no cinema seria somente em 24 de agosto de 1942, com o lançamento do filme “Alô, Amigos” no Rio de Janeiro; foi a primeira produção Disney a chegar antes no Brasil que aos Estados Unidos. Essa animação é dividida em quatro sequências, mostrando o Pato Donald numa viagem à América do Sul. Quando desce no Brasil, conhece Zé.
QUADRINHOS
Apesar dessa aparição nos cinemas, o simpático papagaio faria sucesso de verdade nos quadrinhos, em material produzido no exterior que seria publicado no Brasil pela editora Abril. Aliás, a casa fundada pela família Civita foi o principal reduto da Disney em terras brasileiras durante décadas.
No caso particular de Zé Carioca, o problema das HQs era a falta de conhecimento do Brasil, com paisagem genérica. “Isso só começou a mudar em 1960, quando o papagaio ganhou uma aventura criada por seus conterrâneos”, escrevem Souza e Muniz na página 51 de seu livro, acrescentando que o personagem já havia alcançado status para ter sua própria revista.
Assim, em 1961 a publicação semanal “O Pato Donald” passou a intercalar suas edições com “Zé Carioca” no famoso formatinho. Para dar conta do volume de produção, aos poucos a Abril contratou desenhistas e argumentistas. Mas, no início, eram somente Waldyr Igayara de Souza e Jorge Kato que criavam as novas aventuras do Zé.
O Guia dos Quadrinhos (www.guiadosquadrinhos.com) explica que Zé Carioca nunca teve um número 1 na capa. “Sua primeira revista foi número 479. A numeração era dividida com a revista do Pato Donald (as edições do Zé com números ímpares e as do Donald com os pares). Só em maio de 1985 ganha numeração própria, continuando a partir do último número que dividiu com a revista do Pato Donald”.
Posteriormente, novos nomes do traço nacional chegaram à Redação da editora paulistana, como é o caso de Carlos Edgard Herrero, que tinha um estilo apurado e dinâmico.
No entanto, um dos artistas mais lembrados entre os fãs mais antigos é o gaúcho Renato Vinicius Canini, que formou dupla com o roteirista Ivan Saidenberg na fase clássica do Zé. De tão diferente e inovadora, a arte de Canini incomodou os americanos da Disney, que queriam um padrão mais “certinho”. Porém, os leitores gostavam mesmo era do brasileiro.
Segundo Souza e Muniz, a versão brasileira provocou mudanças no personagem, que tirou o paletó e botou camisa, estabelecendo-se na Vila Xurupita. “A revista do papagaio foi uma das primeiras mídias a mostrar a favela sob uma ótica positiva, dando-lhe um sentido de comunidade” (p. 71).
FIM
A revista “Zé Carioca” na Abril durou de 1961 a 2018, batendo a marca de 1.332 edições. Mas o último número é o 2.446 – lembrando que a revista havia dado continuidade à sequência clássica da época que dividia com “O Pato Donald”.
Hoje a gaúcha Culturama detém os direitos de publicação dos personagens Disney no Brasil. Mas o papagaio não conta mais com uma revista própria como antigamente.
No entanto, a editora do Rio Grande do Sul lançou em julho uma edição comemorativa do personagem: “O essencial do Zé Carioca: celebrando os 80 anos da sua estreia” (R$ 69,90).