Volume publicado em 2022 reúne versão nacional dos X-Men feita nos anos de 1960/70 pela GEP

Publicado em 2022 pelas editoras Criativo e GRRR!, o volume “X-Men Made In Brasil” reúne uma preciosidade da indústria nacional de quadrinhos: dez histórias dos famosos mutantes da Marvel produzidas em 1969/70 pela antiga Gráfica Editora Penteado Ltda, a GEP. É um material único e que só foi publicado em solo brasileiro

Dois X-Men às voltas com uma casa assombrada; os mutantes numa aventura em Júpiter; ou numa corrida automotiva complicada… já imaginou o mais popular grupo de super-heróis da Marvel Comics vivendo esse tipo de histórias?

Isso aconteceu de maneira exclusiva no Brasil. Enquanto nos Estados Unidos os leitores conheciam as clássicas HQs feitas por Stan Lee (roteiro) e Jack Kirby (desenhos), em solo tupiniquim a Gráfica Editora Penteado Ltda, a GEP, publicava também a versão nacional dos X-Men em 1969/70.

Eram histórias de poucas páginas, produzidas pelos brasileiros Walter da Silva Gomes (desenhos) e Gedeone Malagola (roteiros) numa iniciativa da casa fundada por Miguel Penteado para preencher as “Edições GEP” do período sessentista.

É uma passagem na indústria brasileira de quadrinhos que pouca gente conhece, pois os gibis da GEP tinham uma tiragem limitada e duraram pouco tempo nas bancas de jornal. Agora, o leitor tem a oportunidade de conhecer esse material no volume lançado em 2022 intitulado “X-Men Made In Brasil” (série GraphicBook, R$ 49,99), das editoras Criativo e GRRR!.

Com 116 páginas e formato 21×28 cm, o álbum reúne as dez HQs feitas no país, em versão restaurada com texto introdutório do roteirista, editor e escritor Roberto Guedes, contracapa do editor Marcio Baraldi e entrevista inédita de Gomes, mineiro de Montes Claros hoje com 71 anos, vivendo numa chácara em Embu das Artes (SP) e afastado dos quadrinhos.

Em 1969, o artista tinha 18 anos e foi o primeiro quadrinista brasileiro a desenhar os mutantes da Marvel. Ele entrou com 16 anos na GEP para ser assistente de Queiroz e arte-finalista de Sérgio Lima em títulos como “Múmia” e “Lobisomem”.

Na conversa com Baraldi, para o livro da Criativo/GRRR!, o desenhista contou que, nos anos 60, Penteado teve a ideia de produzir histórias curtas dos X-Men para completar as páginas dos gibis dos mutantes, que vinham, claro, com o material norte-americano. “…e eu ilustrei todas, sempre imitando o estilo do Jack Kirby, pra ficar tudo com a mesma cara. Os roteiros eram todos do Gedeone, menos um, que foi do Francisco de Assis (Os mutantes de Júpiter). Foram dez histórias curtas que só existem no Brasil, não saíram em nenhum outro país”.

Em resumo, cada número das “Edições GEP” trazia o material gringo (geralmente da dupla Lee/Kirby) e mais oito ou nove páginas “made in Brasil”.

Capa da edição publicada em 2022 com o material nacional dos mutantes da Marvel (Foto: Reprodução)

AUTORIZAÇÃO
Dizem que a Marvel não ficou sabendo dessa produção feita pela equipe brasileira para a GEP. Segundo o pesquisador Roberto Guedes, Gedeone Malagola diria, anos depois, que a editora norte-americana autorizou a produção dessas histórias, “…mas o fato nunca foi devidamente comprovado” (p. 4).

Além de “Raio Negro” e “Múmia”, a editora comandada por Miguel Penteado (que faleceu em 2001, aos 83 anos) ficou conhecida pelo material licenciado da Marvel, nas chamadas “Edições GEP”: “O Surfista Prateado”, “X-Men”, “Capitão Marvel” etc.

No Guia de Quadrinhos, é possível encontrar a capa do número de estreia de “X-Men”, revista publicada em janeiro de 1969. São 36 páginas no chamado formato americano (17 x 26 cm), miolo preto/branco e lombada com grampos. É a fase clássica dos personagens, escrita por Stan Lee e Jack Kirby.

O que chama atenção é a presença de uma aventura intitulada “Luta de titãs!”, de 8 páginas, sem autoria identificada no Guia. Durante um safári na África, Hank McCoy, o Fera, encontra um homem das cavernas dormindo. Ao acordar, confuso e enfurecido, o primitivo luta com o X-Man.

No número seguinte, outra aventura sem crédito: “O dia em que Jean se tornou líder!”, também de 8 páginas. Aliás, à época essa revista mensal da GEP era formada por uma HQ da dupla Lee/Kirby e mais um material curto.

Já na edição 4, de abril de 1969, aparece o crédito na segunda aventura: arte de Walter S. Gomes. Sinopse: a máquina Cérebro detecta a presença de um novo mutante e os X-Men se apressam em encontrá-lo. Ao chegarem ao local, são recebidos por um horrível gigante com oito braços. Enquanto nossos heróis tentam impedi-lo, o Fera parece fugir, mas retorna com uma imensa concha de chumbo, com a qual derrota o velhaco. Hank explica que o inimigo não era um mutante, mas um homem que sofreu alteração molecular devido à radioatividade.

No número 5, arte de Gomes para as 8 páginas de “A casa assombrada”. E, em “X-Men”#6, a história brasileira “Os mutantes de Júpiter!” com roteiro de Francisco de Assis, arte de Walter S. Gomes e letras de Luiz Merí Quevedo.

Mas em “X-Men”#7, o roteirista Gedeone Malagola (1924-2008), um dos grandes nomes da Nona Arte no Brasil, assina o roteiro de “O homem que queria dominar o mundo!”, com arte de Gomes.

Além da revista mensal, a GEP publicou dois números do “Super-Almanaque dos X-Men”, entre julho de 1969 e maio de 1970, no formato americano, preto/branco e lombada quadrada.

Foto: Reprodução

GÊNESE
Segundo Marcio Baraldi, em texto para a contracapa de “X-Men Made In Brasil”, em 1969 os personagens mutantes da Marvel ainda eram desconhecidos no Brasil e, nos Estados Unidos, ainda não faziam sucesso.

Como os gibis da GEP tinham mais páginas livres que os originais americanos, a editora teve a ideia de produzir HQs curtas com os personagens para completar as revistas.

“O resultado foram dez histórias totalmente independentes da cronologia oficial da Marvel, mas muito criativas e divertidas. Histórias que, durante décadas, só o Brasil conheceu! Aliás, mesmo no Brasil pouca gente conheceu, já que as tiragens da GEP não eram altas, o que fez com que tais gibis se tornassem muito raros nos dias de hoje, verdadeiros itens de colecionador”, explica Baraldi.

Como bônus, o livro da Criativo/GRRR! traz também as três únicas HQs produzidas no Brasil com o chefão da Shield, Nick Fury, criadas na mesma época para completar a revista do personagem pela editora Trieste. Outro material raríssimo e pouco conhecido, republicado pela primeira vez desde 1969.

*****Texto/Pesquisa: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br

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