Safra de oitenta e seis: os discos que marcaram época no rock brasileiro há 35 anos

O ano de 1986 pode ser considerado mágico no cenário do rock brasileiro. Há 35 anos, eram lançados álbuns que ficaram para a história: “Cabeça Dinossauro”, “Dois”, “Vivendo e não aprendendo”, “Rádio Pirata Ao Vivo”, “Selvagem?”… saiba um pouco sobre cada um deles

Titãs, Legião Urbana, Ira!, RPM, Capital Inicial, Paralamas do Sucesso, Plebe Rude… 35 anos atrás estas bandas marcaram época com o lançamento de grandes discos do Rock BR (ou BRock). Era a geração roqueira dos anos de 1980.

Em 1986, o contexto sociocultural culminou numa “tempestade perfeita” para que surgisse essa criativa produção musical. Após mais de duas décadas, não havia mais ditadura civil-militar, a censura se findava, o jovem estava em alta e o rock brasileiro liderava as paradas.

Naquele momento, o Plano Cruzado I aumentou o poder aquisitivo e o mercado fonográfico vivia prosperidade. Assim, as gravadoras apostavam em novo casting e na qualidade das gravações. O rock e o pop começavam a se estabelecer na mídia.

Tudo isso favoreceu a criação e apostas em álbuns como “Cabeça Dinossauro”, “Dois”, “Vivendo e não aprendendo”, “Selvagem?”, entre outros. Em reportagem publicada em 2006, a revista Rolling Stone Brasil classificou 1986 como “o ano de ouro do rock brasileiro”.

A seguir, um pequeno apanhado de alguns desses discos lançados em 86.

Titãs
“Cabeça Dinossauro” (gravadora WEA) é um dos principais discos da história do rock oitentista no Brasil. É a grande obra dos Titãs, numerosa banda paulistana marcada pelo ecletismo musical. Em 1986, o então octeto partiu para um álbum mais pesado, repleto de crítica ácida a instituições, caso da religião (canção “Igreja”), capitalismo (“Homem primata”), força policial (“Polícia”) e o próprio estado (“Estado violência”). O álbum produzido por Liminha, Vitor Farias e Pena Schmidt abre com a faixa-título, que é uma leitura da ancestralidade em tempos violentos.

Capa com reprodução de esboço de Leonardo da Vinci (Foto: Reprodução)

Legião
Superando a síndrome do segundo disco, a Legião Urbana apresentou “Dois” (EMI-Odeon), um projeto pensado e esquematizado pelo líder dessa banda brasiliense, Renato Russo. Sucesso de vendas com 900 mil cópias comercializadas. Pudera, o álbum sob a batuta de Mayrthon Bahia reúne alguns dos principais hits da Legião: “Quase sem querer”, “Eduardo e Mônica”, “Tempo perdido” e “Índios”. Não tinha como dar errado. Mas o plano original era fazer um LP duplo, com mais de 30 faixas. Pra sorte de fãs e artistas, “Dois” ficou com 12 canções e entrou para a história.

Ira!
O segundo disco de estúdio do Ira!, “Vivendo e não aprendendo” (WEA), nasceu num momento complicado. A banda gravaria no Rio de Janeiro, mas acabou batendo de frente com o produtor Liminha e o quarteto (Nasi, Scandurra, Gaspa e Jung) precisou voltar a São Paulo para terminar as sessões. Resultado: produção assinada por cinco nomes; mas com grandes clássicos: “Envelheço na cidade”, “Flores em você”, “Dias de luta”, “Gritos na multidão” e “Pobre paulista”.

Capa traz quatro desenhos de cada um dos integrantes, cada um assinado por uma pessoa diferente (Foto: Reprodução)

RPM
“Rádio Pirata Ao Vivo” marcou o auge e o princípio do fim do RPM, banda de massificação na história do RockBR. Esse álbum ao vivo nasceu de uma necessidade financeira: o quarteto (Paulo Ricardo, Deluqui, Schiavon e PA) e a CBS estavam perdendo dinheiro com uma gravação pirata de “London, London” que rodava sem parar nas rádios de todo o país (70 execuções ao dia!). Por isso, eles precisavam inserir essa canção (uma composição de Caetano Veloso) num novo disco, que foi o “Ao Vivo”, apresentado pouco mais de um ano depois da estreia fonográfica. Fato incomum. Mas acertaram em cheio: 3 milhões de LPs vendidos e cinco shows por semana. Mas o sucesso cobrou seu preço: drogas, megalomania e fim abrupto.

Capital Inicial
Dos escombros do Aborto Elétrico – lendária banda underground de Brasília na virada dos anos de 1970/80 -, nasceram a Legião e o Capital Inicial (dos irmãos Lemos e Dinho Ouro Preto). Mas esta última só foi lançar seu primeiro LP em 1986, um ano depois do compacto de estreia. Batizado apenas de “Capital Inicial” (Polygram Discos), o registro se destaca pelo material da época de Brasília, composto em parceria com Renato Russo: “Música Urbana”, “Veraneio Vascaína” e “Fátima”. Além de faixas da fase Capital, “Psicopata” e “Leve desespero”. Após um ano de lançamento, o disco havia vendido 250 mil cópias, contra a expectativa modesta dos próprios integrantes (apenas 10 mil!).

Imagem é uma foto feita por Ico Ouro Preto (Foto: Reprodução)

Paralamas do Sucesso
Na contramão do sucesso de “O Passo do Lui” (1984), Os Paralamas do Sucesso produziram “Selvagem?” (EMI-Odeon) em 1986. Segundo o baterista João Barone, em depoimento à Rolling Stone Brasil de novembro de 2006, a mudança foi estética e musical. “Era preciso deixar de lado a fórmula do que já havíamos feito (se é que ela alguma vez existiu)”. Assim, “Selvagem?” (com produção de Liminha) reúne ska/reggae, dub, batidas africanas, crítica social e brasilidades. É uma mistura que desconstrói o padrão tradicional de rock. “Este álbum realinhou a nossa ideia de música”, acrescenta Barone. Faixas em destaque: “Alagados”, “A novidade”, “Melô do marinheiro” e “Teerã”.

MENÇÕES HONROSAS
A lista de álbuns de 1986 tem ainda o “mini-LP” da punk brasiliense Plebe Rude, “O concreto já rachou” (EMI), com destaque para “Até quando esperar”, “Brasília” e “Johnny vai à guerra (outra vez)”. Na verdade, as sete faixas entraram para o repertório da banda.

Do Sul, aparece “Longe demais das Capitais” (BMG), estreia dos gaúchos do Engenheiros do Hawaii – hit “Toda forma de poder”. E, de São Paulo, o pós-punk do Inocentes, “Pânico em S.P.” (Warner), que é mais um exemplo de “mini-LP”.

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