Projetos de editoras brasileiras investem em gibis acessíveis

Iniciativa da MMarte Produções, a ideia da “Mil Grau” é retomar o “bom e velho gibi barato”, ou seja, sem aquelas edições luxuosas e caras em capa dura. E, desde 2022, a Conrad tem o selo “HQ para Todos” com preços mais em conta

Imbuído do espírito de uma época em que quadrinhos era sinônimo de banca de jornal, duas iniciativas brasileiras miram em edições mais simples e acessíveis.

De Goiânia (GO), a MMarte Produções (do casal Márcia Deretti e Márcio Júnior) lança “Mil Grau”, uma revista que carrega a tradição de títulos como “Circo”, “Chiclete com Banana”, “Animal”, “Piratas do Tietê”, “Monga”, “Mil Perigos”, “Canalha”, “Lúcifer”, “Porrada”, “Nocaute” e tantos outros. “Gibis radicais e transgressores, que fizeram a nossa cabeça e forjaram o que é o quadrinho brasileiro do século 21”, diz a editora em seu site.

Segundo informações, o número de estreia terá nomes como João Pinheiro, Sirlene Barbosa, Álvaro Maia, Diox, Gabriel Renner, Márcio Jr., Allan Matias, Marcelo D’Salete, André Toral, Wagner Willian, Trimano e Luiz Gê. Em resumo, quadrinistas brasileiros veteranos, novos e consagrados.

O planejamento é apresentar o novo gibi durante a PerifaCon. Trata-se da primeira convenção nerd das favelas, cuja primeira edição ocorreu em 2019, reunindo 4 mil pessoas no Capão Redondo, em São Paulo. Em 2023, a expectativa é de 15 mil pessoas na Cidade Tiradentes (que abriga o maior complexo de conjuntos habitacionais da América Latina, com cerca de 40 mil unidades e uma população de 211.501 mil habitantes); inclusive, existe uma campanha de financiamento coletivo no Catarse para quem quiser apoiar (link: www.catarse.me/perifacon_2023_3863).

A ideia da “Mil Grau” é retomar o “bom e velho gibi barato”, ou seja, sem aquelas edições luxuosas e caras em capa dura, papel de alta gramatura e lombadas invocadas. “Pois a MIL GRAU tá chegando nas pistas pra lembrar daquele tempo em que HQ não custava o zóio da cara e nem estava encastelada em livrarias e lojas especializadas. Um tempo em que bastava dar uma pernada até a banca da esquina e fazer um investimento equivalente a duas ou três carteiras de cigarro”, diz o site da editora.

Quem não puder adquirir seu exemplar na PerifaCon, a MMarte está em pré-venda com preço promocional de R$ 40 (e frete grátis) em seu site (https://www.mmarteproducoes.com/product-page/mil-grau).

“Mil Grau” tem formato 20 x 27cm, lombada canoa (grampos), 48 páginas PB, capa em cores (sobre papel couché brilho, 170g).

Página do gibi da Conrad, “A Noite dos Palhaços Mudos” (Foto: Ilustrativa/Conrad)

CONRAD
Já a Conrad publica o selo “HQ para Todos”, com edições simples (em capa cartão, grampeada), muito parecidas com aquelas compradas antigamente em bancas de jornal. O melhor é o preço acessível (entre R$ 9,90 e R$ 14,90) aos leitores.

Já são sete números lançados até o momento. O mais recente é “Primo”, de Eduardo Medeiros, uma história curta, divertida e casual. Custa R$ 14,90.

Outro foi “O Drama da Escolinha”, de Max Andrade. A história acompanha Gustavo e Pablo, dois melhores amigos que se tornam rivais inesperados ao descobrirem que gostam da mesma menina. Uma mistura de drama com comédia.

O selo também já publicou o clássico “A Noite dos Palhaços Mudos”, de Laerte, em volume com 32 páginas em preto e branco, capa grampeada (R$ 9,90 em edição impressa). Publicada originalmente em 1987 na Revista Circo, nº 4, e, mais tarde, na coletânea “Os piratas do Tietê e outras barbaridades” (1994), essa HQ tem um subtexto político ao mesmo tempo marcante e sutil.

O projeto da Conrad foi apresentado em dezembro do ano passado, durante a CCXP, com a venda antecipada de “Mayara & Annabelle e a Carreta Fantasma”, de Pablo Casado e Talles Rodrigues; e “A Sala de Espera da Europa”, de Aimée de Jongh.

No caso de Mayara & Annabelle, é uma história inédita em que ninja paulista e a maga cearense funcionárias do serviço da Secretaria de Controle de Atividades Fora do Comum, a SECAFC, devem lidar com os misteriosos desaparecimentos em trenzinhos da alegria locais.

A narrativa de Aimée de Jongh, por outro lado, toca em um tema sensível e de extrema relevância nos tempos atuais. Baseado no período que a autora passou em um campo de refugiados na ilha grega de Lesbos, “A Sala de Espera da Europa” é uma reportagem em quadrinhos que denuncia as condições dos refugiados que para lá se deslocam em busca de uma vida melhor.

Deixe um comentário