No meio do caminho: 35 anos sem Carlos Drummond de Andrade

No Brasil, pode-se dizer que 17 de agosto de 1987 é a data em que morreu a poesia. Tudo porque se trata do dia em que o poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade faleceu, aos 84 anos de idade. Assim, nesta quarta-feira (17), completam-se 35 anos de sua ausência

Para os amantes do rock, 3 de fevereiro de 1959 é considerado um “The Day the Music Died” (“O dia em que a música morreu”), pois é a data em que ocorreu o acidente aéreo nos Estados Unidos que resultou na morte dos músicos Buddy Holly, Ritchie Valens e The Big Bopper, além do piloto Roger Peterson.

No Brasil, pode-se dizer que 17 de agosto de 1987 é a data em que morreu a poesia. Tudo porque é o dia em que Carlos Drummond de Andrade faleceu, aos 84 anos de idade. Nesta quarta-feira (17), completam-se 35 anos de sua ausência.

Assim como a música, é claro que a poesia continua existindo e sendo praticada. No entanto, simbolicamente aquele 17 de agosto marcou o fim de uma era, a era de um dos nossos maiores escritores.

Sua morte, em 1987, ganhou a capa dos principais jornais brasileiros no dia seguinte, 18 de agosto. Aliás, o Estadão manchetou: “Morre Drummond, o poeta brasileiro”.

Nas páginas internas, o assunto dominou os cadernos desse jornal paulistano, com direito a reprodução do célebre poema “No meio do caminho” e da crônica “A vida? Ela esgota, termina, acabou. Mais nada”.

Segundo o jornal, Drummond morreu às 20h45 de 17 de agosto, de enfarte do miocárdio e insuficiência renal, na UTI da clínica Pró-Cardíaco, no Rio de Janeiro, onde fora internado na madrugada do sábado anterior.

Tragicamente, ele faleceu apenas 12 dias depois de sua única filha, Maria Julieta. “…vinha então demonstrando uma tristeza profunda. Mineiro de Itabira, tinha 84 anos e não estava mais escrevendo, depois de ter publicado 43 livros e colaborado com artigos, crônicas e poesias em importantes jornais do país”, diz um dos textos.

Segundo a informação, o escritor participou da Semana de Arte Moderna de 1922, que completou 100 anos em 2022, e publicou em 1927 o poema “No meio do caminho”, que é o “mais famoso e mais polêmico de sua obra”, conforme o Estadão.

Capa do Estadão de 18 de agosto de 1987 (Foto: Reprodução)

ESTREIA
Publicado em 1930, numa pequena tiragem não comercial de apenas 500 exemplares – de uma imaginária edições Pindorama -, “Alguma poesia” assinala a estreia de um autor que, então com 28 anos, iria revolucionar a poesia de língua portuguesa no século 20.

Com peças como “Poema de sete faces”, “Infância”, “No meio do caminho”, “O sobrevivente”, o livro demonstra já a enorme maturidade do jovem Drummond, ainda estabelecido em Belo Horizonte.

Dois anos antes, Drummond havia causado escândalo entre as hostes literárias ao publicar, na Revista de Antropofagia, o poema “No meio do caminho”. Era o início da carreira de escândalo do poema, reconstruída nos anos de 1960 pelo próprio autor em um livro que reuniria os ataques, as paródias e as contendas relacionadas ao poema.

“Mas para além da polêmica, ‘Alguma poesia’ já apresenta aquilo de melhor que Carlos Drummond de Andrade iria oferecer ao longo de quase 60 anos de uma das carreiras mais fecundas da literatura moderna: o lirismo, o humor, o tom meditativo e irônico, a observação desencantada dos fatos, o sensualismo, a reflexão aguda sobre o amor e a morte”, resume o site Carlos Drummond de Andrade (www.carlosdrummond.com.br).

Aliás, essa plataforma online (com acesso gratuito) é um instrumento de democratização do legado do poeta mineiro. A trajetória biográfica, os afetos, as anedotas, os causos sobre o autor; mas também as leituras finas e atentas de sua poesia e de sua crônica: tudo isso forma o grande conteúdo da página de Drummond na internet.

Através do trabalho biográfico empreendido por Humberto Werneck, e continuamente alimentado – com material textual e bibliográfico -, o site é o principal portal de acesso à obra de Drummond.

Para ler, ver e até ouvir as obras e olhares do escritor, o acervo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) dispõe de conteúdos que são verdadeiras relíquias, como é o caso de uma entrevista que ele concedeu a Maria Muniz, anos de 1950, que foi trazida a público agora em 2022.

Na entrevista, ele recita poesias como “Poema das Sete Faces”, “Confidência do Itabirano”, “Infância”, “Caso do Vestido”, “O Mito”, “Caso Pluvioso”, “Desaparecimento de Luísa Porto”, “Pombo-Correio”, e “Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte”. Acesse: https://bit.ly/3AokbjJ

TRAJETÓRIA
Um dos maiores nomes da poesia brasileira de todos os tempos, Drummond levou uma existência aparentemente modesta e avessa aos holofotes enquanto burilava uma obra vasta e rigorosa.

Vivendo no Rio de Janeiro entre 1934 e 1987, o mineiro atravessaria boa parte do século 20 produzindo poesia, crônica para os jornais e marcando, sobretudo com sua obra, todas as gerações posteriores da literatura produzida no Brasil.

Em 2 de novembro de 1977, Drummond foi matéria de capa da revista Veja, no número nº 478, com texto assinado por Humberto Werneck. Naquela ocasião, comemoravam-se os 75 anos do escritor, chamado de “O poeta maior” pela publicação.

*****Texto/Pesquisa: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br

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