Documentário sobre Mojica, o Zé do Caixão, completa 20 anos
Entre os filmes disponíveis na Spcine Play, o destaque é “Maldito – O Estranho Mundo de José Mojica Marins” (2000). É uma produção sobre a vida e, principalmente, a obra cinematográfica do famoso diretor brasileiro
Proibido, polêmico, ousado, instintivo. Faltam palavras para descrever a trajetória de José Mojica Marins na história do cinema brasileiro.
Um bom painel disso está em “Maldito – O Estranho Mundo de José Mojica Marins” (2000), documentário dirigido pelos jornalistas André Barcinski e Ivan Finotti. Em 2020, esse material completa 20 anos de sua primeira exibição no festival É Tudo Verdade, que foi em abril de 2000. Portanto, data oportuna para revê-lo.
E isso é possível de ser feito de maneira gratuita e legal pela internet. A Spcine Play, que é um serviço de streaming mantido por empresa pública, ainda está com seu acervo aberto gratuitamente. A promoção não tem data para acabar. Basta acessar seu site (www.spcineplay.com.br/) ou baixar o aplicativo da Looke para smartphones e smartvs.
Entre os filmes disponíveis, com foco na produção brasileira, um deles é esse audiovisual feito por Barcinski e Finotti. Na verdade, o documentário é baseado no livro feito a quatro mãos pelos diretores: “Maldito – A vida e o cinema de José Mojica Marins, o Zé do Caixão”, publicado originalmente em 1988. Em 2015, a obra foi relançada pela editora Darkside com o título “Zé do Caixão – Maldito, A Biografia”. Nesta edição, são 666 páginas dedicadas a repassar principalmente a produção cinematográfica de Mojica, jogando luzes na sua contribuição ao cinema nacional.
Ou seja, a produção disponível no catálogo da Spcine Play condensa toda a história de um diretor que se tornou “maldito”: malhado pela crítica, proibido pela censura e repudiado pelo conteúdo. Mas, acima de tudo, adorado pelo público sedento por terror e horror.
Em pouco mais de uma hora de duração, “Maldito – O Estranho Mundo de José Mojica Marins” apresenta as origens de seu personagem, um cara que nasceu numa sexta-feira 13, morou nos fundos de uma sala de cinema em São Paulo e imortalizou sua maior criação: o coveiro materialista Zé do Caixão.
Ele fez tudo isso de maneira independente e autodidata, sem depender de financiamento público. O cineasta utilizava a bilheteria de seus filmes para injetar dinheiro para o próximo trabalho.
ESTRUTURA
Feito a partir de entrevistas com técnicos do meio cinematográfico, atores e o próprio José Mojica Marins, o documentário dirigido por Barcinski e Finotti aborda os principais lances na trajetória do diretor: primeiros filmes, os clássicos, Zé do Caixão, a recepção do público, a censura, a fama fora do país… enfim, é uma boa amostra para o público iniciante.
Um ponto forte do filme é a inclusão de cenas das produções de Mojica, caso de “A Meia-Noite Levarei sua Alma” (1964) e “Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1968), por exemplo. Um verdadeiro deleite. Nesses trechos é possível ter dimensão da obra de Mojica. Afinal, são sequências fortes, com o personagem Zé do Caixão em cena, profanando elementos caros à religiosidade cristã: por exemplo, come carne diante de uma procissão da Sexta-Feira Santa. É preciso lembrar de que se trata de um coveiro que só acredita na continuidade do sangue, ou seja, na matéria.
Inclusive, o escritor R. F. Lucchetti, que também foi colaborador de Mojica, aponta em seu depoimento para o documentário que os filmes do diretor brasileiro eram únicos e diferentes do cinema europeu e norte-americano no gênero do terror.
Outras cenas chocantes estão em películas como “O Despertar da Besta/Ritual dos sádicos” (1969), em que Mojica põe em primeiro plano o problema das drogas, um assunto tabu à época. Isso provocou a ira de censura na ditadura, que queria destruir os negativos desse filme.

CURTA
André Barcinski, André Finotti e Ivan Finotti também dirigiram o curta-metragem “Mojica na Neve – Esta Noite Encarnarei em Sundance” (2001), disponível na Spcine.
O filme trata das aventuras do cineasta José Mojica Marins (o Zé do Caixão) no Festival de Sundance 2001. Mojica aproveitou para entrevistar celebridades e conhecer os cemitérios da região. Se emocionou ao ver, pela primeira vez em 65 anos, a neve.
CATÁLOGO
Morto em 2020, José Mojica Marins deixou um importante legado para o cinema brasileiro.
Além do documentário sobre sua obra, a Spcine Play também tem um catálogo dedicado a vários filmes de Mojica. Estão lá: “A Meia-Noite Levarei sua Alma” (1964), “Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver” (1968), “Delírios de um Anormal” (1978), “Finis Hominis – O Fim do Homem” (1971), entre outros.