‘Cães de Aluguel’: 30 anos da estreia de Quentin Tarantino na direção
Há 30 anos, o diretor Quentin Tarantino estreava como diretor no filme policial “Cães de Aluguel”. Era uma produção que arrancou elogios da crítica e apresentou elementos que seriam uma marca do estilo do criativo cineasta: violência, narrativa não-linear, ação, diálogos afiados e trilha sonora vintage
White, Brown, Blue, Orange, Blonde, Pink. Não, não se trata das cores em inglês. São os nomes de guerra de seis bandidos convocados por Eddie e Joe para assaltar uma joalheira. Só que dá tudo errado. E eles desconfiam de um traidor.
Em poucas palavras, assim é “Cães de Aluguel” (“Reservoir Dogs”, título original), a impactante estreia de Quentin Tarantino atrás das câmeras, em 1992. Antes, o diretor norte-americano havia escrito roteiros para outros diretores.
E que início. A produção independente com os senhores White (Harvey Keitel), Brown (Tarantino, o próprio), Blue (Edward Bunker), Orange (Tim Roth), Blonde (Michael Madsen) e Pink (Steve Buscemi), os tais “cães de aluguel”, não poupa em violência, cinismo, ação, trilha sonora vintage, narrativa não-linear e, claro, os famosos diálogos.
Logo na primeira cena, os seis bandidos estão em torno de uma mesa, num restaurante, discutindo sobre o significado da letra da canção “Like a Virgin”, eternizada na voz de Madonna nos anos de 1980. É uma conversa banal, sem ligação com o assalto, mas que se torna um dos melhores momentos desse filme que completa 30 anos em 2022.
Os melhores trabalhos de Tarantino levam essa marca: os diálogos bem construídos, que podem tanto versar sobre fatos corriqueiros quanto do cerne da ação.
Dizem que, antes da fama em Hollywood, o diretor trabalhou em uma videolocadora (lugares mágicos onde as pessoas alugavam filmes em fitas VHS, numa era pré-streaming). Como deveria ser uma conversa com Tarantino naquela época, um cara com a cabeça mergulhada em produções ora clássicas, ora obscuras?
VIOLÊNCIA
Como se trata de um gênero policial, “Cães de Aluguel” carrega forte nas cenas de violência, tiros e personagens casca grossa. Este é outro aspecto também muito presente na cinematografia tarantinesca.
Nesse sentido, a cena de tortura encabeçada por Mr. Blonde, no longa de 1992, é ao mesmo tempo horripilante e fascinante. Afinal, tem altas doses de psicopatia e crueldade. O personagem é um maníaco que dança ao som de “Stuck in The Middle With You”, canção dos Stealers Wheel, enquanto retalha um policial.
Aliás, uma das marcas do cinema de Tarantino é a trilha sonora, que costuma recuperar velhas canções de décadas atrás, um tipo de som vintage.
GÊNERO
A principal marca de “Cães de Aluguel” é a narrativa não-linear, que alterna momentos do presente com cenas do passado de alguns dos personagens, explicando aos poucos alguns detalhes da trama. O espectador ainda toma contato com o lado pé no chão dos bandidos; ou seja, são pessoas comuns, sem maniqueísmos.
Curiosamente, é uma estratégia complexa feita em cima de um dos padrões mais conhecidos do policial hollywoodiano: o filme de assalto. “Gosto de trabalhar com gêneros clássicos”, disse Tarantino, em matéria publicada em 29 de outubro de 1992, no jornal O Estado de S.Paulo. O cineasta estava no Brasil para a exibição de seu longa na famosa Mostra Internacional da capital paulista.
Tarantino explicou que seu objetivo era subverter os códigos conhecidos do público. “É o que ele fez em ‘Reservoir Dogs’”, diz a matéria, referindo-se ao título original do longa-metragem. “Há muitos diálogos em ‘Reservoir Dogs’. A ação é sangrenta. O teatro armado por Tarantino para seus gângsteres é grande cinema”.
Segundo o texto, revistas francesas, como a lendária Cahiers du Cinéma, tratavam o novato diretor como novo gênio. O ator Harvey Keitel, também coprodutor do filme, chamou Tarantino de “Martin Scorsese dos anos 90”, comparando ao famoso nome por trás de “Taxi Driver” (1976) e “Os Bons Companheiros” (1990).
FILMOGRAFIA
Depois de “Cães de Aluguel”, Quentin Tarantino escreveu e dirigiu filmes que marcaram seu tempo: “Pulp Fiction” (1994), “Kill Bill – Volume 1” (2003), “Kill Bill – Volume 2” (2004), “Bastardos Inglórios” (2009), “Django Livre” (2012), “Os Oito Odiados” (2015), “Era uma Vez em… Hollywood” (2019), entre outros.
Em 2021, Tarantino confirmou em uma entrevista ao programa “Real Time” que o próximo filme será o último. Ele justificou a saída dizendo que o ideal é parar enquanto se está no auge.
******Texto/Pesquisa: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br