Arquivos Culturais: Há 40 anos, o hit ‘Fio de Cabelo’ botava o sertanejo em evidência

Oriundos do interior do Paraná, Chitãozinho e Xororó estouraram de vez em 1982, com o hit “Fio de Cabelo”, segunda faixa do disco “Somos apaixonados” (selo Copacabana)

Na capa, dois rapazes com cabelo repartido ao meio e vestidos a caráter; na contracapa, a dupla na estrada, à frente de seu trailer. Dentro, a recordação da amada. “Qualquer coisa serve para relembrar”, diz o verso, citando vestido, perfume e o indefectível fio de cabelo.

Há 40 anos, os irmãos paranaenses José Lima Sobrinho e Durval de Lima cantavam “Fio de Cabelo”, uma canção que estourou nas paradas de sucesso, vencendo preconceitos e botando o sertanejo em evidência nas rádios FM. Artisticamente, eles são mais conhecidos como a dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó.

Em 1982, eles lançaram o vinil “Somos apaixonados” (selo Copacabana), oitavo álbum de estúdio, que tem essa famosa faixa composta por Marciano (da dupla com João Mineiro) e Darci Rossi no estilo da guarânia. Aliás, o disco todo é repleto de influências latinas e gênero de fronteira, ao “sabor mexicano”, muito comuns à chamada música caipira na virada dos anos de 1960 para os 70 (vide Milionário e José Rico): canção rancheira, polca, bolero, cachamé, toada, guancheira… predomínio de metais e sanfona.

A esse modo de tocar, os irmãos de Astorga (a 320 km de Guarapuava) somaram o romantismo exagerado e o melodrama, dando as bases nos anos 80 do que viria a ser a “sofrência sertaneja” dos tempos atuais. Segundo Lucas Brêda, em reportagem para o jornal Folha de S.Paulo (20 set 2022), “Fio de Cabelo” pôs a música sertaneja no cardápio dos ritmos mais consumidos do Brasil. “Mais até do que isso, ela trouxe uma nova poética para o estilo, que ficou mais próximo da música romântica ou brega”.

Quando a gente ama
Qualquer coisa serve para relembrar
Um vestido velho da mulher amada
Tem muito valor

Aquele restinho do perfume dela que ficou no frasco
Sobre a penteadeira mostrando que o quarto
Já foi o cenário de um grande amor

E hoje o que encontrei me deixou mais triste
Um pedacinho dela que existe
Um fio de cabelo no meu paletó
(“Fio de Cabelo”, 1982)

“Eu diria que foi a primeira canção que abriu essa porteira para a música se tornar mais romântica e mais bem elaborada de poesia, de harmonia e de tudo”, diz Xororó, em entrevista à Folha.

Se a crítica e alguns nomes icônicos do caipirismo torceram o nariz, o público gostou. Nas vozes de Chitãozinho e Xororó, a composição de Marciano e Rossi vendeu mais de 1 milhão de cópias do álbum “Somos Apaixonados”. “É um patamar alcançado apenas por gente como Roberto Carlos e Nelson Gonçalves, impensável para a música sertaneja àquela altura”, escreve Brêda.

Capa do disco lançado em 1982 (Foto: Reprodução)

FAIXAS
O disco quarentão da dupla paranaense é formado por 12 faixas, com destaque para músicas como “Somos apaixonados” (Darci Rossi/Chitãozinho), “Chama de amor” (Jack/Cleide) e “Ela fez minha cabeça” (Constantino Mendes/José Homero). E, claro, “Fio de Cabelo” (Marciano/Darci Rossi), que é a segunda canção do Lado A.

Aliás, o álbum tem uma canção assinada por Nelson Ned (1947-2014), o bolero “Quem é você”. Ele é um dos grandes nomes da música brasileira, tendo sido campeão de vendas à sua época.

Gravado nos Estúdios Dó Re Mi SP em 24 canais, o disco é produzido por Homero Bettio e Ronaldo Adriano; com arranjos do maestro galego e trompetista Evêncio Rana Martinez, figura central para centenas de músicas “pistonistas”, ou seja, no pistão dos metais.

E Bettio marcou um ponto de virada na carreira de Chitãozinho e Xororó. À época, antes mesmo de “Somos apaixonados”, o produtor veio com uma ideia musical que ressoou na dupla, dando novo tratamento às gravações e ascensão para os irmãos em canções como “60 Dias Apaixonado”, de 1979, e “Amada Amante”, de 1981.

******Texto/Pesquisa: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br

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