De olho no NFT

Uma nova forma de certificar a autoria de um trabalho, vender porções, investir em artes promissoras ou se aventurar em itens digitais colecionáveis. Esse é um mercado que pode despertar o interesse da classe artística

NFT (“non-fungible token”, em inglês; ou “token não fungível”). O novo boom de vendas digitais é um certificado de posse de um arquivo digital. Ainda muito criticado, o novo formato deve levar algum tempo para cair no gosto dos investidores e empresários. Mas, é o novo queridinho dos artistas. 

Na prática, imagens e músicas, por exemplo, podem ser transformadas em NFT e comercializadas; desde o surgimento dessa “moeda”, memes – imagens virais que circulam na internet – já rendem milhares de dólares. 

E a explicação para o apelo é simples: quem adquire um NFT, torna-se proprietário do conteúdo. Ou seja, nada mais é que um criptoativo, um tipo de moeda colorida de bitcoin, mas que acaba indo além. 

O interesse da classe artística, em linhas gerais, nasceu porque qualquer trabalho, físico ou virtual, pode ser convertido em NFT. Isso inclui itens em jogos, músicas, cards digitais, vídeos, memes etc. 

Os brasileiros já entraram para esse mundo também. Um dos maiores youtubers do Brasil, Felipe Neto, vendeu NFTs de cards de sua série de Minecraft por valores bastante baixos para esse mercado. 

Os cartões virtuais custam entre R$ 100 e R$ 500 e foram viabilizados através de sua nova empresa, 9 Block. Atualmente, a empresa já conta com artes de diversos artistas e com os mais variados temas. 

SATISFIRE 

O baixista Anderson Ferreira é integrante da banda guarapuavana SatisFire, que surgiu nos anos 2000 sob o comando de quatro adolescentes e que se estendeu até meados de 2013 com lançamentos, turnês nacionais, videoclipes e discos. 

Quando os integrantes passaram a investir em projetos individuais, a banda acabou entrando em pausa, mas eles nunca deixaram de manter contato e shows esporádicos. 

Em 2021, Anderson, que já investia em NFT na sua carreira-solo, sugeriu aos outros integrantes que disponibilizassem aos fãs e ao mercado do novo ativo digital uma porcentagem nos lucros da música “Blood on the Ground”, lançada em 2013. 

A plataforma escolhida para hospedar a NFT foi a All Be Tuned, uma empresa focada em artistas independentes e nesse mercado digital. 

Para ele, o mercado do novo criptoativo é uma grande aposta para os artistas. “Nós temos 100% dos direitos dessa música, por que fomos nós que criamos toda ela, então decidimos transformar uma porcentagem desses 100% em moeda. Nesse caso, a NFT. Quanto mais essa música se tornar conhecida, mais possibilidade de gerar lucro para todas as partes. E essa pessoa que compra com a gente pode revender depois. E isso faz com que essa moeda tenha um grande potencial. Eu mesmo estou vendendo NFTs de outros trabalhos, projetos solos e acredito cada vez mais que isso possa crescer”, diz. 

Atualmente a NFT de “Blood on the Ground” é diferente dos cards oferecidos pela 9 Block. A All Be Tuned vende neste momento 20 certificados e cada um deles equivale a 1% nos direitos de distribuição da canção. Ou seja, cada comprador passa a ser dono de 1% desses lucros.

MERCADO 

O empresário Márcio Kaliszaka é um dos entusiastas da nova moeda em Guarapuava e confia no potencial econômico que ela pode gerar à classe artística. 

“A previsão para daqui uns anos é que você tenha uma segunda realidade, um Metaverso. Então muita coisa que você ‘tokeniza’, que você transforma em token, você pode comercializar dentro dessa segunda realidade. Penso que mais daqui uns anos o registro de propriedade das músicas, por exemplo, vai ser todo na Blockchain, na rede, na NFT. Um exemplo muito claro desta segunda realidade é o jogo Second Life, onde as pessoas compravam terrenos virtuais caríssimos e marcas reais como a Coca-Cola investem em anúncios dentro desses terrenos”. 

E não é só a classe artística quem deve ficar de olho no criptoativo do momento, mas também empresários e colecionadores. Não somente artes, música ou cards estão sendo vendidos virtualmente, mas também roupas e sapatos.

Recentemente, a Havaianas vendeu sua primeira coleção digital de chinelos. Segundo o site Valor Investe, a coleção Alpargatas Happy Feet foi vendida por 0,28 Ethereum (ETH), o equivalente a R$ 5,6 mil. Quem comprou foi  João Canhada, presidente da corretora de criptomoedas Foxbit. 

Sobre isso, o empresário Márcio Kaliszaka reforçou as possibilidades do NFT. 

“Nós tivemos uma cliente nossa que é pintora e ela queria comprar um óculos de realidade virtual para pintar em um ambiente virtual da mesma maneira que ela pinta no real. E isso ela pode salvar e transformar em uma NFT, transformar em uma imagem criptografada que gere lucro para ela”, diz. 

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