‘Memórias da África’ reúne o trabalho de artesão e historiador do Seu Tuto

Idealizado por seu filho, Dudu do Contempla, em conjunto com a Unicentro, a mostra ficará disponível até a próxima sexta-feira (22)

Se algum de vocês ver rolar lágrimas do meu rosto, são de felicidade. É com a minha simplicidade que eu conquistei o povo de Guarapuava, disse Jozoel de Freitas, o Seu Tuto, após ser homenageado na abertura da exposição Memórias da África, nesta segunda-feira (18) no Centro de Exposições do campus Santa Cruz da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

Figura conhecida na terra do lobo bravo, o Seu Tuto se notabilizou como um hábil artesão e historiador, reunindo um acervo cultural que foi reconhecido como patrimônio imaterial pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2017.

Agora, por iniciativa do seu filho, Dudu do Contempla, e da Diretoria de Cultura da Unicentro (Dirc), um pedaço desta história está reunido na universidade. A gente vem amadurecendo essa ideia há bastante tempo: como fazer para trazer um pedacinho daquela casa, daquele acervo, conta Dudu.

Andressa Rodrigues, responsável pela curadoria da exposição, explica que a estética da casa histórica é muito curiosa. Eu falo que é uma ‘casa-museu’, porque por onde você olha tem algo que chama a sua atenção, explica, pontuando que na organização da mostra buscou reproduzir a sensação de estar dentro do local.

Trouxemos as obras que ele tem preferência. Meu trabalho entrou na parte de seleção das fotografias, dos recortes e documentos, e na organização da exposição, completa.

Obras do Tuto estão expostas no campus Santa Cruz (Douglas Kuspiosz/Correio)

HISTÓRIA

Com uma longa trajetória como funcionário público de Guarapuava, Seu Tuto conseguiu reunir um rico acervo sobre o Clube Social Rio Branco, além de obras de artesanato (entalhes em madeira e esculturas), pintura e materiais de coleção. Ele agradeceu as homenagens e a realização da exposição, dizendo ter orgulho de ser guarapuavano.

Muito fácil de rolar as lágrimas do meu rosto. Mas não é de sofrimento, e sim de alegria e emoção por poder estar fazendo algo pelo bem da cultura de nossa cidade, trabalhando com as escolas e com os acadêmicos, disse, ressaltando que a sua casa está de portas aberturas à comunidade. Acho muito importante não para mim, mas para os estudantes de Guarapuava, completou.

ÁFRICA

Em suas obras de artesanato, a África é uma temática recorrente. Tuto explica que isso acontece de forma natural, e a inspiração talvez seja porque seus avós foram escravos. Eu pego uma madeira e os primeiros cortes vão se tornando um guerreiro, alguma coisa assim, conta.

Sai tudo da minha mente, diz ainda, creditando sua inspiração aos seus ancestrais africanos. Eles que morreram em troncos, acorrentados. Eles passam suas energias para mim, completa, lamentando que ainda exista preconceito.

Familiares do artista e o Grupo Contemplação marcaram a noite (Douglas Kuspiosz)

VALOR ACADÊMICO

A exposição também teve parceria do Departamento de História (Dehis) do campus de Irati da Unicentro. A professora Alexandra Lourenço explica que a figura do Seu Tuto é muito importante para a cultura de Guarapuava, principalmente por conta do seu trabalho como historiador.

Quando você visita a casa dele, existe só enquanto documentos um acervo extremamente interessante para quem deseja pesquisar a história de Guarapuava, principalmente pensando em suas raízes africanas, pontua.

Alexandra ainda conta que tem orientado dois acadêmicos que vêm fazendo visitas ao Seu Tuto com o objetivo de catalogar os documentos e digitalizar, para que mais pessoas tenham acesso, e também para registrar a história oral.

Ele tem uma memória vívida para contar desde o pai dele em Guarapuava, até o seu próprio percurso. Através dessa memória ele nos dá relatos, e há muito a ser explorado. Cabe ao historiador tentar reconstruir essa história do tempo mais próximo, que ela ainda pode nos contar, detalha Alexandra, ressaltando ainda o valor dos trabalhos artísticos.

SERVIÇO

A exposição Memórias da África segue disponível para visitação no Centro de Exposições do campus Santa Cruz da Unicentro (rua Salvatore Renna, 875 – Santa Cruz) até a próxima sexta-feira (22).

A mostra reúne entalhes em madeira, pintura, artesanato, fotografias e recortes de documentos.