Pesquisadora destaca importância de planejamento das cidades como prevenção a desastres naturais
Daiane Chiroli, professora do Campus Apucarana da UTFPR, coordena o grupo de pesquisa do diretório da Capes em Gestão da Logística Humanitária, Urbana e de Desastres (GLHUD)
Aproximadamente 70% dos brasileiros vivem em áreas sob o risco de desastres ambientais relacionados a chuvas intensas, segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. Ao todo, são 2.120 cidades nessa situação, o que exige resiliência das políticas públicas para a área, como defende a professora do Campus Apucarana da UTFPR Daiane Maria De Genaro Chiroli.
A pesquisadora vem estudando, desde 2017, projetos de pesquisa e extensão envolvendo a gestão urbana e de desastres. Ela é coordenadora do grupo do diretório da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) em Gestão da Logística Humanitária, Urbana e de Desastres (GLHUD). O objetivo é usar indicadores para analisar as cidades e pensar em como torná-las mais preparadas para os desastres que possam ocorrer.
Um dos estudos do grupo é com relação as cidades resilientes, resiliência a desastres e o impacto da resiliência nas estruturas urbanas, utilizando a norma técnica ISO 37123 (ABNT) e o tripé da sustentabilidade com dois questionamentos: como a paisagem de a pesquisa em torno das cidades resilientes evoluiu; e qual eixo do tripé da sustentabilidade recebe maior foco nas pesquisas sobre cidades resilientes.
Recentemente, os estudos foram publicados em um artigo no International Journal of Disaster Risk Reduction. O artigo tem como autores, além de Daiane, outros pesquisadores da UTFPR, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Programa de Pós- Graduação em Engenharia Urbana da Universidade Estadual de Maringá (UEM): Maria Gabriela Menezes, Fernanda Cavicchioli Zola, Franciely Velozo Aragão, Rafael Dezotti de Almeida e Sergio Mazurek Tebcherani.
Segundo a professora Daiane, o Governo Federal dispõe de um instrumento chamado ‘Construindo Cidades Resilientes 2030’, liderado pelo Escritório das Nações Unidas para a Redução de Riscos (UNDRR) e destinado a apoiar o desenvolvimento de ações que fortaleçam a resiliência das cidades. “No entanto, a avaliação atualmente empregada ainda carece de profundidade. Nesse sentido, a criação de um instrumento abrangente para a avaliação dos indicadores de resiliência das cidades, juntamente com a implementação de um plano de ação mais eficaz, é fundamental”, explica.
No estudo publicado, o grupo cita que o principal desafio para alcançar a reconstrução habitacional e construir resiliência reside em priorizar deficiências e problemas, em vez de explorar o potencial dentro das comunidades. “A rápida urbanização e o crescimento populacional aumentaram a vulnerabilidade das cidades às alterações climáticas e aos desastres ambientais, resultando no desamparo das comunidades afetadas”, destacam.
“Mesmo uma pequena ação pode ter resultados perturbadores em cidades onde a resiliência está ausente ou menos desenvolvida”, completam no artigo. “A frequência crescente de catástrofes naturais, atribuídas principalmente às alterações climáticas, sublinha a urgência de incorporar estratégias de resiliência ambiental no planeamento urbano. A crescente urbanização que contribui para as catástrofes induzidas pelas alterações climáticas exige uma mudança de paradigma no planeamento urbano e na gestão de recursos. Os estudos enfatizam a importância de medidas como conservação ambiental, desenvolvimento de espaços verdes e estratégias de mitigação”.
Alguns exemplos foram analisados pela equipe como Taiwan, em que, mesmo a região sendo suscetível a terramotos, a população não confiava nas previsões e não estava disposta a pagar mais impostos pela política de redução do risco sísmico. Já em Nova York, a população de elite da cidade demonstrou estar disposta a pagar mais por espaços resilientes e sustentáveis.
“Todas essas questões, aliadas às pesquisas conduzidas pelas universidades, pode ser o caminho bem-sucedido para aprimorar as iniciativas destinadas a tornar nossas cidades mais resilientes e preparadas para os desafios cada vez mais frequentes e intensos relacionados aos eventos climáticos”, completa Daiane.
Agora, o grupo tem concentrado suas pesquisas no desenvolvimento de uma ferramenta de avaliação da maturidade das cidades com foco na sustentabilidade, inteligência e resiliência.
ISO 37123
A norma técnica ISO 37123 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) é de 2019 e trata das cidades e comunidades sustentáveis – Indicadores para cidades resilientes. Segundo a publicação, as cidades necessitam de indicadores para mensurar seu desempenho de forma a serem padronizados, consistentes e comparáveis entre si, buscando garantir qualidade de vida e sustentabilidade na implantação de políticas, programas e projetos que atendam às necessidades de seus habitantes.
“O objetivo principal da certificação é ajudar as cidades a atrair investimentos e impulsionar o desenvolvimento econômico com dados comparativos globais”, conforme o documento da ABNT.