Crônica: Aulas para beijar sapos

Confira a crônica de Rodrigo Alves de Carvalho, “Aulas para beijar sapos”

A princesa era uma criança ainda, quando seus pais convocaram alguns magos especialistas em encantamentos para ensinarem a menina sobre a nobre arte de desencantar príncipes belos e formosos transformados em sapos.

Sabiam que a princesa ao se tornar moça, teria que estar preparada para o grande momento de sua vida, o mágico instante em que seus lábios osculariam um anuro não comestível, ou melhor, beijaria um sapo asqueroso.

Tarefa difícil para os pacientes magos, já que a princesa morria de medo de qualquer sapo, até mesmo das pequenas pererecas.

Com muita sapiência e carinho, os magos fizeram pequenos sapinhos de borracha, ao qual a menina aos poucos foi se aproximando, até que perdera o medo daquele inofensivo e até bonitinho sapinho de brinquedo colorido.

Chegava a hora da segunda fase dos ensinamentos e a princesa, que já entrara na puberdade, teria que encarar pequenos sapos de verdade.

No começo a coisa não saiu como esperado e quando os sapos saltavam em seus recipientes, a princesa se descabelava toda de tanto pavor.

Levou um bom tempo para a mocinha se aproximar dos recipientes. A terceira fase consistia na princesa tocar o sapinho vivo. Novamente, demorou alguns meses para que finalmente ela perdesse o medo e segurasse o anfíbio em suas delicadas mãos de princesa.

O mais importante era o treinamento do beijo, e a princesa foi apresentada ao Sapeca, um sapo já adulto com pele esverdeada e mechas marrom, soltava um líquido como musgo pela pele, dando um aspecto ainda mais asqueroso e nojento ao batráquio.

A princesa relutou por várias semanas, mas como compreendia que era sua sina e que todos no reino contavam com o beijo para a felicidade geral de todos, ela encarou com coragem, conseguindo enfim encostar seus lábios no Sapeca.

Após o primeiro beijo e ao perceber que beijar um sapo não era o fim do mundo, a princesa liberou geral e passou a beijar o Sapeca constantemente, dizem que lascava uns beijos de língua no sortudo sapinho.

Num belo dia, chegou a grande notícia: um príncipe importante havia sido transformado em sapo e a princesa era a única a quebrar o encanto com um lindo e caloroso beijo de amor.

No dia mais esperado por todos do reino, a princesa se aproximou do Sapo/Príncipe, se preparou para o beijo mágico e a transformação gloriosa… mas quando seus lábios iriam tocar o príncipe, ela deu meia volta e correu para bem longe.

Nunca mais foi vista naquele reino.

Há quem diga que a princesa fugiu com o sapo Sapeca (seu verdadeiro amor) e que hoje vivem numa linda cabana rodeada de flores…

Felizes para sempre.

Rodrigo Alves de Carvalho

****Autor da crônica: Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores

*******Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores, não refletindo a visão do jornal Correio do Cidadão

Deixe um comentário