Com quatro décadas de história, Banca do Henrique encerra as atividades em Guarapuava

O local fica aberto somente até este final de semana; a falta de revistas e jornais levaram o proprietário, João Henrique Schmidt, a optar pelo fechamento

Símbolo da resistência das bancas de jornais e revistas em Guarapuava, a Banca do Henrique encerra as atividades neste final de semana após quatro décadas de história na cidade. Fundada pelo comerciante João Henrique Schmidt e pela esposa Ivone, o espaço vinha sofrendo com a falta de publicações para venda.

O CORREIO estava no estabelecimento no último dia útil de trabalho e conversou com Henrique sobre o fechamento. Com as prateleiras quase vazias, ele contou que a procura aumentou nos últimos dias desde o anúncio do fechamento. Henrique também lembrou como tudo iniciou. “Eu comecei em 1978, com o seo Air Cavalim, que era dono de uma distribuidora de revista, tanto em Guarapuava, como em Irati, que se chamava Kica Comércio de Revista. No ano de 1980, ele me trouxe para cá para cuidar da distribuidora. No dia 2 de janeiro de 1980. Essa semana fez 42 anos que estou aqui”, destacou.

Após um tempo atuando como funcionário, Henrique investiu e abriu a própria banca. Ele comenta que na época, por volta de 1985, havia pelo menos 30 bancas grandes em Guarapuava.

Durante esses mais de 40 anos atuando no ramo, o comerciante teve a esposa desempenhando um papel fundamental na manutenção da Banca. Os dois eram noivos quando Henrique veio para Guarapuava, mas logo em seguida se casaram e passaram a trabalhar juntos. “A gente começou toda a vida junto, depois vieram os filhos que também ajudaram. Tanto a Clarice, quanto o João ajudaram. Depois, cada um teve a sua vida e a Ivone ficou sozinha um bom tempo aqui”, afirmou. Henrique além de ajudar na Banca, atuou por 26 anos na Pérola do Oeste.

“Eu tenho que aprender a não fazer nada, para começar. A gente trabalhou sempre muito cedo. Desde às 4h até as 11h da noite”, afirmou sobre o que ele e a esposa vão fazer daqui para frente. Os dois vão morar em um sítio da família. “Vou ver se consigo ficar lá”.

Fachada da banca localizada no Centro de Guarapuava (Foto: Redação)

ANOS DOURADOS
Diferente de hoje que recebe poucas revistas, na época em que abriu o movimento era maior, já que segundo Henrique, havia muito material disponível. “A gente recebia praticamente um caminhão cheio de revista por semana. Tinha muita publicação, tinha muito jornal. Eu cheguei a distribuir todos os jornais que circulavam, Gazeta do Povo, Estado do Paraná, Tribuna, Folha de São Paulo, Folha de Londrina. Eu saía de casa 4h30, 5h da manhã e voltava 10h, 11h da noite. Naquela época tinha muito movimento. Tinha aquele compromisso de sair da missa e vir na banca, à noite, banca de revista”, lembrou.

AMIGOS
Entre os tantos clientes que frequentaram a Banca do Henrique, alguns vão fazer muita falta para o comerciante. Como ele próprio disse, são de casa. O local há alguns anos se tornou um ponto de encontro. Os frequentadores vão desde políticos a médicos e outros comerciantes. No cantinho, ou melhor, no Café das Letras, eles conversam sobre tudo.

“Quando estava no auge do movimento, seu Rodolfo Chagas, que era radialista da 92 [FM], disse “Henrique, faça um café”, e até colocou em cima “Café das Letras”, por causa das revistas. E está até hoje. E sempre foi aumentando. Eles estão mais tristes do que nós. Foi um grupo bem homogêneo, brigam, dão risada. Começa 10h vai até 12h, 12h30, todo dia. Tem aquele entrosamento”, destacou Henrique.

Para o criador do Café, o jornalista e radialista Rodolfo Chagas Jurchaks (81 anos), a banca vai fechar apenas fisicamente. “No nosso coração vai permanecer porque nós temos boa parte da nossa vida, vivida aqui dentro da Banca, cujo café, inclusive, nós tivemos a felicidade, de junto com o Henrique, com a dona Ivone, instalar”, disse o cliente que frequenta a banca desde 1987.

Outra figura presente é o secretário de Esportes Milton Roseira. Segundo ele, os integrantes do grupo que se reúne ali são como uma família. “O pessoal se encontra nos horários que podem e discutem política, o dia a dia da cidade, é bem bacana. É a nossa ‘Boca Maldita’ de Guarapuava. A gente brinca que é a ‘Boca Bendita’, né? Vai fazer muita falta pra nós. E eles [Henrique e Ivone] são muito legais. Imagina, tantos anos. Eu brinco, aqui é de mamando a caducando. Tem desde os pequenos que vem pelas figurinhas, até gente de 90 anos”, comentou.

Por fim, com os olhos cheios de lágrimas, Henrique disse que depois de tanto tempo, só pode agradecer os clientes e amigos que frequentaram a banca.

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