Policial de futuro: 35 anos do filme ‘Robocop’

Em 1987, o cineasta holandês Paul Verhoeven produziu “Robocop”, filme que imaginou um futuro distópico: o Estado precisa apelar às grandes corporações para combater a criminalidade. O longa-metragem fez tanto sucesso, que gerou duas continuações, um reboot feito por José Padilha, desenho animado, linha de brinquedos e até mesmo uma canção dos Mamonas Assassinas

Em um futuro distópico, Detroit é uma cidade dominada pela criminalidade e violência. O Estado não pode fazer nada, a não ser apelar para as grandes corporações.

Esta é a premissa básica de “Robocop – O policial do futuro” (EUA, 1987, 102 minutos), do diretor holandês Paul Verhoeven. O filme completa 35 anos de história em 2022.

Trata-se de uma ficção científica típica da década oitentista, que imaginava um futuro sem perspectivas para a humanidade. Mas, no caso de Verhoeven, com pitadas cáusticas.

O que acontece no seu filme, um clássico da Sessão da Tarde, é um processo do que se chama hoje de “gentrificação”. A megacorporação OCP (“Produtos de Consumo Omni”, na sigla traduzida para o português) quer fazer uma limpa na Velha Detroit (tomada por bandidos e pobreza) para construir o empreendimento Delta City.

Para isso, a empresa firma acordo para administrar o Departamento de Polícia Metropolitano de Detroit. A solução dada pelo jovem executivo Bob Morton (Miguel Ferrer) é o programa Robocop, ou seja, a criação de um ciborgue que é mais eficiente do que um policial humano.

Na verdade, o tal Robocop é nada menos que Alex Murphy (vivido por Peter Weller), tira estraçalhado por criminosos da pior espécie. É uma cena truculenta e altamente impactante, mesmo nos dias de hoje.

No entanto, os restos mortais de Murphy são transformados no ciborgue que será utilizado em boa parte da narrativa para combater o crime em Detroit.

“Como Frankenstein, que vê sua alma encarcerada num corpo que não controla e lhe é totalmente estranho, Robocop sai em busca de sua humanidade perdida numa bárbara Detroit do futuro, impulsionado pelos lampejos da memória que lhe fazem lembrar, vez por outra, uma mulher e uma criança”, avaliou Maria Lúcia Fróes, em 8 de outubro de 1987, para o jornal O Estado de S.Paulo.

Robocop é uma arma eficiente contra o crime (Foto: Divulgação)

SOCIOLOGIA
“Vale ver o filme, se não pelo ângulo da ficção, pelo da sociologia: para uma sociedade que acredita que violência se combate com truculência, esse supertira é uma criação perfeita”, escreveu José Haroldo Pereira, em 1987, para a revista semanal “Manchete”.

O crítico, que não gostou muito da fita, classificou o longa-metragem de uma fábula que mescla policial e ficção científica. Para ele, Robocop é um robô neurótico, emotivo, sentimental e vingador, “cuja trágica história chega a despertar pena na plateia”.

Aliás, Verhoeven propõe discutir as relações promíscuas e perigosas entre Estado e grandes corporações, entre empresas e crime organizado.

SUCESSO
O filme de 1987 fez tanto sucesso que se tornou uma franquia, com duas continuações de gosto duvidoso: “RoboCop 2” (1990, dir. Irvin Kershner) e “RoboCop 3” (1994, dir. Fred Dekker).

Em 2014, o diretor brasileiro José Padilha (o mesmo de “Tropa de Elite”) dirigiu o reboot “Robocop” com Joel Kinnaman no papel-título. Em um futuro não muito distante, no ano de 2028, drones não tripulados e robôs são usados para garantir a segurança mundo afora, mas o combate ao crime nos Estados Unidos não pode ser realizado por eles e a empresa OmniCorp, criadora das máquinas, quer reverter esse cenário. Uma das razões para a proibição seria uma lei apoiada pela maioria dos americanos. Querendo conquistar a população, o dono da companhia Raymond Sellars (Michael Keaton) decide criar um robô que tenha consciência humana e a oportunidade aparece quando o policial Alex Murphy (Joel Kinnaman) sofre um atentado, deixando-o entre a vida e a morte.

Um verdadeiro fiasco de bilheteria e crítica.

Além do cinema, o personagem estrelou uma série animada, teve revista em quadrinhos, linha de brinquedo e até inspirou uma canção bem-humorada do grupo brasileiro Mamonas Assassinas (“Robocop gay”).

Pôster de divulgação do filme nos anos de 1980 (Foto: Divulgação)

SERVIÇO
A série de filmes do Robocop pode ser acessada com certa facilidade nos serviços legalizados de streaming. Mas precisa de assinatura ou pagar pelo aluguel/compra online, como é o caso da Amazon Prime Video.

Para alegria do público, tem uma cópia gratuita do clássico de 1987 na plataforma NetMovies (https://www.netmovies.com.br/), com circulação para computadores, smartphones e alguns modelos de smartv. É um serviço legal, com acesso livre (mediante cadastro sem custos) e propagandas durante a exibição.

**********Texto/pesquisa: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br

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