Nazistas na América do Sul

Em resenha, nova colunista do CORREIO aborda o livro “Nazista entre nós” (editora Contexto, 192 páginas, 2016), escrito pelo doutor em História Marcos Guterman

Em seu livro, o doutor em História Marcos Guterman analisa alguns dos grandes nomes do nazismo. Em sua fuga, alguns vieram parar na América do Sul e com a ajuda de outros países puderam levar uma boa e confortável vida que tinham na época do Holocausto.

Na apresentação de Nazista entre nós (editora Contexto, 192 páginas, 2016), o autor questiona, como explicar que muitos desses vilões tenham conseguido, depois da guerra, encontrar um lugar entre nós, isto é, desfrutar da vida em liberdade como se nada tivessem feito, como se fossem parte da mesma sociedade civilizada que eles tanto se esforçaram em destruir?.

Klaus Barbie (1913-91) ficou conhecido como O açougueiro de Lyon. O carrasco desenvolveu e aperfeiçoou técnicas terríveis de tortura e de sevícias contra aqueles que tiveram o azar de cruzar seu caminho quando ele desempenhava suas funções era Gestapo.

Barbie foi para a Bolívia, onde conseguiu se estabilizar. Teve alguns problemas com caçadores de nazista, mas a Bolívia passava por uma ditadura e ninguém estava interessado em cumprir a lei. Lá encontrou emprego e viveu bem durante muito tempo. Fundou um partido para simpatizantes do nazismo. E dizia ter a consciência tranquila.

Josef Mengele (1911-79), ou Anjo da Morte, é um dos nazistas mais conhecidos. O responsável pela seleção de quem morreria e que seria enviado para o trabalho forçado.

Na Alemanha, Mengele fez bizarras experiências com pessoas. Com muitos contatos, conseguiu fugir e veio para a América do Sul, e não houve de fato muito esforço para capturá-lo. Morreu em Bertioga (SP).

O arquiteto Albert Speer (1905-81) foi tido como o bom nazista. Responsável pela criação de Germânia, que seria a capital do mundo. Uma estrutura surreal. Speer era o ministro favorito de Hitler.

Speer assumiu o Ministério de Armamentos. As fábricas usavam mãos de obra escrava em condições desumanas. Assim como todos, disse que apenas seguia ordens e sugeriu fazer um alerta ao mundo a respeito dos perigos da tecnocracia. Segundo ele, 80 milhões de pessoas foram privadas de sua capacidade de pensar, através do rádio, tornando-as sujeitas ‘aos desejos de um só homem’. A tecnologia evoluiu e esse uso errado acompanhou o crescimento.

Adolf Eichmann (1906-62) viveu na Argentina por muitos anos, com ajuda de muitos, e em 1960 foi levado para Jerusalém e julgado.

Percebe-se como os nazistas no pós-guerra tinham bastante sorte e também contavam com ajuda de muitos lados, de muitos que apoiavam o nazismo e fizeram parte dele, a fim de fugir e se esconder, levar uma vida normal, com todos os benefícios de uma boa pessoa. Fica o questionamento sobre a confiança, sobre as monstruosidades cometidas naquele tempo e que encontraram apoiadores em diversos lugares.

Nos três primeiros anos depois da guerra, enquanto 7 milhões de pessoas lutavam para conseguir retomar suas vidas em algum país que as acolhesse, os Estados Unidos emitiram 40 mil vistos, mas negaram sistematicamente a entrada para judeus que haviam escapado do Holocausto, enquanto ao menos 10 mil nazistas receberam status de refugiados de guerra e puderam entrar.

 

******Heidi Gisele Borges (ou Celly Borges) é autora dos livros juvenis O menino que perdeu a magia e Um segredo de Natal e de diversos contos de horror. Escreve resenhas também na revista Mestres do Terror, no jornal Em Foco (Brusque, SC) e no site becodonunca.com.br