Meu título será sua herança
Filmes clássicos dos anos de 1950/60, principalmente do western spaghetti, são conhecidos no mercado brasileiro por títulos impactantes em português que não têm nada a ver com o nome original. Confira nesta edição do CORREIO uma seleção deles
Onde começa o inferno, Meu ódio será sua herança, “Cavalgada infernal”… o gênero do faroeste é prodigioso em títulos carregados de tinta, principalmente se for sob o signo da violência.
Mas o mérito pelos nomes impactantes é todo brasileiro, já que os filmes estrangeiros disponíveis no mercado nacional foram rebatizados quando chegaram a essas bandas.
Claro que, em alguns casos, os títulos originais não funcionavam muito bem quando traduzidos ao pé da letra. Por isso, era necessário um novo nome que tivesse a ver com a força da história. Ou não. Pois muitos nomes fugiam completamente do verdadeiro enredo.
A seguir, uma seleção especial do faroeste em versão nacional.
SEM DJANGO
Dirigido por Sergio Corbucci, Django (1966) é um clássico do chamado western spaghetti, ou seja, dos filmes produzidos por italianos a partir do mais genuíno gênero norte-americano de cinema, o western (ou faroeste, como ficou conhecido no Brasil).
O sucesso foi tão grande que gerou continuações. Só que Django não perdoa, mata (1968) não tem nada a ver com o personagem. A única coincidência é a presença do ator Franco Nero (de Django).
Nesse filme de Luigi Bazzoni, Nero vive um oficial mexicano seduzido pela cigana Carmen, em história inspirado na ópera de Georges Bizet. Ah, o título original do filme é L'uomo, L'orgoglio, La Vendetta (algo como Homem, orgulho e vingança).
INFERNO
A palavra inferno é quase que obrigatória em filmes de faroeste, principalmente nos títulos brasileiros nos anos de 1960.
Em 1968, era lançado Os violentos vão para o inferno. Uau! Deu até medo! Mas o nome original não tem nada demais: Il mercenario (O mercenário), no caso o personagem vivido por Franco Nero, Kowalski.
Novamente, Sergio Corbucci na direção em mais uma fita que se tornou obra-prima italiana: com trilha de Ennio Morricone, Jack Palance como vilão e inspiração no cinema de Sergio Leone.
Outro título nacional com a palavra emblemática é Onde começa o inferno (1959), um clássico norte-americano dirigido por Howard Hawks. No original, é Rio Bravo.
John T. Chance (John Wayne) é o xerife de uma cidade pequena que tenta manter um preso dentro da cadeia, com a ajuda de dois companheiros, um bêbado e um idoso aleijado.
ÓDIO
O trabalho do diretor Sam Peckinpah é um divisor de águas na cinematografia do western no que se refere à violência. Antes dele, as mortes em cena eram filmadas com pouco sangue e muita limpeza.
É com Meu ódio será sua herança (1969) que o caldo engrossa. Sangue, tiros e corpos destroçados. Isso sim é um faroeste raiz!
Talvez seja por isso que, no Brasil, seu longa ganhou esse título ameaçador (e que às vezes vem com “tua”). No original, é simplesmente The Wild Bunch (O grupo selvagem). Meio sem sal, né.
POESIA
A versão norte-americana do filme japonês Os sete samurais (1954) chegou ao Brasil com o poético título de Sete homens e um destino (1960). Afinal, são sete pistoleiros contratados para proteger um vilarejo, em uma verdadeira constelação de estrelas de Hollywood nos papéis principais.
Em inglês, o filme de John Sturges tem até mesmo um título bacana (The Magnificent Seven, ou seja, Os sete magníficos); mas sem a mesma poesia.
DOIS NOMES
Um dos filmes mais cultuados de Sergio Leone é Três homens em conflito (1966). Mas espera aí, esse não é o título correto. Ou é?
Explica-se: a produção Il Buono, il brutto, il cattivo (nome original) foi batizada duas vezes no mercado nacional de home vídeo, a depender da distribuidora: O Bom, o Mau e o Feio, que é mais antigo; e Três homens em conflito, na cópia mais recente.
Tanto num caso quanto noutro, trata-se do mesmo longa-metragem com aquela famosa sequência final do duelo entre os personagens de Clint Eastwood (o bom), Lee Van Cleef (o mau) e Eli Wallach (o feio).