Mano Hood: ‘O hip hop é vida, ele salva’

Apresentador do programa ‘Sintonia Hip Hop’ há 16 anos, Mano Hood já trabalhou com projetos sociais que levaram a cultura urbana para dentro das escolas locais, dando visibilidade e voz às reivindicações presentes nas músicas

NZumba, Jeff do VPM, Cleitinho Atitude RAP, Jenyfer Padilha, Mr. Vato: nomes guarapuavanos que se destacam no cenário musical, abraçando o hip hop como estilo.

Trazido ao Brasil em meados dos anos de 1980, o hip hop ganhou notoriedade em Guarapuava quase 20 anos depois, unindo o MC, DJ, grafite e o breakdance. 

Da união dos dois primeiros elementos citados, surgiu o rap, que ascendeu internacional e nacionalmente fazendo reivindicações e lutas, contando o cotidiano das favelas e da periferia brasileira.

Os processos de globalização permitiram que o estilo chegasse até Guarapuava, sendo adotado por Rudimar da Rocha Lyra Rabello, popularmente conhecido como Mano Hood. Locutor e radialista pela Unicentro FM, Mano Hood apresenta o programa Sintonia Hip Hop, transmitindo músicas e entrevistas que fazem parte do estilo.

Eu conheci o rap quando eu comecei a andar de skate, a partir dos 11 anos de idade, e aí eu conheci o rap internacional. A partir dali, eu conheci o rap nacional, então as duas culturas urbanas estavam caminhando juntas naquele momento”, conta.

PODER

A principal característica atribuída ao rap é o poder social e comunitário que ele possui. Por meio das rimas e musicalidade, o estilo consegue falar sobre a pobreza, racismo, lutas de classe e outras mazelas sociais, dando voz para aqueles segregados socialmente.

“Esse é o conteúdo que mostra a realidade das pessoas e dos locais. Eu sempre brinco que se você quer conhecer uma cidade de verdade, é legal você procurar o rap daquela cidade, porque você não vai ver só o cartão-postal que as pessoas querem te passar, não vai ver só a praça bonita, o shopping legal. Você vai ver como é a realidade daquela pessoa segregada”, afirma Mano Hood.

Há 16 anos, o locutor difunde o estilo por meio do rádio. (Foto: Arquivo Pessoal)

NA RUA, NA ESCOLA

Desde o trabalho desenvolvido pelo rádio há 16 anos e durante a graduação e mestrado de geografia e educação, Mano Hood enfatiza que é importante tirar a cultura das ruas e levá-la até escolas, universidades e locais de ensino. 

“Eu lembro o quanto foi difícil, lá no começo, entrar e fazer a apresentação de hip hop nas escolas da cidade e até mesmo nestas universidades. Hoje, a gente está lá dentro, as pessoas querem que a gente esteja falando sobre isso com a juventude. Eu fiz meu TCC falando sobre o hip hop nas escolas, fiz o meu mestrado em educação sobre a potencialidade que o hip hop tem no ensino, trabalhei com o hip hop dentro da sala de aula e ele dá certo”.

ROMPENDO ESTEREÓTIPOS

Ainda quando adolescente, Rudimar notava que os pertencentes ao estilo eram frequentemente estereotipados, e que as músicas retratavam toda a discriminação presente nos meios sociais. 

“Eu era o jovem tachado de 'maloqueiro', tomava muita geral da polícia enquanto ia da Vila Pequena [atual bairro Batel] até o Parque do Lago para andar de skate, então aquilo que estava nas músicas, daquele preconceito em cima do 'cara' que andava de skate, que andava com a camiseta larga, acontecia com a gente que tinha 11, 12, 13 anos, e a gente viveu isso da nossa transição da adolescência para a juventude. Vivemos esse preconceito que veio em cima de participar destes movimentos e destas culturas urbanas”, recorda.

1° evento que reuniu os 4 elementos da cultura Hip Hop e o skate em Guarapuava.
(Foto: Arquivo Pessoal)

NECESSIDADE

Nestes 200 anos de Guarapuava, Mano Hood diz que nota a cultura hip hop sendo expandida, mas ainda falta maior visibilidade para aqueles que produzem e escutam.

Além de servir como ferramenta social, a cultura ainda é formador identitário, já que os adeptos a ela conseguem ter sua realidade retratada. 

“Eu sempre falo que o hip hop é vida, ele salva mesmo, tira pessoas das drogas e do mundo do crime, ele resgata. Então, a gente precisa dar a oportunidade de falar sobre, mostrando o quanto ele é bom, e que estas pessoas se descubram a partir do hip hop também”.