Encarnação necessária

Para a Copa do Mundo 2018, a seleção portuguesa vai precisar de um espírito vencedor se quiser surpreender novamente

Portugal é daquelas seleções simpáticas. Talvez pela proximidade que temos com nossos coirmãos (que sim, nos colonizaram), é agradável torcer para os encarnados, que vira e mexe nos contemplam com jogadores como Deco, Figo, Eusébio e Cristiano Ronaldo! E Pepe.

Mas, para os portugueses, nem tudo é talento concretizado. Após a campanha surpreendente na Eurocopa de 2016 e da classificação direta suada nas eliminatórias, ainda desconfia-se e muito de algumas das principais estrelas da seleção. Caso de, por exemplo, André Gomes – que desapontou no Barcelona mas ainda recebe algumas chances e Renato Sánchez que, bem… nesse ritmo nem para a Copa vai. João Mário ainda tenta despontar na Inglaterra após não convencer na Itália e, da base campeã, talvez se salvem William Carvalho, Adrien e a defesa sólida. Mas, de verdade, todo mundo quer saber do gajo.

Recentemente, em entrevista para o brasileiro Fred, do canal Desimpedidos, Cristiano Ronaldo afirmou que, apesar de ainda ter expectativas em relação a sua carreira, se aposentaria satisfeito com o conquistado. Não é pra menos, são cinco bolas de ouro e quatro títulos da Champions League desde a temporada 2007-2008, sendo o artilheiro da competição em todas as vezes que levou a taça – algo que certamente o qualifica como um dos maiores jogadores de todos os tempos.

E, pela forma como caminha a temporada, é esse monstro que veremos na Copa do Mundo em junho. Desde a temporada passada, o Gajo vem trabalhando para chegar mais firme e ser mais decisivo na reta final da temporada. Não é à toa que, apesar do início lento, Ronaldo já tem 17 gols, recuperando-se pela busca da artilharia no Espanhol e sendo, novamente, o maior goleador da Champions League – e assim terminará. Até junho, certamente, Ronaldo vai enfileirar gols e chegar mais do que preparado para buscar o título que falta na sua carreira e que o credenciará a ganhar mais prêmios individuais.

E é o que falta porque em 2016 os encarnados sagraram-se campeões da Eurocopa, sediada na França. Com um desempenho pragmático e pouco vistoso, de empate em empate (classificaram-se com três empates sofridos e com Cristiano Ronaldo marcando gols decisivos na última partida contra a Hungria), pênaltis e prorrogações, encontraram um time que pelo menos é sólido. Pela primeira vez na história, com Ronaldo lesionado ainda no primeiro tempo, contra os franceses em casa, foram campeões do torneio com um gol de Éder. Éder!

Na Copa, com atenção, a classificação é segura. Portugal abre a competição contra a Espanha, uma das principais seleções do torneio. Apesar da força dos adversários, é possível que o jogo pragmático de Portugal encaixe contra o futebol da Espanha. Nas rodadas seguintes, espera-se um pouco mais de criatividade e imposição contra Marrocos e Irã, que farão o papel de Portugal diante de adversários mais conceituados. Bem possível, certo?

Depois disso, como o técnico Fernando Santos disse, é procurar vencer cada jogo – da forma que der. Mas, convenhamos, Portugal pode ter encontrado o caminho e a áurea para isso, só que a missão, mesmo com o espetacular Ronaldo em campo, é bem difícil. Seria um feito extraordinário o título ou sequer uma semifinal.

 

**********Gabriel Aquino é jornalista e músico