‘Corpo fechado’ revisita arquétipos dos quadrinhos de super-heróis

Com estreia programada para esta quinta (17) em Guarapuava, ‘Vidro’ reúne personagens vistos em ‘Corpo fechado’, filme produzido há 19 anos

Feijão com arroz. Goiabada com queijo. Claudinho com Buchecha. Assim é a relação entre David Dunn e Elijah Price. Um só existe em função do outro. São opostos que se atraem e se complementam. Noite e dia. Bem e Mal.

Pelo menos sob o ponto de vista de Price, um especialista em quadrinhos com uma doença rara na qual os ossos se quebram facilmente. Ele vê em Dunn o seu antípoda: corpo inquebrável. Na verdade, o fã de gibis procura há muito tempo uma pessoa que fosse o seu oposto, como forma de justificar sua frágil existência. Ou melhor, um antagonista, pois Price é o vilão e Dunn o herói.

No fundo, é disso que trata o filme Corpo fechado (Unbreakable, no título original): Bem vs. Mal, Herói vs. Vilão. Em suma, os arquétipos que fazem a alegria dos leitores de histórias de super-heróis. Produzido, escrito e dirigido por M. Night Shyamalan em 2000, o filme apresenta esses dois personagens: Dunn (vivido por Bruce Willis) e Price (Samuel L. Jackson).

No enredo do longa-metragem, Dunn é o único sobrevivente de um acidente de trem. Aos poucos, ele descobre que tem alguma coisa de diferente em seu corpo, que desenvolve força sobre-humana e se torna inquebrável. Price tenta convencê-lo que ele é como um super-herói dos gibis.

Mas o personagem de Samuel L. Jackson se mostra um tanto hostil e obcecado. É o que se pode chamar de vilão, o antagonista de Dunn.

Sem ser exatamente um filme-gibi como os que a Marvel Studios lançou nos últimos dez anos, Corpo fechado revisita o subgênero de super-heróis ao discutir algumas características caras aos quadrinhos: dicotomia bem/mal, justiça, código de honra.

Personagem Elijah Price tem uma rara doença que torna seus ossos fracos (Reprodução)

VIDRO

Disponível na grade da Netflix (que é um serviço de exibição online de filmes e séries apenas para assinantes), Corpo fechado é um longa-metragem que vale a pena ser visto ou revisto para entender Vidro, que tem estreia nacional prevista para esta quinta-feira (17) em Guarapuava – sessões às 16h30 (dublado); 19h e 21h30 (legendado).

Com M. Night Shyamalan na direção, Vidro reúne novamente David Dunn (Bruce Willis) e Elijah Price (Samuel L. Jackson) em uma história que conta com o acréscimo do vilão de outro filme dirigido por Shyamalan: Kevin Crumb (James McAvoy), de Fragmentado (2016). O homem com 24 personalidades diferentes passa a ser perseguido por Dunn.

O jogo de gato e rato entre o homem inquebrável e a Fera é influenciado pela presença de Elijah Price, que manipula seus encontros e guarda segredos sobre os dois. A maior parte do filme acontece no hospício para o qual são levados.

Assim, Vidro fecha a trilogia com Corpo fechado e Fragmentado.

Filme 'Vidro' fecha a trilogia ao reunir personagens de dois longas anteriores (Foto: Reprodução)

CARREIRA

Ao final dos anos de 1990, M. Night Shyamalan sacudiu o mundo do cinema com o longa-metragem O sexto sentido (1999). Com Bruce Willis no elenco, o diretor/roteirista fez um instigante thriller de suspense que revelou o talento de Haley Joel Osment, o menino assombrado por fantasmas.

A reviravolta final do filme é o principal atributo da narrativa (sem spoilers aqui). Bastou isso para que Shyamalan fosse comparado ao mestre do suspense Alfred Hitchcock. Na verdade, isso foi ruim, pois todos queriam um novo O sexto sentido a cada nova obra dirigida e escrita pelo cineasta de origem indiana.

Assim, boas produções como Corpo fechado (2000), Sinais (2001) e A Vila (2004) ficaram à sombra do longa de 1999. Consequentemente, a carreira de Shyamalan degringolou e chegou ao fundo do poço com o péssimo Depois da Terra (2013) – se serve de consolo, ele apenas dirigiu esse filme.

O pulso criativo do cineasta reagiu com o elogiado A visita (2015) e o ótimo Fragmentado (2016). E agora vem Vidro, que guarda grandes expectativas.

 

***************Trailer de 'Corpo fechado'