A memória do tempo passado: ‘Fun Home’

Em “Fun Home: Uma tragicomédia em família”, a quadrinista Alison Bechdel apresenta um relato memorialístico tendo sua própria trajetória e a de seu pai em revisão. O livro é o centro das atenções no primeiro encontro do Leia Mulheres – Guarapuava em 2020

Interligada com a literatura, a graphic novel Fun Home: Uma tragicomédia em família (2018) é um trabalho de destaque na carreira de Alison Bechdel.

Lançado pela Todavia em 2018 para o mercado brasileiro (com tradução de André Conti), o livro será o centro das discussões do primeiro encontro em 2020 do clube de leitura Leia Mulheres – Guarapuava.

Após uma parada de fim de ano, o projeto retoma suas atividades neste sábado (25 janeiro), a partir de 15h, na Gato Preto.

E, pela primeira vez, o clube abre com uma obra em quadrinhos. Mas não é uma HQ qualquer, pois se trata de uma narrativa construída a partir de camadas temporais que se sucedem no relato da protagonista Alison. Entre idas e vindas no texto (verbal e não-verbal), ela perpassa diferentes tempos passados para rever seus anos de formação e principalmente a figura de seu pai, Bruce Bechdel.

Um dos enigmas da narradora é tentar entender a morte dele (que pode ter sido um suicídio) e sua homossexualidade escondida durante anos.

A autora retraça também os próprios passos, da criança que cresceu entre os cadáveres da funerária da família à jovem que se encontrou nos livros e na arte.

REFERÊNCIAS

Não por sinal, Fun Home: Uma tragicomédia em família é um livro que se pode classificar de memorialístico, construído a partir das lembranças de Alison e também de referências literárias e artísticas que são absorvidas pelo texto, com destaque especial para os recordatórios.

Na linguagem da Nona Arte, esse tipo de elemento se refere às caixas de textos que acompanham os quadrinhos. São também chamados apenas de texto, caixa de texto ou, ainda, legenda.

Livro de Alison Bechdel foi lançado em 2018 no Brasil pela editora Todavia (Foto: Cristiano Martinez)

INTERTEXTUAL

Voltando a Fun Home, a autora utiliza os recordatórios para compor relações intertextuais com a literatura ocidental, utilizando trechos e ideias de autores como Marcel Proust, Oscar Wilde e James Joyce, só para ficar em alguns.

Por exemplo, o capítulo À sombra das raparigas em flor se vale do clássico Em busca do tempo perdido, de Proust, para entender uma passagem na vida de Alison e de seu pai. É mais do que uma simples citação do material literário, pois ocorre sua absorção pela HQ.

De maneira geral, essa cadeia de referências deixa a graphic novel mais complexa, exigindo muita atenção e comprometimento do leitor. Em alguns momentos, torna-se um tanto excessivo, beirando o pernóstico.

Mas, de maneira geral, Fun Home é uma grande obra e vale a pena conhecer.

Edição brasileira da Todavia tem tradução de André Conti (Foto: Cristiano Martinez)

AUTORA

Alison Bechdel nasceu em Lock Haven, na Pensilvânia, em 1960. É autora da tira de jornal Dykes to Watch Out For e de VOCÊ É MINHA MÃE? (Quadrinhos na Cia., 2013). Seus quadrinhos apareceram em publicações como Granta e New Yorker. Em 2006, Fun Home foi eleito o livro do ano pela revista Time.

ENTENDA

Surgido nacionalmente, o Leia Mulheres chegou a Guarapuava em 2019, graças à iniciativa da livreira Enilda Pacheco e da professora universitária Nincia Teixeira. Ambas também são as mediadoras dos encontros.

Uma vez ao mês (geralmente no último sábado), os participantes se reúnem para discutir uma obra (literatura, quadrinhos etc.), após leitura prévia. Todas e todos estão convidados. A entrada é grátis.

As reuniões sempre são na Gato Preto (rua Azevedo Portugal, 1.362, perto da Praça da Prefeitura), uma simpática livraria e loja de discos.

CRONOGRAMA

As obras e reuniões do primeiro semestre de 2020 estão assim:

(Foto: Reprodução/Leia Mulheres – Guarapuava)