Todo mundo odeia o Chris

Noite de entrega do Oscar 2022 é ofuscada por treta entre o ator Will Smith e o comediante Chris Rock, que levou um tapa ao fazer piada sobre a esposa desse astro de Hollywood. Em tempo, Will conquistou a estatueta por sua atuação em “King Richard: Criando campeãs”; e Melhor filme foi para “Coda – No ritmo do coração”

Passado o frisson da noite de cerimônia, chega a hora de refletir sobre o Oscar 2022. Sempre se diz que é um prêmio sem relevância, mas todo mundo (incluindo influenciadores digitais e canais de streaming) só fala nele antes, durante e depois. E, desta vez, por motivos estranhos.

O principal deles, sem dúvida, é o tapa dado por Will Smith na cara do comediante Chris Rock. O pessoal ficou na dúvida se foi armação (“parte do show” diriam outros). É claro que Will estava bronqueado. Fica nítido em seus olhos marejados. Afinal, a piada foi sem graça e mexeu com a doença de sua esposa (Jada Pinkett Smith).

Se o famoso astro de Hollywood deveria ter reagido? Provavelmente, não. Mas se coloque no lugar dele. Tem certas tiradas de humor que não deveriam ser feitas. Faltou bom senso ao Chris Rock (criador e narrador daquela série de TV adorada pelos brasileiros, “Todo mundo odeia o Chris”).

Infelizmente, a treta entre os dois ofuscou o Oscar conquistado por Will na categoria de Melhor Ator por sua performance em “King Richard: Criando campeãs”. A impressão é de que essa noite da 94ª edição do prêmio da indústria norte-americana será lembrada apenas pelo tapa.

Talvez o pessoal se esqueça da surpresa em torno de “Coda – No ritmo do coração”, melodrama dirigido por Sian Heder, que levou a estatueta em Melhor Filme. As apostas eram em “Ataque dos cães”, a grande chance da Netflix, gigante mundial do streaming, conquistar finalmente a Academia de Artes Cinematográficas de Hollywood.

Realmente, o Oscar se rendeu ao video on-demand (Apple TV+). Mas não para a Netflix na principal categoria da premiação. Na verdade, a produção dirigida por Jane Campion tem outro mérito. Campion já havia feito história como a primeira mulher a ser indicada duas vezes para o Oscar de direção. A primeira foi por “O Piano”, nos anos 1990. Quase 30 anos depois, ela foi indicada de novo por “Ataque dos Cães”, e dessa vez levou. Sua revisão do gênero western e do machismo dos caubóis lhe valeu a cobiçada estatueta.

Em dois anos seguidos, as mulheres brilharam na festa da Academia. No ano passado, Chloé Zhao venceu nas categorias de direção e filme. Nos 94 anos do prêmio, foi apenas a terceira vez que uma mulher venceu como diretora – a primeira foi Kathryn Bigelow, com “Guerra ao Terror”.

Com baixo orçamento, “No ritmo do coração” correu por fora, cresceu no termômetro da premiação nas últimas semanas e foi coroada com a principal estatueta da noite. A saga da família de surdos tocou os votantes da Academia de uma forma particular. Pouco antes, Troy Kotsur havia feito história como primeiro ator surdo a ganhar o Oscar de coadjuvante. Kotsur dedicou o prêmio à comunidade de deficientes, não apenas auditivos. “É o nosso momento!”, disse. Ainda viria o gran finale – melhor filme!

Em quantidade, “Duna” (de Denis Villeneuve) foi o grande vencedor da noite, com seis estatuetas, todas elas em categorias técnicas, como efeitos visuais e mixagem de som.

Jessica Chastain foi a melhor atriz por “Os Olhos de Tammy Faye”. Foi política, defendeu a diversidade e o respeito de “ser quem somos”.

Havia a expectativa de que “Drive My Car”, do japonês Ryûsuke Hamaguchi, indicado para quatro categorias – as mesmas que “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon-ho venceu há dois anos: melhor filme, melhor filme internacional, melhor direção e roteiro -, levasse as quatro estatuetas. Considerado por boa parte da crítica o melhor filme desta edição, “Drive My Car” venceu como melhor filme internacional, mas tropeçou logo na segunda indicação, perdendo o Oscar de roteiro adaptado – dos contos de Haruki Murakami – para “No Ritmo do Coração”, baseado no francês “A Família Bélier”.

VEJA A LISTA DOS VENCEDORES:

Filme
‘No Ritmo do Coração’

Direção

Jane Campion, por ‘Ataque dos Cães’

Atriz

Jessica Chastain, por ‘Os Olhos de Tammy Faye”

Ator

Will Smith, por King Richard: Criando Campeãs”

Atriz coadjuvante

Ariana DeBose, por ‘Amor, Sublime Amor’

Ator coadjuvante

Troy Kotsur, por ‘No Ritmo do Coração’

Filme internacional

‘Drive My Car’ (Japão)

Roteiro adaptado

‘No Ritmo do Coração’,

Siân Heder

Roteiro original

‘Belfast’, Kenneth Branagh

Figurino

‘Cruella’, Jenny Beavan

Trilha sonora

Han Zimmer, por ‘Duna’

Animação

‘Encanto’

Curta de animação

‘The Windshield Wiper’

Curta de ficção

‘The Long Goodbye’

Documentário

‘Summer of Soul’

Documentário de curta-metragem

‘The Queen of Basketball’

Som

‘Duna’

Canção original

‘No Time to Die’, de ‘007 – Sem Tempo para Morrer’

Maquiagem e cabelo

‘Os Olhos de Tammy Faye’

Efeitos visuais

‘Duna’

Fotografia

‘Duna’

Edição

‘Duna’

Design de produção

‘Duna’

********Com informações de agências

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