Relespública revira baú em viagem pela história da banda no novo EP ‘Sem ninguém ao lado’

Lançamento do EP “Sem ninguém ao lado”, já disponível nas plataformas digitais, rompe com um hiato de 13 anos sem gravações em estúdio. Banda formada em 1989 é uma das mais importantes no cenário rock and roll do Paraná. Em entrevista ao CORREIO, o vocalista/guitarrista Fábio Elias dá detalhes do novo disco

O novo trabalho de estúdio da Relespública, uma das mais importantes do rock no Paraná, é uma verdadeira viagem no tempo.

Pelos ouvidos do fã passam mais de 30 anos de banda, reunindo elementos caros ao trio formado em Curitiba por Fábio Elias (guitarra e voz), Ricardo Bastos (baixo e voz) e Emanuel Moon (bateria). Em suma, um transporte a tempos preciosos do rock and roll. Tudo porque o EP “Sem ninguém ao lado” (selo Volts) é mod, ska, balada, energia, experimentalismo… o tempo na versão Reles.

As cinco faixas do material lançado em junho de 2021 surgiram a partir do trabalho de escavação do repertório. “Reviramos o meu baú, minhas pastas, meus cadernos, minhas anotações… e chegamos a essas cinco músicas que compõem esse EP”, diz Fábio Elias, em entrevista ao CORREIO. Ele explica que eram algumas músicas tocadas em shows, outras estavam no arquivo da banda esperando o momento certo.

O músico conta que o produtor Marcelo Crivano (o mesmo por trás do clássico “As histórias são iguais”, de 2003) sugeriu aproveitar o material já existente para contar a história da Relespública. “A gente tem muita música que não foi lançada ainda. Tem muito material nesses anos todos”, completa Fábio, que é o compositor.

Inclusive, a faixa de abertura do EP, “Mods Are Back Again”, foi a primeira a ser cogitada. O guitarrista destaca que esta canção simboliza a volta da Reles. “Uma banda mod, uma banda que está na estrada há tanto tempo, mas que está sempre voltando”.

Vale lembrar que o trio curitibano, que já tocou em Guarapuava, estava há 13 anos sem entrar em estúdio para gravar um material mais completo. Fabio ficou incomodado com esse hiato. “Eu, como compositor, precisava mostrar as minhas ideias e manter a Reles, que é a minha banda, viva, ativa. Minha vida é a Relespública”.

Mas ele compreendeu que isso era normal, pois tudo tem de acontecer no tempo certo. “Tive de aprender a lidar com essa ansiedade”.

Trio está na estrada desde 1989 (Foto: Fabiano Ferreira de Paula)

ESTILOS
A primeira música de trabalho do novo EP, “Mods Are Back Again”, está no ar com um clipe repleto de referências musicais aos anos de 1960 e à cultura mod, contando um pouco da história da Relespública por meio de fotos e trechos de clipes antigos. A direção desse audiovisual é de Raul Machado.

“Essa estética da cultura mod, que é a nossa identidade”. No entanto, o trio curitibano tem mais influências. “A gente ouve muita música negra, James Brown, Ottis Reding, ska, reggae… a gente não tem preconceito com ritmo, estilo nenhum. A gente assimila tudo na nossa música”, destacando que ser mod é ser “moderno”, de sempre estar à frente.

Não por sinal, o EP “Sem ninguém ao lado” tem um ska altamente dançante e pra cima na faixa “Mamaoola”, que foi o primeiro hit local da Reles em shows. À época, chamou atenção do produtor dos Raimundos, que pediu a música. Mas o single acabou guardado e, volta e meia, ressurgia nos shows da banda curitibana.

Já “I Can’t Believe It! Turn, Turn!” veio lá dos primórdios da Reles, numa parceria de Fábio e Daniel Fagundes. “Tentei transcrever aquilo que eu relembrava da música. E acabou virando um apelo, um pedido, uma súplica”, dizendo que é um pedido especial para Fagundes (que fez parte da Reles) voltar e ajudá-lo a cantar. Infelizmente, o antigo integrante deixou o mundo em 1994, num acidente de carro. “Era o meu maior parceiro na época, meu amigo querido, irmão mesmo”, recorda Fábio.

Em seguida, “Voar o Céu” é uma música que foi composta pelo guitarrista aos 13, 14 anos de idade. Naquela época, o compositor confessa que a letra não fazia sentido, pois parecia mais um adulto cantando e, por isso, ficou guardada no fundo do baú. Mas o produtor Crivano a conhecia e achou que era o momento dela. Desse modo, um dia Fábio pegou o violão e fez todo o arranjo. “Me orgulho muito de ter resgatado essa música”, diz o músico.

E, por fim, “Grito de Socorro” é a que deu mais trabalho. “Tem uma introdução, uma abertura. Uma introdução bem Inferno de Dante”, explica Fábio. Depois, ele diz que a música muda e cai num rock bem Led Zepellin, com guitarra influenciada por Jimmy Page. Já a letra é bem direta, ao estilo Relespública.

****************Novo clipe tem direção de Raul Machado

PRODUTOR
Nesse olhar para sua história, a Reles reencontrou o produtor Marcelo Crivano, que trabalhou no álbum “As histórias são iguais”. “Aprendeu a ser produtor com a Reles. E a Reles nunca teve um produtor melhor que ele. É o nosso ‘quarto integrante’”, resume Fábio Elias.

O guitarrista avalia que Crivano é um profissional muito inteligente e perspicaz, com uma sensibilidade aguçada para música e poesia.

Com produção de Bruno Sguissardi e Crivano, “Sem ninguém ao lado” foi gravado entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021 no Nicos Studio em Curitiba (PR).

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