Mulheres vítimas de agressão contam suas trajetórias de dor e superação na produção paranaense ‘O Silêncio das Rosas’

“O Silêncio das Rosas” (2022) foi exibido em Guarapuava no último sábado (23), na sala de cinema do campus Santa Cruz da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). Em conversa exclusiva com o CORREIO, o diretor Eliton Oliveira e a produtora Carol Morais detalham os bastidores dessa produção

Histórias de violência contra a mulher. Este é o doloroso retrato do documentário “O Silêncio das Rosas” (2022), uma produção maringaense que foi exibida em Guarapuava no último sábado (23 jul 2022), na sala de cinema do campus Santa Cruz da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro). A sessão foi uma parceria entre Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres e Procuradoria da Mulher da Câmara de Guarapuava.

O documentário é uma produção da Script Doctor Productions e foi escrito e dirigido por Eliton Oliveira, um profissional com mais de 20 anos de experiência no cinema. A produção é de Carol Morais e do cineasta.

Presente à sessão em Guarapuava, o diretor conta que a realização de “O Silêncio das Rosas” sempre esteve em seus planos, pois ele queria fazer um documentário que tocasse num assunto tão delicado quanto esse da violência contra a mulher. “Formatamos o projeto, captamos recursos pela Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet. As empresas patrocinadoras são de Maringá”, diz, em entrevista exclusiva ao CORREIO.

Aliás, a Cidade Canção sediou o set de filmagem. O filme tem 21 entrevistas, entre mulheres vítimas de violência – que contam abertamente histórias de dor e sofrimentos -, parentes de vítimas de feminicídio, além de profissionais das áreas jurídica, psicológica, médica, policial, entre outras, que dão embasamento técnico ao assunto.

“A intenção era realmente produzir um documentário onde as mulheres que foram vítimas de violência doméstica pudessem contar as suas histórias, sem artifícios de desfoque de imagem ou de alteração de voz. Olhando diretamente para a câmera, conversando diretamente com quem está assistindo. E contando as suas trajetórias de muitos anos de sofrimento, muitos anos de agressão psicológica, de agressão física”, resume o cineasta.

Equipe do filme no set em Maringá (Foto: Assessoria/Script Doctor Productions)

SET
Em função da logística, a produção do documentário optou por trazer as entrevistadas de outras cidades – casos de Guarapuava, Curitiba e Passo Fundo (RS) – para a Cidade Canção. “Ficaria muito difícil nós deslocarmos uma equipe de 15, 16 pessoas”, explica Carol Morais, que trabalha há oito anos no ramo cinematográfico e também compareceu ao evento no campus Santa Cruz.

Vale lembrar que um filme costuma envolver, além da equipe artística, profissionais de iluminação, fotografia, figurino, cenário, maquiagem, enfim, toda uma estrutura.

Morais detalha que a produção de “O Silêncio das Rosas” iniciou em 2021; mas as gravações foram feitas (em qualidade de resolução 4K) durante dez dias do mês de março de 2022. Inclusive, ela trabalhou como entrevistadora, diretora de arte e foi uma das vítimas que prestou seu depoimento.

PARTICIPANTES
Os produtores contam que não tiveram dificuldade em conseguir as entrevistadas para o documentário, tendo inclusive de recusar interessadas. “Houve muitas mulheres que nos procuraram lá”, diz Morais, referindo-se a Passo Fundo, cidade gaúcha onde mora. “Mas ficaria muito difícil se a gente deslocasse a equipe toda para lá”.

Já Oliveira acrescenta que, faltando poucos dias para o início das filmagens, começaram a aparecer mais nomes. No entanto, havia um cronograma apertado de gravações (dez dias) e não podia incluir mais ninguém nas entrevistas, que abrangem também profissionais (médicos, policiais, especialistas etc.).

“O documentário traz essas histórias impactantes. E aí, você tem profissionais falando sobre o perfil da vítima, o perfil do agressor, o perfil do feminicida. A questão psicológica que envolve a agressão, as motivações, os gatilhos”, explica o diretor.

Em Guarapuava, diretor Eliton Oliveira participou da abertura da sessão (Foto: Redação/Correio)

GUARAPUAVA
Uma das histórias contadas no documentário é o feminicídio da advogada guarapuavana Tatiane Spitzner, ocorrido em 22 de julho de 2018 e que chocou o país, ganhando repercussão internacional. Inclusive, a data foi instituída pela Lei nº 19.873/2019, no Paraná, como Dia Estadual de Combate ao Feminicídio.

A prima de Tatiane, a hoje vereadora Bruna Spitzner, deu seu depoimento a “O Silêncio das Rosas” a partir do convite da produtora Carol Morais. “Eu participei do documentário contando sobre um pouco do que a gente faz aqui, em Guarapuava, e também como foi passar por isso sendo familiar dela [Tatiane]”, dizendo que é extremante necessário esse tipo de produção cinematográfica. “Porque, em muitos dos depoimentos, as mulheres vão se identificar de alguma forma”.

Bruna acrescenta que, rememorar a morte de sua prima, é sempre doloroso. “A gravação foi difícil. Mas eu sabia que era necessário falar”, destacando que, dessa forma, a voz de Tatiane continuará ecoando. “O caso dela veio para abrir os olhos de algumas pessoas que não tinham nem ideia de que estavam dentro de um relacionamento abusivo”.

EMBLEMÁTICO
“O caso da Tatiane Spitzner é um dos mais conhecidos e emblemáticos do Paraná. E nós queríamos trazer essa história porque é preciso continuar debatendo sobre isso. Por mais que o julgamento tenha sido encerrado, a família queria colocar uma ‘pedra’. Mas o ponto final nunca existe. E o documentário está servindo como um alerta para muitas mulheres, porque essa é a nossa intenção”, diz o diretor Eliton Oliveira.

A produtora Carol Morais complementa que “O Silêncio das Rosas” traz a todas as mulheres quais são os gatilhos que levam a uma relação tóxica: a proibição de trabalhar e de ter amigos, os ciúmes excessivos, por exemplo. “E é isso o nosso intuito, de levar o conhecimento para elas, para que se coloquem e sintam”.

Segundo Oliveira, as imagens no filme com mulheres vítimas de violência (física e psicológica), contando seus casos de agressão e superação, “bombardeiam” a plateia, provocando os tais gatilhos. De maneira que o espectador se coloca no lugar da entrevistada em tela.

Público guarapuavano compareceu à sessão realizada no campus Santa Cruz (Foto: Redação/Correio)

SESSÕES
“O Silêncio das Rosas” tem sido exibido em sessões realizadas em cidades como Maringá e Guarapuava. Após essa fase, o planejamento dos produtores é de tornar disponível o documentário nas plataformas de streaming, atingindo o maior público possível.

Segundo o diretor, um contrato foi assinado com uma distribuidora. “E tão logo a gente encerre essa etapa de exibições nas cidades, o documentário é colocado nas mãos da distribuidora, que já está apresentando o projeto para canais de TV, para plataformas… eu acredito que, até o final do ano, o documentário esteja disponível”.

FINANCIAMENTO
O documentário “O Silêncio das Rosas” é um projeto financiado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura com fomento do Instituto Cultural Ingá (ICI). Apoio: Valorem e Arilu; patrocínio: Fortgreen, Rivesa, Fertipar, F.A. Colchões, Lowçúcar. Realização: Script Doctor Productions, Ministério do Turismo, Governo Federal – Pátria Amada Brasil.

https://youtu.be/g7GET_GUkwM
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