Memória: Graciliano Ramos e ‘S. Bernardo’

Nesta quarta-feira (20), completam-se 71 anos da morte de Graciliano Ramos, um dos principais nomes da literatura brasileira no século 20. O momento é de evidência desse escritor alagoano, com sua obra em domínio público e os 90 anos de lançamento de “S. Bernardo”, romance clássico sobre a trajetória do personagem Paulo Honório

O escritor Graciliano Ramos (1892-1953) está em evidência, como há muito tempo não se via. Tudo porque sua obra caiu em domínio público e, com isso, uma variedade de editoras têm inundado o mercado com novas edições de seus livros. Até então, a Record tinha exclusividade nas publicações; pelo menos, nas últimas décadas.

Nesta quarta-feira, 20 de março, completam-se 71 anos da morte desse autor alagoano, um dos principais nomes da literatura brasileira no século 20. Ele morreu em 20 de março de 1953, após ficar internado em uma casa de saúde em Botafogo, no Rio de Janeiro. E foi sepultado no dia seguinte, às 10h, no Cemitério de São João Batista.

O ano de 2024 é especial também porque seu segundo romance comemora 90 anos de lançamento. Após o titubeante “Caetés” em 1933, o velho Graça, como era conhecido, publicou “S. Bernardo” em 1934. Considerada um clássico, esta obra conta a história de ascensão e queda de Paulo Honório, um homem simples que, movido por uma ambição sem limites, se torna um grande fazendeiro no sertão alagoano, à frente da propriedade que dá nome ao livro.

O protagonista se casa com Madalena, uma humanista e totalmente o avesso de sua sanha rude e egoísta.

O problema de Paulo Honório é que ele não consegue compreender o mundo de sua esposa e todos à sua volta. Logo, no início do livro, o narrador, que é o personagem principal, escreve uma frase que serve como síntese do romance: “não nos entendíamos”.

Por outro lado, o protagonista se lança na empreitada, aos 50 anos idade, de escrever um relato, repassando sua trajetória, a partir do “pio da coruja”. Mesmo sem o conhecimento técnico do labor da escrita. “Tenciono contar a minha história. Difícil”. Mas é isto que basta. Ele revisita dramas de seu passado e conflitos internos que permanecem inexplicáveis até o momento em que suas memórias estão sendo escritas.

A narrativa traz o famoso estilo conciso, seco e direto de Graciliano que o fez se tornar célebre no Modernismo. Mas sem perder de vista a complexidade das personagens.

CINEMA
Em 1972, o ator Othon Bastos deu vida a Paulo Honório no filme “S. Bernardo”, adaptação feita pelo diretor e roteirista Leon Hirszman (1937-1987), um dos expoentes do Cinema Novo, a partir do livro homônimo.

Este longa-metragem foi rodado na cidade de Viçosa (Alagoas), onde Graciliano Ramos viveu muitos anos e onde escreveu algumas de suas obras.

Em novembro de 2015, “S. Bernardo” entrou na lista feita pela Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

MORTE
A morte de Graciliano ganhou as páginas dos jornais em 21 de março de 1953. Por exemplo, “O Estado de S.Paulo” noticiou que a literatura brasileira perdeu “…uma de suas figuras mais autenticamente expressivas”, situando que o escritor fora vítima de longa moléstia, que há bastante tempo o mantinha preso a um leito de hospital. Mas sem impedi-lo de trabalhar.

A nota desse jornal traça uma breve biografia do contista e romancista, destacando que sua obra é considerada, pela unanimidade da crítica, a “expressão mais pura do nosso romance, depois do desaparecimento de Machado de Assis”.

Já o jornal “Folha da Manhã” (que mais tarde se tornaria a “Folha de S.Paulo”), destacou em 21 de março de 1953 a matéria “Morreu Graciliano Ramos”, com foto do autor segurando o livro “Vidas Secas”. Este diário paulistano o classifica como “um dos maiores romancistas brasileiros de todos os tempos”.

Capa da edição publicada em 2024 (Foto: Reprodução)

EDIÇÕES
No mercado, o leitor e a leitora podem encontrar edições variadas de “S. Bernardo”. Uma delas é da editora Record, lançada em 2019 e autorizada pelo Instituto Graciliano Ramos.

Outra é da Penquin-Companhia das Letras, publicada em 2024 na esteira do domínio público. Segundo a editora, trata-se de volume com estabelecimento de texto de Ieda Lebensztayn, crítica literária e doutora em literatura brasileira pela Universidade de São Paulo (USP), e posfácio de Paulo Massey, professor e doutorando em sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFCE).

PROJETOS
Aliás, o projeto da Penquin-Companhia da Letras é do relançamento da trinca principal de Graciliano Ramos: “S. Bernardo”, “Angústia” e “Vidas Secas”.

Por sua vez, a Todavia mantém a “Coleção Graciliano Ramos”, organizada pelo professor e pesquisador Thiago Mio Salla, reconhecido especialista na obra do escritor. Já saiu “Angústia” e “Os filhos da coruja”. No próximo dia 8 de abril, chega “Vidas Secas” às livrarias.

AUTOR
Graciliano Ramos nasceu em 1892 em Quebrangulo, Alagoas. Primogênito de dezesseis filhos, viveu com a família em diferentes cidades do Nordeste brasileiro. Foi prefeito de Palmeira dos Índios (AL) entre 1928 e 1930.

É o autor de grandes clássicos da literatura brasileira, como “Caetés” (1933), “S. Bernardo” (1934), “Angústia” (1936, ano em que foi preso por suposto envolvimento com a Intentona Comunista), “Vidas secas” (1938) e outros.