Hits de Kate Bush e Talking Heads compõem trilha da 4ª temporada de ‘Stranger Things’; conheça a história

A cultuada série da Netflix estreou recentemente o primeiro volume da nova fornada de episódios inéditos. Como em anos anteriores, a trilha sonora é formada majoritariamente por hits dos anos de 1970/80. Dois deles se destacam para a reportagem: “Running up that Hill” e “Psycho Killer”

A série de streaming “Stranger Things” não é nostalgia apenas para quem curte cinema dos anos de 1980, com as centenas de influências e easter eggs. Sua trilha sonora é um verdadeiro prato cheio: Kiss, Police, Clash, Duran Duran, Joy Division, Toto, Scorpions, Cyndi Lauper etc.

Como é um programa que se passa na década oitentista, obviamente o fundo musical só poderia ser formado em sua maioria por hits (e algumas pérolas) daquele período. É o que se viu nas últimas três temporadas produzidas pela plataforma Netflix.

Além de cativar os ouvidos nostálgicos, a trilha de “Stranger Things” também redescobre antigos sucessos dos anos 70/80, conseguindo levá-los às paradas do streaming musical como se fossem lançamentos de 2022.

É o caso da balada “Running up that Hill”, na performance oitentista de Kate Bush. Presente originalmente no disco “Hounds of Love” (1985), a faixa aparece no episódio inaugural do primeiro volume da quarta temporada. A personagem Max (Sadie Sink) caminha pelos corredores de uma escola ouvindo esse hit em seu walkman (aparelhos com fone de ouvido que eram utilizados no passado para curtir música em fitinhas K7).

Bastou isso para “Running up that Hill” aparecer pela primeira vez no ranking Spotify Global; e também na lista Top 100 World do Deezer, outra plataforma de áudio, em 3º lugar – atrás apenas de “As it Was”, de Harry Styles, em 1º lugar, e “Me porto bonito”, de Bad Bunny, 2º.

Nascida em 1958 em uma região próxima a Londres, a cantora e compositora Bush (63 anos) iniciou a carreira musical nos anos de 1970, alcançando o auge no período de 1980/90. No entanto, ao longo de sua carreira alternou os holofotes com longos hiatos longe do público e da indústria musical. Além de ter criado uma aura cult.

Por exemplo, em 15 de novembro de 1993 o jornal O Estado de S.Paulo publicou uma entrevista com Bush, informando que ela ressurgia após quatro anos com o disco “The Red Shoes”. “Ela costuma sumir por alguns anos – tanto que foi chamada de ‘Greta Garbo do pop’. Mas sempre reaparece, com canções preciosas, próprias para valorizar sua voz sensual e etérea, e dois ou três videoclips, em geral pequenas obras-primas cinematográficas”, diz o texto assinado por Jean-Yves de Neufville.

Ao jornal paulistano, a cantora explicou que o “sumiço” ocorria porque queria se dedicar mais ao trabalho e não à promoção da imagem. “O mundo parece cada vez mais tomado pelo marketing, enquanto a criação fica em segundo plano. Sempre me pareceu importante inverter isso”, afirmou Bush.

Inclusive, o repórter lembra que ela havia feito àquela altura apenas uma turnê, em 1979. “Gostei muito daquela experiência, mas ao mesmo tempo foi um tanto assustadora. Eu me senti constrangida de estar exposta daquela maneira, fisicamente, diante de uma plateia”, diz a britânica, acrescentando que achou melhor se retirar, para se preservar e criar melhor.

Além de “Running up that Hill”, Kate Bush também gravou “Wuthering Heights” e “Babooshka” (Foto: Reprodução)

Vale lembrar que ela está por trás do single “Wuthering Heights” (1977), que faz referência ao romance “O morro dos ventos uivantes”, de Emily Bronte. E também “Babooshka”. O canal KateBushMusic, no YouTube, reúne seus clipes, recheados de performances solo da artista, que também era bailarina (repare no figurino e nas caras e bocas).

Após “Hounds of love”, a cantora lançou dois álbuns: “The sensual world” (1986) e “The Red Shoes” (1993). A partir daí, a carreira da britânica entrou em hiato. Ela voltou ao estúdio em 2005 para gravar “Aerial” e, seis anos depois, seu último trabalho até agora, “50 words for snow” (2011).

TALKING HEADS
No segundo episódio da 4ª temporada de “Stranger Things”, um trecho de “Psycho Killer” (1977) marca a cena em que o time de basquete adolescente é insuflado pelo capitão do time a procurar Eddie (Joseph Quinn), um rapaz que curte RPG, mas é suspeito de ter matado uma líder de torcida. É o famoso esquisitão, “freak”, aos olhos da sociedade.

A canção é uma composição do Talking Heads, grupo que surgiu em Nova York em 1974 liderado pelo performático David Byrne. Ao lado de “Burning Down the House” e “Once in a Lifetime”, “Psycho Killer” é um dos grandes sucessos dessa banda marcante na cena setentista.

Alternando versos em inglês e francês, a letra desse tema inserido em “Stranger Things” diz, em tradução livre: “Eu não consigo encarar os fatos/Estou tenso e nervoso e não consigo relaxar/Eu não consigo dormir porque minha cama está pegando fogo/Não me toque, eu sou um verdadeiro fio vivo/Assassino Psicopata”.

Em linhas gerais, passa-se na cabeça de um assassino. Assustador. Mas, na série da Netflix, quem é mesmo o “psicopata”, Eddie ou o capitão do time?

“Psycho Killer” está no disco de estreia da banda, lançado em 1977: “Talking Heads: 77” (Sundragon Studios). Com o dedo de Byrne em todas as faixas, o álbum tem elementos do punk, experimentalismos e aquela melodia pré-new wave. Em 2003, a revista Rolling Stone o elegeu como um dos 500 melhores álbuns de todos os tempos.

Curiosamente, a única canção em coautoria (Byrne, Chris Frantz, Tina Weymouth) é “Psycho Killer”. Segundo algumas fontes, ela teria sido composta inspirada no estilo sombrio de Alice Cooper e no soul de Otis Redding (trecho “Fa Fa Fa Fa”). Há também quem diga que Byrne teve como referência Norman Bates, o assassino do filme “Psicose”, de Alfred Hitchcock.

BOYS
Antes de aparecer na nova temporada de “Stranger Things”, a faixa dos Talking Heads já havia sido inserida em 2020 na 2ª temporada de “The Boys”, série da Amazon Prime Video.

“Psycho Killer” aparece na trilha sonora dos filmes “Julie & Julia”, “Behind the Mask: The Rise of Leslie Vernon” e “Summer of Sam”, entre outros. A música também é presente nos seriados “Heroes”, “Os Simpsons”, “Shameless” e, recentemente, em “Soundtrack”.

********Texto/pesquisa: Cristiano Martinez, especial para www.correiodocidadao.com.br

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