Edição de luxo joga luz no álbum ‘Flaming Pie’, de McCartney

Lançado em 1997, disco apresentou belas faixas, casos de “Young Boy” e “Calico Skies”. Mas dividiu a imprensa brasileira daquela época, com gente que enalteceu a qualidade do material e outros que malharam o “pastiche beatleniano”

Vinte e três anos depois, “Flaming Pie” (Parlophone/EMI) retorna aos holofotes. Lançado em 1997, esse disco de estúdio da fase solo do eterno beatle Paul McCartney volta em edição de luxo (CDs, DVDs, LPs etc.), prevista para esta sexta-feira (31 de julho).

Por enquanto, McCartney liberou nos serviços de streaming novas versões em EP e clipes com algumas faixas que pertencem a “Flaming Pie”. É o caso, por exemplo, da balada “Young Boy”, cujo EP tem quatro faixas: uma versão remasterizada 2020, uma faixa nua e crua, “Oobu Joobu Pt. 1” e “Looking For You”, com a participação de Jeff Lynne e Ringo Starr (outro beatle).

É a oportunidade do beatlemaníaco ou apreciador conhecer um registro dos anos de 1990 para a longa discografia de McCartney, que continua na ativa.

Segundo matéria publicada pelo jornal O Estado de S.Paulo em 21 de maio de 1997, “Flaming Pie” era o melhor disco-solo em muito tempo, até aquele momento na trajetória pós-Beatles do artista inglês. E não apenas isso. O material fonográfico apresentava parceria criativa com Ringo Starr na composição “Really Love You”; e participações de Jeff Lynne, Steve Miller, Linda McCartney (nos vocais) e até mesmo do filho James (guitarra).

TÍTULO
Aliás, o título do disco rende homenagem a outro beatle, John Lennon (1940-1980). “Brincava ele que da torta flamejante (‘Flaming Pie’) vinha o homem que dizia: ‘O nome de vocês é Beatles, com ‘a’. A música de ‘Flaming Pie’ é uma típica melodia Beatles”, diz o texto de 1997 do jornal paulistano.

Outros destaques musicais entre as 14 canções são “Young Boy”, escrita por McCartney para seu filho, James, que tinha apenas 19 anos em 1997 e toca em “Heaven on a Sunday”; a balada “Calico Skies”, que tem sabor de “Blackbird” (classicaço beatleniano) e, anos depois, entrou para o set list de diversas turnês do artista; e “Beautiful Night”, com Ringo na bateria.

“Um grande disco, adiante-se. Baladas formidáveis, blues com aquele sabor que os ingleses emprestaram ao gênero nos anos 60, ressuscitando-o. McCartney voltou com a inspiração que parecia perdida”, afirma o Estadão, informando que as gravações de “Flaming Pie” começaram em 1992, sem muita pressa.

Detalhe de matéria publicada no jornal O Estado de S.Paulo de 1997 (Foto: Reprodução)

BEATLES
Na Folha de S.Paulo de 21 de maio de 1997, o repórter Pedro Alexandre Sanches pegou pesado em sua avaliação do álbum.

Mesmo apontando que é um “dos discos mais elegantes de sua carreira solo”, Sanches é implacável ao dizer que, em “Flaming Pie”, Paul tenta juntar cacos e revolver restos dos Beatles. Ou seja, é um trabalho que emula o material de sua banda mais conhecida, mas em um degrau abaixo, desvelando seu conservadorismo. “Se nos 60 o quarteto convulsionou o mundo à base de rebeldia bem-comportada, hoje Paul transfere sua veia retrógrada à eterna mimetização de uns poucos clássicos dos Beatles”.

O único ponto positivo, na visão do brasileiro, é de que o inglês não imita seus discípulos de fins dos anos de 1990, como é o caso de Noel Gallagher (então no Oasis).