Crime de estupro é relatado em ‘Camila’, livro de escritora guarapuavana

Em visita ao CORREIO para apresentar a obra, a escritora e pedagoga Ana Paula adiantou alguns detalhes da história e destacou a importância do material

Contando uma história real de estupro e seguidas violências contra mulher, a obra “Camila”, da guarapuavana Ana Paula Moliani, aborda temas relevantes da vida de uma mulher vítima de violência sexual nos anos de 1990.

Para preservar a identidade da vítima, o livro usa nomes fictícios para os envolvidos na situação e não revela em qual cidade o fato ocorreu. Iniciado no começo da pandemia, em março de 2020, a previsão de lançamento é 12 de novembro.

Em visita ao CORREIO para apresentar a obra, a escritora e pedagoga Ana Paula contou alguns detalhes da história e destacou a importância do material. “Ele traz várias questões pertinentes. O foco principal dele é o estupro mesmo, dentro da família. É sobre uma menina que foi violentada aos 18 anos por um parente. Ela não contou para ninguém no início porque ela foi ameaçada, isso foi na década de 1990”, conta.

A história também destaca a repetição pela qual Camila passou, sendo vítima de outros tipos de violência ao longo da vida. “O livro fala sobre a repetição, ela procura um parceiro, o parceiro também era agressivo, ela teve uma outra violência e o livro narra essas questões, das repetições da violência”, explica Ana Paula, revelando que a filha de Camila também passou pela mesma situação.

O cuidado da autora em não revelar nenhuma informação que identifique as vítimas se deve ao fato do crime ainda não ter prescrito. “A personagem retrata muitas mulheres em situação de violência. É uma personagem real, que passou por todas essas situações de violência, não é uma só. O livro traz três violências. Uma ainda não prescreveu e trata-se de um caso de estupro de vulnerável sofrido pela filha de Camila quando tinha 10 anos”.

Material de divulgação do livro (Foto: Reprodução)

DEBATE
Um dos objetivos da escritora com a obra é levantar outras questões que fazem parte da vida dos muitos casos de crimes contra mulheres, sejam eles de qualquer natureza. “O estupro não é um sexo mais forte, não é uma pegada mais forte. É violência, estupro é violência. O livro traz isso”.

Outra abordagem é a questão da dependência afetiva que faz com que muitas mulheres se mantenham em relacionamentos abusivos, mostrando a visão de uma vítima em relação ao tema. “São debates importantes e que precisam ser contextualizados hoje em dia para que as pessoas consigam dar a devida importância por tema”.

Ana Paula alerta que o material é de fácil leitura, mas que pode conter gatilhos por narrar exatamente como ocorreu o crime contra Camila. “Ele tem uma linguagem muito fácil, ele é muito cheio de diálogos. Ele é divertido. Embora ele seja tenso, eu coloco isso no livro, mas no contraponto ele é divertido porque ele retoma a gente na época da nossa juventude, tudo era mais leve, como a gente tinha essa ingenuidade que hoje em dia não é tanto, como era na nossa época”.

NOME
Camila, nome da obra e fictício da personagem, foi escolhido em referência à música “Camila, Camila” (Sady Homrich/Thedy Corrêa/Carlos Stein), da banda gaúcha Nenhum de Nós. É a faixa que tem versos como “E eu que tinha apenas 17 anos/Baixava a minha cabeça pra tudo/Era assim que as coisas aconteciam/Era assim que eu via tudo acontecer”.

A canção é do álbum de estúdio “Nenhum de Nós”, lançado em 1987 pela gravadora BMG-Ariola, e retrata uma situação de violência contra mulheres. “Ela foi uma das primeiras músicas nacionais a narrar uma situação de violência doméstica. Escolhi o nome por isso mesmo”, diz a autora guarapuavana.

ESCRITORA
Apesar de “Camila” ser o primeiro livro publicado de Ana Paula Moliani, ela já escreveu outras duas obras e afirma que escreve desde os 17 anos. “Hoje em dia nós temos facilidade, embora ainda não tanto como eu acredito que deveria ter. Um deles [dos livros] também é baseado em fatos reais e o outro é um conto”.

Para que o livro fosse produzido, a guarapuavana vendeu o carro, comprou um mais barato e investiu o restante na produção. “É muito difícil você publicar um livro no Brasil. Eu peguei por conta, uma pessoa para fazer a diagramação, para fazer o desenho da capa, da criação das fotos”, comenta.

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