Como se não houvesse amanhã

O que o filme “Curtindo a vida adoidado”, a série “High Fidelity” e a banda Save Ferris têm em comum? A canção oitentista “Come on Eileen”. Este “one hit wonder” da Dexis estabelece conexão entre três projetos tão diferentes entre si, mas com alguma coisa em comum: a diversão do aqui, agora

Logo no episódio de estreia da série “High Fidelity” (“Alta Fidelidade”, na versão em português), uma das cenas chama atenção pelo humor, descontração e espírito hedonista. Tudo se passa na loja de discos da protagonista Robyn Brooks (Zoë Kravitz).

Após Simon (David H. Holmes) botar um disco de vinil para tocar, chega a espalhafatosa Cherise (Da’Vine Joy Randolph). Ou melhor, ela “chega, chegando”. De cara, desliga a vitrola e conecta seu smartphone para escutar outra faixa, totalmente diferente. “Vamos pôr música de verdade?”, provoca a funcionária.

Cherise conta a Simon que sonhou com essa canção na noite passada. “Depois, eu quis ouvir essa música. Tive que ouvi-la pra ver se gostava. E essa música é irada pra cacete!”. Nos primeiros acordes, a moça começa a dançar, como se não houvesse amanhã. Ela confessa que não sabia o quanto isso era bom.

O número musical fica por conta de “Come on Eileen”, na versão original da banda oitentista Dexys Midnight Runners.

“Poor old Johnny Ray, sounded sad upon the radio/ He moved a million hearts in mono/ Our mothers cried/ And sang along who’d blame them? (“Pobre velho Johnny Ray, soava triste no rádio/ Ele comoveu um milhão de corações em mono/ Nossas mães choraram/ E cantaram junto, quem poderia culpá-las?”, em tradução livre), dizem os primeiros versos.

Para quem não sabe, a série disponível no streaming Starzplay (e produzida pela Hulu) é a segunda adaptação do best-seller britânico escrito por Nick Hornby – a primeira versão é o filme estrelado por John Cusack em 2000.

Na série do Starzplay, Simon e Cherise conversam sobre…. música (Foto: Reprodução)

Cancelada após a 1ª temporada, “Alta Fidelidade” combinou humor e drama ao tratar sobre amizades e relacionamentos de Rob – dona de loja de discos em Nova York, Estados Unidos. A trilha sonora é o ponto forte do programa.

Já “Come on Eileen” tem uma história mais antiga. A começar pela Dexis, uma banda surgida em 1978 e cuja figura principal é o vocalista, compositor e multi-instrumentista Kevin Rowland (o cara tem uma voz única). Essa canção é um dos maiores sucessos do projeto musical, formada por arranjos de violino e metais, juntando soul, pop e música tradicional celta.

Se você procurar no YouTube, vai achar o clipe oficial da faixa, com os integrantes vestidos de macacão (tem uma brincadeira sobre esse figurino naquela cena de “High Fidelity”). Aliás, após muitas formações e recomeços, a Dexis continua na ativa, tendo o Rowland dos anos 80 à frente dos trabalhos. Em seu perfil oficial nas redes sociais, a banda apresenta até mesmo uma turnê para 2022.

“Come on Eileen” (Rowland, Paterson, Billy Adams) é a faixa que fecha o disco “Too-Rye-Ay”, segundo álbum de estúdio dos britânicos e que foi lançado em julho de 1982 pela Mercury Records. O sucesso desse disco foi capitaneado justamente por essa canção, consagrando-se num “one hit wonder” (hit número um) nos Estados Unidos e no Reino Unido.

Não é o famoso clipe, mas tem a banda vestindo macacões

ANOS 90
Em ritmo de ska/reggae, a banda norte-americana Save Ferris regravou “Come on Eileen” para o disco “It Means Everything” (1997). A nova versão ficou mais rápida, colorida e na voz da cantora Monique Powell, alcançando grande sucesso.

Se você pensou em certo filme, rei da Sessão da Tarde, acertou. Formada em 1995, a banda retirou seu nome de “Ferris Bueller’s Day Off” (1986), título original do longa-metragem escrito e dirigido pelo saudoso John Hughes (1950-2009). No Brasil, é conhecido como “Curtindo a vida adoidado” e conta a história de Ferris Bueller (Matthew Broderick), um adolescente malandro que mata um dia de aula para curtir a vida como se não houvesse amanhã. Acompanhado dos amigos, apronta todas em Chicago: passeio numa Ferrari impecável, almoço num restaurante grã-fino, visita ao museu, jogo de beisebol, dança ao som de “Twist and Shout” dos Beatles.

Digamos que a Cherise do início deste texto é uma discípula do cara. Assim como a banda de ska/reggae, claro. Inclusive, os colegas de escola do protagonista, achando que ele estava doente de verdade (outra armação do personagem de Broderick), promovem a campanha “Save Ferris” (“Salve Ferris”) no decorrer do filme.

https://youtu.be/PU4PrWRlo_8

INVISÍVEL
Em tempo, “Come on Eileen” embala outro filme: “As vantagens de ser invisível” (2012), produção dirigida por Stephen Chbosky. Disponível no streaming (Amazon Prime Video, Netflix, Globoplay etc.).

A canção é trilha principalmente de uma cena que se passa durante um baile de estudantes. A dupla de amigos Sam (Emma Watson) e Patrick (Ezra Miller) aproveita para extravasar numa dança cheia de coreografias das mais estrambólicas possíveis (“como se não houvesse amanhã”). “Céus, estão tocando música boa!”, diz Sam.

Até que Charlie (Logan Lerman), o garoto deslocado, cria coragem e se junta à dupla, se soltando. Ele é um jovem que tinha dificuldades para interagir em sua nova escola.

Detalhe: a atriz Emma Watson (a eterna bruxinha da franquia “Harry Potter”) vive uma das personagens centrais desse longa-metragem, que é baseado no livro homônimo do próprio diretor.

*******Texto/Pesquisa: Cristiano Martinez, especial para Correio.com.br

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