Biografia ajudou a difundir as ideias geniais do Paulo Leminski, diz autor do livro

Ausente há nove anos do mercado editorial, a biografia “Paulo Leminski – o bandido que sabia latim” volta em nova edição pela Tordesilhas Livros. A obra é fruto de pesquisa e escrita do jornalista Toninho Vaz, que a lançou originalmente em 2001. Ele conversou com o CORREIO sobre o material e a polêmica envolvendo a família de Leminski em 2013

Fruto de um ano de pesquisas e 81 entrevistas realizadas com parentes, parceiros, alunos, ex-mulheres, professores, amigos e até desafetos, o livro “Paulo Leminski – o bandido que sabia latim” jogou luz em 2001 (ano da 1ª edição do livro) sobre a trajetória do poeta paranaense, que é uma figura admirada por muitos e criticada por alguns.

O autor da biografia, jornalista Toninho Vaz, reuniu histórias, escritos, poemas, fotos inéditas, rascunhos de textos inacabados e muitas pegadas espalhadas pelas três cidades onde Paulo Leminski (1944-1989) viveu: Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo.

Agora, em 2022, a obra escrita por Toninho volta às livrarias pela Tordesilhas Livros. Na verdade, era para ter retornado antes. Durante o processo de impressão do que seria a quarta edição, em 2013, a família de Leminski se mostrou contrária à publicação da obra, que sairia na época pela editora Nossa Cultura. Dois anos depois, porém, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelo afastamento da exigência de autorização prévia do biografado ou de suas famílias, em casos de pessoas já falecidas, o que finalmente possibilitou que o material escrito pelo jornalista voltasse a circular.

Assim, ausente há nove anos do mercado editorial, “Paulo Leminski – o bandido que sabia latim” volta. Publicado originalmente há mais de duas décadas, o livro revelou, em abordagem surpreendente, que Paulo Leminski tinha um filho, até então, desconhecido. Para a nova edição, além do texto original, foi criado um capítulo inédito e atualizado que aborda o assunto e um caderno de fotografias do poeta com amigos e familiares.

Em entrevista, o autor da biografia dá mais detalhes sobre a nova edição e comenta a respeito da polêmica de 2013, entre outros assuntos.

Capa da nova edição (Foto: Reprodução)

Além do capítulo inédito, a nova edição de “Paulo Leminski: o bandido que sabia latim” tem novas entrevistas ou mudança de informações? Fale um pouco desse trabalho de revisão do material lançado em 2001.
Não houve mudança de informação, mas sim a adição de um novo prefácio do autor e um capítulo final com enfoque na situação do filho reconhecido tardiamente, o jovem Paulo Leminski Neto. Tem uma entrevista com ele e um pequeno trecho de cinco linhas que as herdeiras usaram como álibi para cometer a censura. Agora poderemos comprovar que nada havia de “sórdido”, como elas alegaram.

Como foi a negociação com a Tordesilhas Livros para a publicação da nova edição do livro?
Bem, neste caso o mérito é da editora que, apesar da censura, colocou o foco profissional na questão e percebeu que, do ponto de vista jurídico, não havia impedimento para a publicação. A utilização de poemas, que as herdeiras haviam proibido, foi superada pois, tecnicamente, os poemas funcionam apenas como ilustração. Como havia demanda, a ideia de uma nova edição ficou sólida. Eis o milagre concebido.

Quando você lançou a biografia há mais de 20 anos, os leitores puderam conhecer mais sobre a obra e a vida de Paulo Leminski, por meio de uma narrativa fluida e envolvente. Aliás, acredito que você jogou luz na trajetória errática do poeta. De lá para cá, é possível dizer que o mercado editorial e a crítica literária mostraram mais interesse no Leminski, tendo em vista o surgimento de coletâneas, por exemplo?
Me parece inquestionável que a biografia ajudou a difundir as ideias geniais do Paulo, pois o livro já está indo para a 4ª edição. Um sucesso de crítica e de leitores. A quantidade de pessoas que se manifestam “tocadas” pelo livro, naquilo que tem de revelação “sublime” do poeta, sempre me foi gratificante e até mesmo emocionante. Conheço um jovem poeta, hoje conceituado, que me disse há décadas: “Mudou a minha vida”.

O fato de a sua antologia ter se tornado um best-seller, funciona como uma espécie de consagração popular, um aval para o poeta das massas. Ele daria um sorriso de canto e diria: “A vingança do pipoqueiro”

Em 2013, houve aquele imbróglio envolvendo a família do Leminski que impediu a publicação da 4ª edição da biografia pela Nossa Cultura. Na sua avaliação, o que ocorreu nesse caso? Hoje, o trabalho do biógrafo é melhor, em termos de liberdade de expressão?
Até hoje eu não sei o que ocorreu neste caso. Sei que elas, as herdeiras, alegaram a inclusão de um trecho “sórdido” de cinco linhas, que não existia nas edições anteriores. É meia verdade, mas o trecho nada tem de sórdido e está incluído agora para comprovar. O mais difícil pra mim foi aceitar a censura sem ser procurado pela Alice e as meninas. Nada, nenhuma palavra. E a gente era como compadres. A suspeita de que elas queriam dinheiro da editora não está descartada pois, como já disse, elas nunca me falaram nada, a censura foi resolvida com a editora. Elas também podiam estar querendo evitar a revelação do rapaz que deixou de ser filho para ser herdeiro. Pode ser. Depois o STF falou: “Cala a boca já morreu” – e a liberdade voltou a raiar no horizonte do Brasil.

Parte da crítica literária, principalmente na universidade, costuma contestar a qualidade e a importância da poesia de Paulo Leminski. Como você avalia isso? Parece que, em Curitiba, alguns meios de comunicação gostam de bater no Paulo (cito, por exemplo, o jornal Rascunho).
O Paulo Leminski tem leitores e uma boa parte da crítica, aquela menos ortodoxa. O jornal Rascunho foi deselegante com ele, fazendo crítica chula. Chamou o Paulo de um sujeito oco, sem conteúdo – tão falaciosa a pecha que parece que estão falando de outra pessoa. O fato de a sua antologia ter se tornado um best-seller, funciona como uma espécie de consagração popular, um aval para o poeta das massas. Ele daria um sorriso de canto e diria: “A vingança do pipoqueiro”.

O que essa biografia sobre Paulo Leminski representa em sua carreira como escritor? Qual é o seu próximo projeto?
Foi o meu primeiro livro, a primeira biografia, que surgiu meio por acaso a partir de uma sugestão da Alice Ruiz. Deu certo. Depois escrevi a biografia do Torquato Neto, do Zé Rodrix, da pensão carioca Solar da Fossa, do homem de cinema Luiz Severiano Ribeiro, da Santa Edwiges, de Luiz Melodia etc. Atualmente estou escrevendo a história do maestro Rogério Duprat, uma personalidade surpreendente, que vai ser a minha décima biografia. Ainda não tenho editora, mas já tenho leitores garantidos…. rs

AUTOR
Jornalista, roteirista, escritor e biógrafo, o curitibano Toninho Vaz mudou-se para o Rio de Janeiro anos anos de 1970, onde foi repórter da revista IstoÉ e do Jornal do Brasil, entre outros órgãos da imprensa escrita. Foi editor de texto do Jornal Nacional, do Fantástico e do Globo Esporte, além de trabalhar para a rede norte-americana CBS Television. É autor de biografias de Luiz Melodia (Tordesilhas, 2020), Torquato Neto e Zé Rodrix.

SERVIÇO
A nova edição de “Paulo Leminski – o bandido que sabia latim” (R$ 99, 392 páginas) pode ser adquirida diretamente com a editora, via site (https://www.alaude.com.br/produto/paulo-leminski-o-bandido-que-sabia-latim-1103). O livro está em pré-venda e será lançado em 19 de setembro.

********Reportagem: Cristiano Martinez, especial para correiodocidadao.com.br

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