40 anos sem Elis

Nesta quarta-feira (19), completam-se quatro décadas da morte de Elis Regina, uma das maiores vozes da história da música popular brasileira. O CORREIO vasculhou os arquivos de jornais da época para relembrar o destaque dado ao assunto em 1982

“A morte de Elis aos 36 anos”. “Elis Regina morre de repente aos 36 anos”. “O Brasil sem Elis Regina”. Assim, os principais jornais do país estamparam na primeira página, em 20 de janeiro de 1982 (uma quarta-feira), a morte da cantora Elis Regina, ocorrida no dia anterior (terça).

“Considerada por muitos a maior intérprete atual da música popular brasileira, a cantora morreu ontem pela manhã, mas o Instituto Médico Legal só deverá estabelecer a causa exata de sua morte depois de vários exames”, diz o texto da capa do Estado de S.Paulo. Esse “ontem” se refere a 19 de janeiro de 82.

Ou seja, nesta quarta-feira, dia 19, completam-se 40 anos da morte de uma das maiores cantoras da música popular brasileira. A passagem dessas quatro décadas só confirmou a importância da famosa “Pimentinha”, cujo legado musical é reverenciado. Por isso, muitos fãs, imprensa e artistas lamentam até hoje a sua partida abrupta.

“Chocante, terrível, algo que não poderia ter acontecido. Uma grande injustiça, para com alguém que tinha muito ainda a brilhar. Praticamente toda a música popular brasileira esteve em estado de choque ontem, está de luto hoje”, diz a matéria principal do Estadão daquele dia. O corpo dela foi velado no Teatro Bandeirantes, em São Paulo, palco de um dos mais consagrados espetáculos de sua carreira, “Falso Brilhante”. E seu último show havia ocorrido em 1981, “Trem Azul”.

Aliás, esse tradicional jornal paulistano dedicou duas páginas inteiras para Elis, com textos sobre sua morte, discografia, depoimentos, velório e trajetória.

Em um deles, o pesquisador Zuza Homem de Mello – uma das grandes referências do meio musical, falecido em 2020 – lamentava a partida da cantora. “…E é com o coração cheio de dor que se anuncia, agora, que haverá silêncio. Ninguém substituirá Elis Regina na Música Popular”.

Em outro, sem assinatura, evidenciava-se a forma como a intérprete revelou novos nomes da composição: Gilberto Gil, Milton Nascimento, João Bosco, Raimundo Fagner, Edu Lobo, Belchior, Aldir Blanc, Renato Teixeira, Tunai.

Mas o fato mais pitoresco de toda a reportagem é a menção a um tal Edson Arantes do Nascimento, também gravado pela Pimentinha. “Eu adoro Pelé. Quis ser gentil com ele, gravando uma música de sua autoria. Pelé para mim é Dico, um grande amigo. E quando um amigo importante pede uma coisa sem importância, a gente faz correndo”, disse a cantora.

Capa da Folha de 20 de janeiro de 1982 (Foto: Reprodução)

JORNAIS
Já a Folha de S.Paulo, de 20 de janeiro de 1982, que deu capa com a foto da cantora no caixão, abria o caderno Ilustrada com a reportagem “Elis, o adeus à batucada da vida”, que destacava as informações ainda obscuras sobre a causa da morte. “A cantora Elis Regina, de 36 anos, morreu na manhã de ontem de parada cardíaca por causa ‘indeterminada’, conforme a declaração de óbito nº 026010”. Somente no dia seguinte seria possível saber a “causa mortis”.

A página ainda reunia um texto sobre o enterro, marcado para esse dia 20, e outros assinados pelo jornalista Ricardo Kotscho e o diretor teatral Flávio Rangel.

E o carioca O Globo também destacou a morte na capa de sua edição do mesmo dia. Na página intitulada “Elis Regina”, em letras garrafais, esse diário separou uma página inteira para o assunto. Uma das matérias se chamava “O silêncio da voz vibrante de uma das maiores cantoras do Brasil”.

Em outra página do Globo, mais reportagens e depoimentos sobre a Pimentinha. O jornalista e pesquisador Sérgio Cabral (pai do ex-governador do Rio de Janeiro) destacou o talento da cantora, que aliava técnica e emoção. “A carreira de Elis Regina caracterizou-se pela busca da perfeição”, lamentando que “foi cortada a carreira de uma intérprete que ainda não havia desenvolvido inteiramente o seu talento”.

Elis é intérprete de inúmeros sucessos, entre eles “Águas de março”, com Tom Jobim, “Como nossos pais” e “O bêbado e o equilibrista” (Foto: Reprodução)

TRAJETÓRIA
Nascida em 1945, Elis Regina revolucionou a música e deixou a sua belíssima voz marcada na bossa nova, na MPB e em tantos outros gêneros musicais. Elis é intérprete de inúmeros sucessos, entre eles “Águas de março”, com Tom Jobim, “Como nossos pais” e “O bêbado e o equilibrista”.

Elis se inspirou bastante nos cantores de rádio da sua época e começou sua carreira ainda na adolescência. No entanto, foi nos grandes festivais de música dos anos de 1960, transmitidos pela televisão, que ela apresentou a extensão de sua voz e a sua dramaticidade enquanto cantava. O seu gestual, enquanto se apresentava, é um traço marcante de suas performances.

A Pimentinha chegou a ter uma projeção internacional: foi comparada a Ella Fitzgerald, a cantora que ficou eternizada pela potência de sua voz. Foram quatro milhões de discos vendidos em 18 anos de carreira. Elis Regina faleceu no auge de sua carreira, no ano de 1982, aos 36 anos, vítima de uma parada cardíaca após consumo de álcool, drogas e medicamentos. Ela deixou três filhos e uma legião de admiradores.

**********Texto/Pesquisa: Cristiano Martinez, especial para o www.correiodocidadao.com.br

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