Encontro promove integração entre famílias de crianças com Síndrome de Down

Era para ontem (19) ser mais um domingo comum no Parque das Araucárias, em Guarapuava. O roteiro é quase padrão: sol, uma tarde para descansar e as famílias caminhando pelo ponto turístico da cidade. Se bem que tudo isso aconteceu, mas com uma felicidade e um sentimento de união singular a algumas famílias que não têm a menor preocupação de mostrar que seus filhos são crianças como quaisquer outras. A única diferença é que possuem 47 cromossomos no lugar dos 46 que comumente formam os indivíduos.

É isso. Foi um encontro de famílias com crianças com Síndrome de Down. A condição, que de modo geral mantém algumas características padrões, como os olhinhos puxados, a flacidez muscular e o desenvolvimento físico e mental um pouco mais lentos, ainda é tratada como um tabu por muitas famílias.

Luciane dos Santos Iark promoveu esse encontro junto com outros pais buscando unir as famílias. Para fazer uma confraternização entre os pais e para que as crianças possam se integrar. Ela gosta que a sua pequena filha Maria Eduarda, de seis anos, esteja onde as outras crianças estão.

As famílias geralmente não têm muito convívio. Então é para integrar mesmo, e simbolizar o Dia Internacional da Síndrome de Down, para que as crianças participem e se integrem na cidade. Para que as pessoas vejam que não existe nenhuma diferença delas para as outras crianças, conta.

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INTEGRAÇÃO NAS ESCOLAS
Ana Cláudia, mãe do Pedro Henrique, também de seis anos, pensa de forma semelhante. Para ela é importante que as famílias se conheçam, porque ainda sente uma demora no processo de inclusão das crianças com Down nas escolas, por exemplo.

Sua principal crítica é a falta de um professor auxiliar nas escolas públicas, para garantir um melhor desenvolvimento. A presença desse profissional, que garante uma atenção a mais para a criança especial, depende da aprovação do Projeto de Lei 8014/2010, que por enquanto está parado no Senado Federal.

Mas eu optei por colocar meu filho na escola regular porque ele precisa dessa socialização, do ensino com as crianças comuns, digamos assim. E ele tem isso. Vejo que os colegas aceitam bem, mas os professores ainda têm algumas dúvidas de como agir. Fica essa barreira entre a criança especial e a normal, explica.

Já a rede privada de educação garante um preparo e uma atenção maior às crianças especiais. Luciane conta que sua principal preocupação quando pôs a Maria Eduarda na escola regular foi com a socialização e a integração com os colegas. Havia o medo por não saber como as outras crianças iam tratar ela dentro da sala de aula. Com o tempo acabou passando, porque vi que todo mundo lidou muito bem com isso, relata.

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A simpática Lívia, de quatro anos, parece estar se dando tão bem quanto a Maria Eduarda na escola. Sua mãe, Flávia, garante que apesar de todo início de ano conversar com os professores para mostrar que a Síndrome de Down não é um bicho de sete cabeças, como ela mesmo diz, gosta do tratamento que sua filha tem recebido numa escola privada da cidade.

Tenho observado que eles incluem bem os alunos, os coleguinhas e até mesmo os pais conhecem a Lívia, então eu acho que é tranquilo. Eles estão tentando inserir e socializar dentro da sala. Às vezes eu deixo ela e fico um tempo olhando, e ela se enturma com as outras crianças muito rápido, relata.

APAE
A grande referência no atendimento às crianças com Síndrome de Down é a Apae (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais), que oferece tanto atendimento pedagógico quanto para a saúde das crianças com Down. Pedro Henrique, por exemplo, frequenta a instituição para ter acesso aos serviços de fisioterapia, psicologia, terapia ocupacional e fonoaudiologia.

Luciane também reconhece o trabalho desenvolvido pela Apae, que garante, através de profissionais capacitados, um melhor desenvolvimento para as crianças. Só tenho a agradecer, porque muita coisa a gente aprendeu lá. O desenvolvimento pessoal acontece todos os dias, conta Luciane.

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BARREIRAS
Eu tenho este ditado: a educação começa em casa e o preconceito também. Se o pai mantém esse preconceito dentro de casa, as crianças também vão ter, disse a mãe da Maria Eduarda quando questionada sobre como as outras pessoas lidam com a Síndrome de Down.

São barreiras que as famílias com pessoas portadoras da síndrome precisam encarar. Ana Cláudia explica que ainda sente que as crianças com Down ficam à margem. Parece que sempre estão do ladinho, brinca, se referindo à falta de inclusão nos parques e nos locais públicos.

Outra mãe, Emylaine de Paula Moraes, mãe do Nícolas, de apenas quatro meses, afirma que o preconceito é sim uma preocupação, mas que sempre vai doer mais na mãe. Eles não vão se sentir ofendidos, porque só têm amor para dar. Por enquanto ele é bebê, não sofre, mas eu tenho medo dele passar por isso no futuro, conta.

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A inclusão das crianças com Down nas escolas tem melhorado, de acordo com as mães, que só têm a agradecer pelos serviços de assistência que são prestados. São desafios superados todos os dias e um aprendizado que integra crianças, pais e profissionais da área da educação – sejam eles da rede pública ou privada de ensino – para no fim mostrar que o amor e o sorriso dessas crianças são a razão primeira e maior motivação das famílias – que são como quaisquer outras que caminham nos domingos, no Parque das Araucárias.

Texto/fotos: Redação