A próxima sessão de cinema

Ele voltou. Depois de meses fechado para reforma, o Cine Unicentro reinaugura nesta sexta-feira (29) com a exibição inédita do documentário 29 (dir. Carlos Alberto Machado). Localizada no campus Santa Cruz da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro), a tradicional sala retorna com uma novidade: um cinema aberto à comunidade e gratuito, com exibição semanal de filmes alternativos cujo objetivo é a formação cultural do público em Guarapuava.

Com exclusividade ao CORREIO, o diretor do campus Santa Cruz, professor Ademir Juracy Fanfa Ribas, conta que a revitalização da sala consumiu quase três anos no processo todo, tornando o antigo Cine Unicentro em um espaço cultural acessível a toda a comunidade guarapuavana, e não se restringindo somente ao público acadêmico.

Toda a reforma consumiu recursos na ordem de R$ 100 mil, que foram utilizados para troca de cadeiras, fiação e piso; além de implantação de nova pintura interna e conserto do teto. Na comparação com a antiga sala, a estrutura ficou muito melhor e confortável. Inclusive, com a instalação de um datashow específico para exibição em tela grande, diz.

De maneira geral, Ribas avalia que o cinema atende a práticas laboratoriais, de cursos de graduação como Comunicação e Arte-Educação; e a questões pedagógicas, no caso de professores que queiram utilizar o espaço para exibir filmes e vídeos, como já era feito antes da reforma. Claro, não saiu exatamente como nós queríamos, por conta de alguns pontos; mas acredito que ficou um local aconchegante e que contou com a colaboração de nossa equipe de funcionários.

Apesar de seu perfil pedagógico e laboratorial, o Cine Unicentro se mantém, na essência, como um espaço alternativo de cinema, com o foco em filmes que não são programados no circuito comercial local. Ou seja, a preocupação não é competir com o mercado exibidor estabelecido em Guarapuava.

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O diretor e a vice do campus destacaram o trabalho coletivo junto à comunidade para reativar a sala

O diretor do campus conta que, logo que ele assumiu seu primeiro mandato, foi procurado por um grupo de professores do curso de Comunicação da universidade, que apresentou um projeto de reforma da sala. Em conversas com a sociedade e pensando nos cursos ligados às artes, a direção encampou a ideia de ter um espaço com perfil de cinema no campus.

CINEMA COMUNITÁRIO
O grande diferencial da nova fase do Cine Unicentro é o aprofundamento de sua relação cultural com a comunidade de toda a cidade e região. Ribas conta que professores e funcionários do campus foram convidados para conversar sobre os rumos da sala, estabelecendo uma espécie de conselho consultivo.

Não queria que as decisões ficassem apenas sob a responsabilidade da direção do campus, formada por mim e a professora Cris Lima, afirma o diretor.

Depois de definidas questões mais pontuais (cor das poltronas, teto etc.), Ribas explica que o professor Francismar Formentão (do Departamento de Comunicação Social) sugeriu que a sala fosse aberta à sociedade local, tornando-se um espaço alternativo e exibindo filmes com foco na formação de público. No passado, o Cine Unicentro foi um espaço comercial. Mas a ideia agora é outra, com sessões uma vez por semana de produções autorizadas para sua difusão, afirma o diretor, destacando que o mais importante é integrar o cinema a toda a sociedade guarapuavana. A cidade ganha mais uma sala de cinema, aberta à comunidade acadêmica e à população em geral.

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PROGRAMAÇÃO
Liderado pelo professor Formentão, o conselho consultivo é formado atualmente por profissionais da Unicentro (professores) e membros da comunidade, com parcerias estabelecidas com o Sesc Guarapuava e o jornal Correio do Cidadão, por exemplo. A ideia é de que um espaço desses, que contou com o esforço de várias pessoas, pudesse ser democratizado junto à sociedade, afirma Ribas.

A programação do Cine Unicentro começa a funcionar na primeira semana de maio, com sessões gratuitas às quintas-feiras de filmes escolhidos e definidos pelo conselho consultivo. A princípio, a ideia é de que as sessões tenham espaço para debate entre especialistas na área e o público presente, possibilitando a formação de uma cultura cinéfila e o conhecimento de produções diversificadas.

Para o professor de Pedagogia e cineasta Carlos Alberto Machado, o debate é um momento de aprendizado, despertando reflexões e pontes com a realidade a partir daquilo que foi exibido na telona. A gente tem de aproveitar o Cine Unicentro, que é um espaço maravilhoso e provavelmente o único em todo o Paraná, explicando que não conhece outras universidades públicas no Estado que tenham uma sala exclusiva de cinema.

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Além das exibições semanais, haverá também espaço para mostras temáticas mais extensivas e que podem privilegiar a cinematografia de algum diretor. É o caso, por exemplo, de Orson Welles, possível nome em maio.

Não vamos passar, por exemplo, ‘Batman vs. Superman’, um longa-metragem típico do circuito comercial. Nosso objetivo é despertar a criticidade em relação à arte, sem qualquer tipo de pregação de ideologias, diz Ribas, reforçando que o papel da universidade é trazer a sociedade para o debate.

ESTREIA
Para marcar o evento de reinauguração do Cine Unicentro, a direção do campus programou a exibição inédita do documentário 29, logo após a cerimônia oficial (às 19h30), com entrada franca. Inclusive, o filme produzido e dirigido pelo professor Carlos Alberto Machado é uma obra recém-finalizada e que trata do Massacre de 29 de abril, uma terrível mancha na educação paranaense que completa exatamente um ano nesta sexta-feira.

O professor Machado, que é um entusiasta do cinema, contou que tinha rodado um filme sobre o ‘29 de abril’, que é um dia de luto para toda a educação paranaense, diz Ribas, referindo-se aos acontecimentos da Praça Nossa Senhora da Salete, em Curitiba, onde educadores protestavam contra a tramitação de um projeto na Assembleia Legislativa do Paraná, em 29 de abril de 2015. Milhares de manifestantes foram vítimas da violência policial.

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O professor e diretor Carlos Alberto Machado

Segundo o diretor do campus, a ideia era aproveitar o documentário de Machado para reinaugurar o cinema, justamente na data alusiva ao Massacre. São duas questões marcantes: a entrega do cinema à cidade e o fato que nos envergonha no Paraná.

O diretor de 29 diz que ficou bastante feliz e honrado com o convite para estrear seu documentário na nova sala. Só estou preocupado se vai caber todo o mundo na sala, citando a capacidade de quase 90 lugares do cinema.

COLETIVIDADE
O diretor do campus destaca que a marca da reinauguração do cinema é uma participação coletiva. Desde que eu e a professora Cris nos colocamos à disposição da comunidade para mais um mandato no campus, nossa grande tese era de que as pessoas participassem da universidade.

Segundo ele, a sala de cinema surgiu da opinião das pessoas e da participação da comunidade externa. Além do espaço laboratorial e pedagógico, nós ganhamos com o cinema um novo modelo de participação, que envolve a discussão coletiva junto à sociedade sobre as ações do campus Santa Cruz.

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SERVIÇO
Reinauguração do Cine Unicentro
Sexta-feira (29), às 19h30
Estreia nacional de 29
Entrada franca
Campus Santa Cruz
Rua Padre Salvador Renna, 875, Santa Cruz
Guarapuava

Texto e fotos: Cristiano Martinez

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