SUS vai disponibilizar medicamento de alto custo para tratamento de fibrose cística

Remédio tem preço médio de R$ 34 mil por caixa; medida pode beneficiar cerca de 1.700 pacientes e reduzir fila de transplante pulmonar

O Ministério da Saúde incorporou ao SUS (Sistema Único de Saúde) o medicamento Trikafta, usado para tratamentos de fibrose cística. O remédio é importado, tem aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o preço médio é de R$ 34 mil a caixa com 28 comprimidos. Cada caixa equivale a um mês de tratamento. Cada paciente precisa de 13 caixas por ano.

A portaria que estabeleceu a inclusão do Trikafta no rol de itens ofertados gratuitamente pelo SUS foi assinada pelo Secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Complexo da Saúde, Carlos. A. Grabois Gadelha.

O Trikafta é uma combinação de três fármacos [o elexacaftor, tezacaftor e o ivacaftor] e já recebeu recomendação favorável da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). O prazo para disponibilização no SUS é de 180 dias, a partir da publicação da portaria no Diário Oficial da União. A estimativa é que cerca de 1.700 pacientes que tenham indicação ao uso do medicamento consigam obtê-lo gratuitamente.

“A inclusão desse fármaco, de alto custo, no SUS é de fundamental importância. Isso vai ajudar muitas pessoas que sofrem com a doença e dar a elas mais qualidade de vida”, explica Jannaina Ferreira de Melo Vasco, biomédica, membro da diretoria do Conselho Regional de Biomedicina do Paraná 6ª Região (CRBM6), doutoranda em Saúde da Criança e do Adolescente e pesquisadora em temas relacionadas à fibrose cística.

A fibrose cística é uma doença causada pela mutação do gene CFTR (cystic fibrosis transmembrane conductance regulator) que impede a troca de fluidos entre as células e faz com que toda a secreção do organismo seja mais espessa do que o normal, dificultando sua eliminação.

De forma geral, isso desencadeia alterações nos sistemas respiratório, digestivo e reprodutor. Entre os sintomas mais comuns estão a tosse crônica, pneumonia de repetição, diarreia, pólipos nasais, baqueteamento digital, suor mais salgado do que o normal e dificuldade em ganhar peso e altura. Se não tratada, a patologia diminui a qualidade de vida do paciente e pode levar à morte.

EFICÁCIA

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento com o Trikafta melhora a função pulmonar e o estado nutricional, pode reduzir as internações hospitalares e retirar pacientes da fila de transplantes. Outros benefícios do medicamento é que ele atua na causa base do problema, normaliza a produção e eliminação do muco das vias respiratórias, diminui a inflamação, exacerbações e infecções recorrentes e melhora a função pulmonar.

TRATAMENTO

Apesar de não ter cura, a fibrose cística tem tratamento. Na maioria dos casos envolve o uso de medicamentos, enzimas pancreáticas, vitaminas, suporte nutricional, realização de fisioterapia respiratória, inalações, prática regular de atividades físicas e acompanhamento multidisciplinar frequente.

Todo o tratamento deve ter acompanhamento médico especializado e varia de acordo com a gravidade da doença e com a forma como ela se manifesta. Conforme a doença progride, há perda da capacidade pulmonar, maior risco de diabetes, osteoporose e hemoptise (tosse com sangue) mais frequente.

Na última década, os pacientes com fibrose cística tiveram melhora significativa na saúde e qualidade de vida. “Isso foi possível graças ao crescente aperfeiçoamento na área da engenharia genética, que possibilitou tanto o avanço no diagnóstico – com a possibilidade de realização do exame genético que auxiliou na classificação das mutações – quanto os progressos no tratamento”, ressalta a biomédica Jannaina.

SUS

O SUS conta com uma rede estruturada que permite rastreamento, diagnóstico precoce, monitoramento e assistência aos pacientes de fibrose cística, sendo 75% deles menores de 18 anos de idade, dada a mortalidade precoce dos acometidos pela doença no Brasil.

A doença é considerada rara, com uma prevalência estimada em 1 a cada 10 mil nascidos vivos no país. Por se tratar de uma condição genética, acompanha o paciente desde o nascimento e não é adquirida ao longo da vida.