‘Maria da Penha nas Escolas’ pode se tornar lei em Guarapuava

Em cerimônia alusiva aos 13 anos da Lei Maria da Penha, o Florescer exibiu o material produzido nas escolas e a Prefeitura apresentou o Projeto de Lei que institui o Programa Educacional de Prevenção à Violência contra as mulheres

As políticas públicas e os projetos no combate à violência contra a mulher em Guarapuava preparam o terreno para futuramente colher os frutos.

Um dos focos de trabalho está nas escolas municipais. Como diz a professora universitária Ariane Pereira, é preciso que as crianças deixem de naturalizar a violência praticada contra as mulheres. É por isso que a gente diz que esses botões [as crianças], ao invés de murcharem, eles passem a florescer, numa analogia ao nome do Florescer, projeto de extensão coordenado por Pereira no âmbito da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro).

Nesta quarta-feira (7 agosto), a sala de cinema do campus Santa Cruz foi palco de apresentação dos produtos desenvolvidos pelos alunos do 3° ano da Escola Municipal Dalila Haenisch Teixeira. Essa instituição recebeu atividades do projeto Lei Maria da Penha nas Escolas.

Aliás, a cerimônia comemorou os 13 anos da legislação e marcou também a apresentação do Projeto de Lei que institui o Programa Educacional de Prevenção à Violência contra as mulheres à Câmara Municipal de Guarapuava.

Em entrevista ao CORREIO, Pereira explica que o Maria da Penha nas Escolas é uma ação coordenada pela Secretaria de Políticas Públicas para Mulheres, com a parceria do Centro Universitário Campo Real (projeto Restaurar) e da Unicentro (por meio de dois projetos de extensão: o Florescer e o Numape).

Segundo a coordenadora, a iniciativa tem como base a prevenção, que é trabalhada desde cedo junto às crianças. Ele [projeto] vai para dentro das escolas, falar com a comunidade escolar, acrescentando que a conversa entre o Florescer e os alunos é feita a partir de oficinas educomunicativas, abrangendo conteúdos como os Direitos Humanos.

A partir disso, desse conhecimento delas como cidadãs, a gente passa a falar de igualdade e equidade, destacando que a Lei Maria da Penha é vista como uma política de promoção de equidade em uma sociedade carente disso. Porque enquanto a gente tiver violência contra a mulher e a mulher for inferior ao homem, culturalmente na nossa sociedade e nas nossas famílias, a gente não pode dizer que tem igualdade.

Em seguida, o projeto trabalha com informações técnicas para que as crianças produzam conteúdo próprio na área da comunicação, tais como vídeos e telejornais.

Desde que o Maria da Penha nas Escolas entrou em atividade ao final de 2018, cerca de 250 crianças foram atendidas nas instituições participantes. E tem mais 200 alunos agendados.

A professora universitária Ariane Pereira é coordenadora do Florescer (Foto: Cristiano Martinez/Correio)

PL

Com a presença do prefeito de Guarapuava, Cesar Silvestri Filho, e do presidente da Câmara de Vereadores, João Napoleão, a cerimônia no campus Santa Cruz da Unicentro também apresentou o PL que institui o Maria da Penha nas Escolas.

Segundo a secretária municipal de Políticas Públicas para Mulheres, Priscila Schran, o PL inicia seu trâmite na Câmara com expectativa de sanção do prefeito já neste mês de agosto. O que a gente está construindo aqui é uma nova cidade, destacando que é um horizonte com base na equidade e no respeito, com plenos direitos para meninos e meninas, homens e mulheres.

Nesse sentido, Schran lembra que as ações de política pública na famosa terra do lobo bravo são em prol de uma cultura de equidade e não-violência, rejeitando a ideia de que a mulher pertence a alguém ou é um objeto.

Para o prefeito Cesar Filho, a grande virtude do PL é perenizar um programa, com maior previsão orçamentária e organização do sistema. Para evitar também que qualquer mudança no ambiente político do município promova a interrupção dessa proposta, enfatizando que o Maria da Penha nas Escolas utiliza a educação como instrumento para reduzir a desigualdade de gênero na cidade.

Vídeos produzidos pelos alunos foram exibidos no cinema da Unicentro (Foto: Cristiano Martinez/Correio)

RESULTADOS

A professora Ariane Pereira destaca que os resultados do Maria da Penha nas Escolas são extremamente favoráveis.

No bairro Boqueirão, por exemplo, onde o Florescer e o programa Mulher Alerta atuaram simultaneamente, Pereira informa que a demanda junto à Secretaria das Mulheres registrou aumento de 40%.

Segundo a coordenadora, as crianças atendidas pelo Florescer entendem e reconhecem o que está errado em casa, incentivando suas mães a procurarem ajuda nos casos de violência doméstica.

E, para o reitor da Unicentro, Osmar Ambrósio de Souza, esse é um projeto importante de interação da universidade com a sociedade. Professores sensíveis à causa se colocam à disposição, com o apoio da Unicentro, em desenvolver ações em prol da mulher agredida.