Livro inédito aborda a fase áurea dos gibis de Os Trapalhões

Como milhões de brasileiros, Rafael Spaca se divertiu na infância com Os Trapalhões. Na TV, no cinema ou numa banca de jornal, o quarteto formado por Didi, Dedé, Mussum e Zacarias arrancava fácil o riso de crianças e adultos com suas confusões simples, iconoclastas e mambembes. Eram os heróis de muita gente.

Hoje Spaca tem 36 anos de idade. Virou roteirista, editor e escritor. Inclusive, nos últimos anos tem se tornado um especialista em Trapalhões. Depois de publicar o elogiado O Cinema dos Trapalhões, por quem fez e por quem viu (2016), ele prepara o lançamento do inédito As HQs dos Trapalhões, que deve chegar ao mercado neste semestre.

Produzido pela editora paranaense Estronho, sob o comando de Marcelo Amado, o novo livro trata exclusivamente dos gibis estrelados pela trupe trapalhônica em décadas passadas.

Em entrevista ao CORREIO, Spaca explica que essas séries em quadrinhos foram publicadas com grande sucesso por editoras como Bloch, Abril e Escala, durante mais de 20 anos. Os gibis eram um sucesso, eles circularam em uma época de ouro da produção e do consumo de gibis. Pessoas, de todas as idades, ávidas em ler. No mercado interno eles só perdiam para a Turma da Mônica em número de vendas, diz o escritor.

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Fase na editora Bloch (Acervo Pessoal/Lozandres Braga)

Além de um texto exclusivo de Dedé Santana (ao lado de Renato Aragão, um dos remanescentes do grupo), o livro inédito dá voz aos profissionais que ajudaram a construir essa história de sucesso nas HQs dos Trapalhões. Spaca entrevistou roteiristas, letristas, desenhistas, coloristas, revisores etc. É uma homenagem não só ao grupo, mas a todos estes profissionais que normalmente ficam invisíveis aos olhos da massa.

A seguir, confira os principais trechos da entrevista com o autor.

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Como surgiu o projeto do livro As HQs dos Trapalhões? É um desdobramento de O Cinema dos Trapalhões, por quem fez e por quem viu (2016)?
É sim um desdobramento da minha pesquisa anterior. Depois do cinema, quis abordar outra plataforma de comunicação que o grupo transitou: as histórias em quadrinhos. Ainda há muito o pesquisar a respeito dos Trapalhões.

Pelo pouco que sei, o novo livro vai ter entrevistas com desenhistas e roteiristas que trabalharam nas revistas dos Trapalhões.
Consegui localizar profissionais que trabalharam nas HQs dos Trapalhões no período da editora Bloch e da editora Abril. Entrevistei Agata Desmond, Alexandre Silva, Aparecido Norberto Fernandes (Cidão), Arthur Garcia, Bira Dantas, Carlos Cárcamo, César Sandoval, Denise Ortega, Edde Wagner Aguiar Jr., Eduardo Vetillo, Fabio Moraes, Fernando Arcon, Franco de Rosa, Gerson Luiz Teixeira, Gustavo Machado, Jaime Podavin, Lucia Nobrega, Luiz Podavin, Marcelo Cassaro, Moacir Torres, Paulo Borges, Primaggio Mantovi, Rogério Soud, Taô Barbosa, Vera Ayres e Watson Portela. Ao todo são 26 depoimentos. O livro conta ainda com textos de Gonçalo Júnior, José Alberto Lovetro e Marcus Ramone.

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Capa provisória do livro que deve ser lançado neste semestre pela Estronho (Divulgação)

A edição terá textos de Dedé Santana e Renato Aragão, correto? Você também os entrevistou?
Garantido mesmo é o texto do Dedé Santana. Quero colocar o depoimento dele na quarta-capa do livro, prestando assim uma justa homenagem a este grande gênio do humor no Brasil. Quanto ao Renato Aragão, estou tendo dificuldade em obter seu depoimento. Algumas pessoas que o cercam pensam que estou ganhando dinheiro (ficando rico) com as minhas pesquisas, com os livros lançados e assim, me impedindo de falar com ele. Só quem escreve e pesquisa sabe como conseguimos sobreviver nessa área. Lamento muito que estas pessoas pensem assim, que não conheçam a realidade brasileira e não valorizem a memória.

Além do texto, o leitor também terá bastante material gráfico, com reproduções de páginas dos gibis dos Trapalhões? Alguma arte exclusiva para a obra?
Iremos colocar algumas capas dos gibis publicados pelas editoras Bloch, Abril e Escala. Originais também serão publicados e, graças à generosidade do Gustavo Machado (desenhista das HQs dos Trapalhões na editora Abril), publicaremos uma história inédita no livro. Essa história foi escrita em 1994 e até hoje não tinha sido publicada.

Como Os Trapalhões iniciaram o projeto de gibis, já que eles eram mais afeitos com o cinema e a TV?
Os gibis foram lançados numa fase de ouro da produção e do consumo de HQs nacionais. Os Trapalhões eram muito populares e as editoras aproveitaram esse sucesso para emplacar muitos produtos, inclusive os gibis. Era uma forma também do grupo se divulgar, expandir sua marca e conquistar novos fãs.

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Página de uma das aventuras nos quadrinhos (Acervo Pessoal/Rafael Spaca)

Em uma entrevista para o jornal Correio Braziliense, você comentou sobre a diferença de estilo de humor em duas fases de publicação das HQs: Bloch e Abril. Essa mudança tem a ver com o programa na TV, que foi ficando mais inocente e bobo nos anos finais?
As HQs dos Trapalhões na editora Bloch tinham mais a ver com o grupo, ela era irônica, corrosiva, iconoclasta. A ideia de transformar os Trapalhões em crianças, na fase da editora Abril, foi do artista César Sandoval que, além das questões artísticas (ter como principal leitor as crianças), pensou também no marketing, focando na estratégia de licenciamento de produtos (tênis, camisetas etc.) usando esses personagens. Deu certo, fez sucesso nas bancas e nos negócios.

Falando um pouco sobre cinema, o que você acha da tentativa de reboot (ou remake) do filme Os Saltimbancos Trapalhões? A dupla Didi e Dedé ainda tem espaço no mercado de humor atual?
Claro! Eles são geniais, e o tipo de humor que eles fazem nunca sairá de moda. O Chico Anysio tem uma frase célebre: existem dois tipos de humor, o engraçado e o sem graça.
Os Trapalhões são engraçados.

AUTOR
Com formação em Rádio, TV e Multimídia e pós-graduação em Teorias e Práticas da Comunicação, Rafael Spaca atua como roteirista, escritor e pesquisador. Ele trabalhou na produtora O2 Filmes como assistente de produção (nos Estúdios de Cotia) e lançou em 2015 três livros: Conversações com R.F.Lucchetti, pela editora Verve (RJ); Vanessa Alves – coletânea de Imagens e Palavras e o infantil O Pum do Bumbum, ambos pela editora Laços.

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Spaca no traço de Bira Dantas (Acervo Pessoal/Rafael Spaca)

Em 2016, Spaca lançou O Cinema dos Trapalhões, por quem fez e por quem viu. Este livro ganhou desdobramento e virou uma série produzida pela TV Cidade. Recentemente, o autor produziu o curta-metragem R.F.Lucchetti – A Multiplicidade da Linguagem.

Para saber mais sobre o trabalho de Spaca, acesse seu canal no YouTube.

Texto: Cristiano Martinez
Foto (capa): Montagem/Acervo Pessoal/Carlos Cárcamo