Na quadra: a história de superação do paratleta guarapuavano Geriel Batista

O esporte foi a saída para Geriel (26 anos) voltar a ter uma vida ativa após um acidente de trânsito em que perdeu o movimento das pernas; conheça essa trajetória

O esporte sempre esteve presente na vida do jovem Geriel Batista (26 anos). Morador do bairro Residencial 2000, ele é estudante de Ciências Contábeis e hoje, paratleta, ou seja, é um atleta portador de deficiência. No caso dele, ocasionada por um acidente de trânsito. 

Antes de esta fatalidade acontecer, ele fazia corrida de rua e chegou a disputar diversos campeonatos, inclusive a nível nacional. Em entrevista ao CORREIO para este especial, ele conta sua trajetória, dificuldades e como superou esses desafios. 

O talento para o esporte sempre garantiu a ele excelentes colocações nas categorias que disputava. “Comecei a correr por Guarapuava, fui embora para Campo Mourão onde eu participei do meu primeiro brasileiro. Depois me mudei para Londrina onde fiquei dois anos representando a cidade, daí acabei voltando pra Guarapuava”, conta. 

Orgulhoso, ele diz que no momento em que retornou à terra natal, continuou disputando corridas, chegando a ficar entre os três melhores tempos do país.

ACIDENTE

Um momento difícil de lembrar. É assim que o guarapuavano descreve o dia em que ele e a esposa Luana sofreram um acidente, em outubro de 2014. De acordo com Geriel, os dois estavam em uma moto quando foram atropelados por um carro.

O resultado foi uma grave fratura na coluna que o deixou paraplégico. “Eu tenho 17 pinos na coluna. Durante um ano eu não consegui fazer nenhum tipo de atividade, a não ser fisioterapia. Na verdade, o primeiro mês para você aceitar é difícil”, explica.

Logo ele sentiu que a vida iria mudar totalmente e que muitas dificuldades viriam pela frente. Atividades simples do dia a dia como ir ao banheiro ou tomar água, se tornaram complexas para o jovem, que passou a depender de outras pessoas e a aprender como retomar a vida. 

Ele lembra como foi a reação ao acordar depois de cinco dias no hospital e ser informado sobre o que tinha acontecido. 

“Você receber a notícia de que não vai ter os movimentos do peito para baixo, ficou paraplégico… na verdade eu senti mais a notícia do que o acidente. Na verdade, você aprende a viver novamente”, relata, e logo em seguida fala sorridente que está bem. 

SUPERAÇÃO

Durante o período de recuperação, cerca de um ano, Geriel teve que abandonar qualquer possibilidade de pensar em atividades esportivas. Mas, nesse período ele começou a receber convites do time de basquete em cadeira de rodas de Guarapuava. 

A equipe, sabendo da ligação que ele tinha com o esporte, o incentivou a participar. Inicialmente, ele foi acompanhar os treinos e desde então já participou de diversos campeonatos.

“O seu Ailton [jogador do time] veio me buscar em casa, a primeira vez que eu saí de casa sem ser na ambulância foi com o seu Ailton. Ele me levou para ver como funciona, tinha uma competição aqui em Guarapuava, eu fui lá e fiquei com eles”, conta.

A oportunidade de conhecer e conviver com essas pessoas, com dificuldades parecidas e histórias de superação, foi uma luz no fim do túnel para Geriel. “A troca de experiência com o pessoal foi a coisa mais gratificante que eu já tive. São dez, 12 atletas, cada um com uma história de vida”. Ele reitera ainda que aprendeu como enfrentar algumas situações a partir das dicas dadas pelos jogadores. 

Ao falar sobre o quanto essas pessoas o ajudaram, ele resume dizendo que o esporte é vida e que jogar e conviver com todos o ajudou a trabalhar o psicológico e evoluir.

Infelizmente, o esporte ainda não dá retorno financeiro, e ele admite que hoje encara como um hobby. Mas, ao ser perguntado sobre este tema, Geriel se mostra um grande conhecedor das equipes adversárias, comentando sobre a estrutura e os atletas. Ele confirma que o time guarapuavano recebe incentivo da Prefeitura e que a verba é destinada para a compra de equipamento e no custeio de viagens para jogos.

MAIS ESPORTE

Ao chegar na casa de Geriel, logo na entrada vemos as cadeiras adaptadas para o atleta. Aliás, elas custam caro, mas explica que dão segurança durante as disputas. Ele garante que o corpo fica completamente preso ao equipamento, evitando que haja uma queda que poderia ocasionar novas fraturas.

E, agora, o paratleta está se aventurando em mais de uma modalidade e tem conseguido bons resultados. No início deste ano, o CORREIO conversou com ele durante uma corrida noturna em prol do Hospital São Vicente de Paulo. 

Na ocasião, o rapaz disputou com uma handbike, que é um veículo de propulsão humana, onde os braços são usados para dar impulsão, assim como os pés, para pedalar. 

“Participo do handbike, também participei do Parajaps, que é o paradesporto do Paraná”, diz. Os Jogos Abertos Paradesportivos do Paraná recebem atletas de alto rendimento.

Atualmente, ele e os outros que participam do time de basquete estão sem treinar. A equipe utiliza uma quadra do campus Cedeteg da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro) e, devido à pandemia, ela foi fechada. Os campeonatos de 2020 também foram cancelados e agora a expectativa é para o retorno no ano que vem.

DICA

Essa mudança na vida do paratleta teve participação de pessoas que vivem uma realidade parecida com a dele. E, seguindo o exemplo desses incentivadores, o jovem recomenda o esporte como um remédio para quem está em uma situação parecida com a qual ele passou.

“No meu ponto de vista, você fazendo esporte tua vida vai mudar independentemente de modalidade. No começo não é fácil, você vai sentir dificuldade, vai sentir até vontade de desistir. Mas eu recomendo muito porque para mim foi o melhor remédio que tive. Se eu não estivesse no esporte, eu teria entrado em depressão”, finaliza.

*****Daiara Souza, especial para CORREIO

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